'Chega de tristeza. É hora de alegria e coragem', disse a viúva Renata Campos
CAIO BARBOSA
Pernambuco - A despedida dos pernambucanos ao ex-governador Eduardo Campos, morto num desastre aéreo na última quarta-feira, em Santos (SP) levou uma multidão às ruas do Recife. Não seria exagero dizer que trouxe Pernambuco para as ruas da capital, tamanha a quantidade de gente que acompanhou o funeral, seja no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, no Cemitério Santo Amaro, ou nas janelas e calçadas por onde o cortejo passou desde a chegada do corpo à cidade, na madrugada deste domingo.
José, de 9 anos, abraça caixão do paiFoto: ReutersAs presenças das principais autoridades do país, como a presidenta Dilma Rousseff e um séquito de ministros, o ex-presidente Lula, o candidato a presidência Aécio Neves, prefeitos e governadores, bem como Marina Silva, que substituirá Eduardo Campos na chapa presidencial, marcaram a cerimônia. Mas o protagonismo ficou mesmo com a multidão, os rostos anônimos da capital e do sertão que deixaram suas casas e, sob sol, chuva e choro, se despediram do seu ex-governador."Vim do Crato, no Ceará, terra onde nasceu Miguel Arraes, para me despedir do neto dele. É como se eu estivesse falando com o véio. Quem é do povo não esquece o que essa gente fez", contou o lavrador Genésio de Lima, de 63 anos.Num momento histórico marcado pelo litígio do povo com a classe política, de descrédito nos homens públicos, a multidão que se despediu de Eduardo Campos parecia ensinar às autoridades presentes, muitas vindas em 63 aviões que desembarcaram no aeroporto do Recife. No olhar de todos, um misto de emoção e surpresa com a presença de tanta gente.Presidenta Dilma Roussef, Lula e outros políticos prestam
homenagem a CamposFoto: Reuters
Lula e Dilma, assim que chegaram, foram recebidos com vaias, logo abafados por aplausos. A reação dos populares mexeu com os dois, que expressaram nos rostos um pequeno constrangimento, que logo deu lugar à concentração no consolo à família de Eduardo Campos.
"Chega de tristeza. É hora de alegria e coragem", disse a viúva Renata Campos, dando um tom quase mítico ao funeral.
Viúva mostra força política e carisma na despedida
Figura central no funeral de Eduardo Campos, a viúva Renata Campos chamou a atenção de todos pela força na despedida ao marido, morto tragicamente. Mãe de cinco filhos, entre eles um bebê de seis meses, a quem volta e meia pegava no colo, ela deu a mesma atenção, fosse a presidenta da República, Dilma Rousseff, ou a qualquer um dos milhares de populares que foram dar adeus ao ex-governador de Pernambuco.
Cotadíssima para substituir o marido na corrida presidencial, como candidata a vice-presidente na chapa encabeçada agora por Marina Silva, então vice de Eduardo Campos, Renata vai deixar para segunda-feira o início das tratativas. Para os mais próximos, a tendência é que ela recuse o convite para cuidar dos filhos. O desafio de manter o legado do marido e o comando do PSB, no entanto, pode fazer com que ela mergulhe de cabeça na campanha ao lado de Marina Silva.
Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco,
segura o caçula MiguelFoto: Reuters
O presidente do PSB, Roberto Amaral, que assumiu o posto após a morte de Eduardo Campos, garantiu que o anúncio oficial da nova chapa será feito apenas na quarta-feira à tarde, em Brasília, após a reunião da executiva nacional do partido e da Missa de Sétimo Dia que será celebrada na capital.
Apesar de garantir que a decisão tomada coletivamente, ninguém acredita que o partido negará a legenda à Renata caso ela decida concorrer. A decisão, portanto, será dela. O único empecilho pode ser o cargo que ele ocupa no Tribunal de Contas do Estado, onde é funcionária concursada. Para concorrer, ela precisa estar licenciada, mas até este sábado ninguém sabia afirmar com precisão se a viúva estaria ou não impedida de disputar a eleição.
O Dia/Show Francisco