Presidente da Cooperativa falou à Revista Ururau sobre metas e expectativas para os próximos anos
Num momento em que várias usinas estão fechando no país, o presidente da Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), Frederico Paes, aposta na ousadia e no profissionalismo para revitalizar o setor sucroalcooleiro no Norte Fluminense. Segundo Paes, que é engenheiro agrônomo, produtor rural e também diretor do Hospital dos Plantadores de Cana (HPC), a abertura de uma nova sede, onde antes funcionava a Usina Sapucaia foi um passo importante para atingir a ambiciosa meta de triplicar a produção de etanol e açúcar na região. Em entrevista concedida à Revista Ururau, Frederico defendeu a criação de novos postos de trabalho e afirma que a subvenção para os produtores de cana deveria ser anual.
Como você enxerga a situação atual do setor sucroalcooleiro na região?
Frederico - Nós estamos vivendo uma situação antagônica. Nosso país está num momento de fechamento de usinas. Atualmente, 12 usinas estão fechando no estado de São Paulo, responsável por 80% da produção nacional. São 40 mil postos de trabalho sendo fechados no interior paulista. Nós estamos na contramão deste processo, apesar de todas as dificuldades. Estamos reabrindo a Usina Sapucaia, que é uma unidade importante na Região Norte Fluminense. Esta iniciativa é a maior prova de que acreditamos no setor.
Que investimentos estão sendo realizados para colocar a Usina Sapucaia em operação?
Frederico - Foram investidos mais R$ 12 milhões em parceria com nossos cooperados através de uma linha de financiamento junto à Caixa Econômica Federal. São 3.500 hectares já plantados. Até o final deste ano, serão 5.000 hectares plantados. A Caixa nos auxiliou nos investimentos na parte agrícola e tem sido uma parceira importante. A AgeRio [Agência Estadual de Fomento] nos auxiliou na compra de equipamentos para a colheita de cana crua. A Lei 569/2011 propõe que 50% da safra sejam de cana crua, mas nossa meta é 65%. Nós estamos gerando 700 novos postos de trabalho para a reativação da usina sem que ela esteja funcionando. São trabalhadores rurais que estão fazendo o plantio de cana e técnicos que estão reformando a parte industrial na usina.
Como é gerir duas usinas ao mesmo tempo?
Frederico - Nossa equipe está se desdobrando para que o nível de produtividade não seja prejudicado. A moagem não pode parar, assim como os trabalhos para colocar a Sapucaia em funcionamento. A verdade é que estamos realmente tocando duas usinas ao mesmo tempo, mas todos os nossos colaboradores estão de parabéns pela dedicação na produção aqui na Coagro e no compromisso profissional para a reativação da Sapucaia. A dificuldade nos ensina. Batalhamos e aprendemos muito ao longo das últimas 12 safras. Quando veio a Crise Mundial em 2008, já estávamos calejados. O setor já estava em crise, o açúcar e o etanol já estavam com o preço baixo no mercado internacional; portanto, não houve facilidades. Mas, de lá pra cá, vamos sobrevivendo, crescendo devagar e prontos para enfrentar os desafios.
Este ano, a Coagro planeja moer 800 mil toneladas de cana, produzindo 1,3 milhão de sacas de açúcar e 28 milhões de litros de etanol. Como manter esta expectativa, levando em conta variáveis como o clima, o preço baixo do açúcar e do álcool no mercado e a falta de recursos dos produtores para investir?
Frederico - Tendo em vista a crise no setor e a dificuldade em matéria prima, com certeza é uma boa expectativa, mas somos flexíveis quanto à produção de açúcar e álcool. A quantidade da produção vai depender do mercado. Diante da crise nacional do setor sucroalcooleiro, estamos mantendo um padrão razoável de produção; e isso é uma grande vitória. O produtor está descapitalizado, e uma das minhas grandes preocupações é a remuneração da cana-de-açúcar. Estamos trabalhando com o mesmo preço ruim há três anos, e hoje em dia não existe mais aquele produtor de antigamente que não fazia contas. Hoje ele é consciente, faz conta, se organiza, e isso é muito bom. Acho a palavra “subsídio” meio pesada, mas precisamos dele. A meu ver, o termo “equalização” representaria melhor a necessidade do produtor. Se o preço não alcançou o custo de produção, o governo deveria bancar a diferença desse valor. Isso deveria ser uma política de governo, porque da maneira que está o produtor não aguenta produzir. E se o produtor parar de produzir açúcar, para tudo. Não que a agricultura deva ter um tratamento diferenciado pelos governos, mas qualquer país que queira se desenvolver deve começar a desenvolver sua agricultura.
A Coagro se tornou a primeira usina antiga do estado do Rio a receber a Licença de Operação do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O que isto significou?
Frederico - Representou um grande orgulho. Este fato foi construído ao longo de alguns anos. Assinamos um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e o governo do estado, onde traçamos os problemas ambientais que deveríamos resolver para finalmente obter esta licença. Nós atendemos a 92 itens, com um investimento de R$ 6 milhões, e cumprimos. Fizemos mais do que nossa obrigação. É um marco histórico, algo muito marcante, um orgulho que eu compartilho com meus cooperados, colaboradores, funcionários e com a população de Campos e Norte Fluminense.
O que vem mudando desde que a Lei 569/2011 foi aprovada? Está havendo esforço para diminuir as queimadas?
Frederico - Sim, mas ainda existem pessoas que ainda não têm consciência e que continuam a fazer queimadas. Recentemente, convoquei a imprensa local para denunciar a queimada da palhada da cana cortada crua. Isto é um crime que precisamos combater. Entretanto, é muito bom ver que os produtores querem a colheita de cana crua, sem queima, porque já perceberam os benefícios que esta prática traz. Essa palhada conserva a unidade do solo, vira adubo e beneficia o plantio.
O que está sendo feito para que o setor sucroalcooleiro recupere sua força?
Frederico - Hoje não temos um preço competitivo e o produtor não consegue dinheiro suficiente para reinvestir na sua lavoura. Me perguntam se estamos de braços cruzados diante deste quadro, e eu digo que não. Estamos financiando o produtor com juros subsidiados pela Caixa Econômica Federal, mas isso não basta. A gente precisa ter uma política de preço mínimo que ao menos dê ao produtor condições de cobrir seu custo de produção. Enquanto não conseguirmos, fica difícil revitalizar o setor. O subsídio, apesar de uma conquista, é uma coisa pontual. Nós queremos uma política estável que garanta o preço mínimo. Se conseguirmos esta condição, tenho certeza de que Campos e região voltarão a prosperar com o setor. Posso afirmar que teríamos condições de nos aproximar da marca de 9 milhões de toneladas de cana processada.
Em 2011, a prefeita Rosinha Garotinho lançou o Novo Fundecana para revigorar e fortalecer o setor. O que mudou no campo?
Frederico - Foi um passo importante para voltarmos a plantar cana. O Fundecana veio suprir parte de nossas necessidades em investimentos. Na época, foram gerados, e mantidos, 300 empregos diretos. Os trabalhadores foram contratados porque começamos a plantar e não paramos mais. De lá pra cá, já plantamos mais de 6 mil hectares. Todo ano, vamos aumentando o plantio e acreditando que o cenário do setor vai se reverter. O Fundecana foi a salvação da lavoura.
Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória 635/13, acatando uma emenda do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), que concede subvenção aos produtores independentes de cana-de-açúcar do Nordeste e do estado do Rio de Janeiro afetados pela estiagem referente à safra 2012/2013. O que esta medida representa para Campos?
Frederico - A subvenção veio em um momento difícil para a gente. Para algumas pessoas, R$ 12 é uma quantia considerada baixa, mas quando se fala em tonelada de cana, é praticamente metade do que recebo em valor líquido. Depois de descontar o serviço de logística, do corte ao transporte, para chegar à indústria, o produtor ganha em torno de R$ 25 a R$ 30. Há muito tempo, o produtor do Nordeste do país recebe esta subvenção quase que no automático; nós não. Entendo que isto deveria ser uma via de regra, pois o governo tem como conferir e arcar com o custo de produção. Se o valor não bater, o governo arcaria com este prejuízo e liberaria automaticamente o valor do custo de produção para o produtor. É uma coisa normal. A aprovação veio em um momento que o produtor está descapitalizado, e torço para que o recurso seja liberado o mais rápido possível. Cerca de 4 mil famílias serão beneficiadas.
O município de Campos pode vir a assumir um papel de protagonista na produção de biocombustível no estado?
Frederico - O Estado do Rio de Janeiro importa 95% do etanol que consome. Isso é um absurdo. Estamos gerando empregos, impostos, renda e tudo que um setor produtivo possui em outros estados. O grande problema é que o governo brasileiro se esqueceu do etanol. Esta política de usar a Petrobras para segurar a inflação afeta a todos nós, e é a Agência Nacional do Petróleo (ANP) que detém o controle do nosso setor. É quase a mesma coisa que colocar o lobo para tomar conta do galinheiro. Como o mercado é livre, não há equalização ou subvenção, como existe no Nordeste, o produto é vendido pelo preço de mercado, que hoje se encontra travado. Eu acredito que a Região Norte Fluminense possa atender, sim, o consumo do estado do Rio. Sei que temos condições de atingir uma produção de 30%, mas tem que ter preço. Enquanto o preço da gasolina não subir, não teremos um preço competitivo para o etanol. É uma situação engessada, pois quem controla o preço da gasolina controla também o preço do etanol.
O senhor vê forças políticas do estado do Rio se posicionando com firmeza no enfrentamento desta questão?
Frederico - Existe um consenso entre as forças políticas regionais que o setor sucroalcooleiro é indispensável para a região. Independente de partidos e posicionamentos, nós conseguimos transmitir para vários segmentos políticos a ideia de que o setor é necessário e que o fim dele poderá vir a ser uma tragédia para a nossa região. Vejo esse consenso como uma evolução, apesar de achar que ainda há muito a ser feito. Posso dizer que, em relação à defesa do setor sucroalcooleiro, nossos representantes regionais eleitos entraram num consenso sobre a questão, e isso demonstra um amadurecimento. Só tenho a agradecer a todos eles, sejam da situação ou da oposição, pelo empenho prestado ao setor.
Ururau/Show Francisco
Carlos Grevi / Marcelo Esqueff