JÉSSICA FELIPE
No dia 22 de Agosto é comemorado o Dia do Folclore, conjunto de tradições e manifestações populares formado por lendas, mitos, provérbios, danças e costumes, que são passados de geração em geração. A palavra de origem inglesa, significa sabedoria popular. Foi por causa do lançamento desse termo, em 1846, que passou a ter esta comemoração. Em São João da Barra, a Escola Municipal Amaro de Souza Paes, localizada em Grussaí, está preparando uma festividade especial com essa temática, em uma proposta de desconstruir o senso comum sobre a questão e estimular alunos ao pertencimento local.
O professor de Artes, Clausner Martins, explica que a data comemorativa está inserida no plano pedagógico municipal e cada escola trabalha dentro das suas possibilidades, público e metodologias.
— Desde o início de agosto, estamos trabalhando com alunos do 6º ao 9º ano para o projeto da Culminância Folclórica. Uma festividade aberta ao público, que reunirá teatro, dança, desenhos, isogravuras, trava-línguas, e outras atividades de cunho multidisciplinar, com o objetivo de resgatar aspectos culturais, principalmente na nossa região — explica o também coordenador de Códigos e Linguagens da Secretaria Municipal de Educação e Cultura sanjoanense.
Os alunos envolvidos estão preparando uma atividade especial, a encenação do “Diálogo entre o Lobisomem e a moça bonita do mangue”, uma adaptação dos contos tradicionais com um ‘toque’ de cultura local. “Terá até aparição de E.T., conforme relatam os populares sanjoanenses”, diz o professor, que nasceu em outra cidade. Para criação do teatro, eles tiveram que pesquisar as lendas e fazer um trabalho de ilustração e escrita, que também serão expostos no dia do evento.
Clausner Martins contou um pouco da metodologia. “A lenda tem um certo motivo para existir, uma história/lição pra passar. Eu não gosto de dar o desenho pronto. Eu gosto que eles imaginem cada detalhe, para estimular a percepção e criação”, ressaltou.
Para o professor de Artes, o objetivo da proposta, já tem sido alcançado.
— Eu fico muito impressionado, ao perceber que muitas pessoas da região, não sabem das histórias de São João da Barra. Os alunos são muito curiosos e querem sempre saber mais. Por isso, é papel do educador é construir esses espaços de troca de conhecimento. A primeira coisa que as pessoas pensam em relação ao folclore, é sobre assombração. Precisamos desconstruir esse sentido limitado. Folclore tem a ver com cultura popular e cultura tem a ver com arte. Valores imateriais que precisam ser resgatados — considera Clausner Martins.
Lenda da moça bonita do mangue de Atafona
Em 2013, o Museu da Pessoa de São Paulo, esteve em São João da Barra para captar histórias orais e registrou o conto da moça bonita do mangue, através da entrevista de Dona Nelite Moreira, caranguejeira mais antiga de Atafona. Na ocasião, ela contou que a história trata de um casal de turistas que, acompanhado de um grupo, esteve no Pontal para um piquenique. Segundo a caranguejeira, o namorado levou a moça, que era muito bonita, para passear no mangue. Lá, ele a amarrou num tronco e retornou sozinho, enganando o grupo sobre o sumiço. “Ali ela se acabou, os bichos comeram. Ela morreu gritando. Colocaram o nome deste mangue, o mangue da moça bonita”.
De acordo com a história, a moça nunca foi achada e o tronco guarda segredos das aparições. “Naquela casca dava muito caranguejo, um dia estávamos lá, e quando olhamos pra dentro do oco da casca, nós vimos a cabeça dela e a canela. Corremos dentro desse mangue e nos arrebentamos todinhos”, contou dona Nelite. Ainda sobre os mistérios que rondam a história, pescadores afirmam que a moça era noiva e, por isso, vaga pelo manguezal vestida de branco. Sobre o possível motivo que levou o namorado à tal barbárie, muitos consideram: “a moça era muito bonita, muito mesmo e ele um bicho muito feio. Foi ciúme”.
Exposição sobre o folclore local
O Centro Cultural Narcisa Amália, em São João da Barra, está realizando através da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, uma exposição sobre o folclore. A abertura aconteceu na última sexta-feira e a programação segue até o próximo dia 31. Estão previstas atividades da cultura local e regional, como pau de fitas, capoeira, carnaval, frevo e espantalho, figuras que segundo o gerente de Educação e Cultura do município, Alcimar Mello, “dão um visual ao pátio do Centro Cultural”. Ele acrescenta, ainda, “teremos danças temáticas como a “Mulinha”, retratando seu Teófilo, Reisado e o grande folclore do Grufosan, e as lendas locais como: “O Padre da Capela de Santo Antônio” e “A noiva da Igreja da Boa Morte”.
— Muitos munícipes desconhecem essas histórias, devido ao vasto crescimento da informatização — ressalta Alcimar.
No dia 22, em especial, será realizado um Café Literário com o Grupo Antônio Roberto Fernandes e participação do historiador André Pinto.
Para a cidadã sanjoanense e animadora cultural, Tininha Amaral, atividades como essas, primam pelo desenvolvimento artístico e resgate cultural das tradições de São João da Barra.
— Reforço ainda a importância desse trabalho para os jovens talentos da localidade, que através da cultura recebem oportunidades e se destacam em outros cenários e em áreas intermunicipais — considera Tininha.