A expectativa era de que a beleza arquitetônica valorizada de modo a explorar o seu potencial turístico, mas revitalização foi interrompida
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ULLI MARQUESHá 9 anos, iniciavam-se as obras de revitalização do Centro de Campos, compromisso firmado no governo Rosinha Garotinho. A expectativa era de que a beleza arquitetônica da região fosse valorizada de modo a explorar o seu potencial turístico. Entre as intervenções estava a retirada dos postes para implantação de dutos de fiação subterrânea, o que permitiria melhor visibilidade dos belos prédios históricos localizados principalmente no Boulevard Francisco de Paula Carneiro (Calçadão).Contudo, essa mudança, que beneficiaria comerciantes e consumidores, ficou na promessa. Hoje, a Prefeitura está nas mãos do filho da ex-prefeita, Wladimir Garotinho, e ainda não há previsão para retomada dessa obra.O tema já foi debatido em diversas reportagens do Jornal Terceira Via que denunciavam o atraso, o desperdício da verba pública, a questão dos postes fixados nos pisos táteis para acessibilidade, da poluição visual e do perigo representado pelo emaranhado de fios. Desta vez, o Jornal os olhos para o patrimônio arquitetônico escondido por trás dessa fiação.
Tubulação | Projeto inacabado previa o aterramento da fiação elétrica no Centro (Fotos: Carlos Grevi)Arquitetura escondidaO Centro Histórico de Campos possui um conjunto de prédios que faz da cidade de Campos a segunda do país com mais construções de arquitetura eclética, movimento artístico que perdurou até as primeiras décadas do século XX. Isso pouca gente sabe. O motivo é que a visibilidade desses exemplares históricos é prejudicada pelos fios de energia elétrica, telefonia, TV, internet etc., além dos letreiros de lojas, grandes e não padronizados. Algo que cidades que valorizam sua história já superaram há tempos.Esta semana, o Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico do Município de Campos dos Goytacazes (Coppam) se reuniu para discutir essa, entre outras questões. A retirada dos letreiros e das marquises no Centro Histórico voltou à pauta, segundo o integrante do Conselho, o historiador Genilson Soares, que sugere que a Prefeitura firme um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com os comerciantes para que se adequem à estética dos prédios históricos. “Precisamos chamar os interessados para o diálogo e estipular prazos. Somente assim poderemos sonhar com um Centro Histórico que se preze”, disse.Em nota, a Prefeitura afirmou que o Coppam tem um programa de incentivo fiscal para estimular a preservação desses prédios de interesse histórico e cultural. Além disso, com base nesse programa, o Código Tributário do Municipal (LC 01/2017) art. 235 prevê a possibilidade da aplicação de percentuais de desconto que podem chegar a 80% sobre o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), observando as condições de originalidade, conservação e restauração das fachadas, cobertura, volumetria e paisagismo do imóvel.Vida noturna no CentroO diretor da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, Edvar Júnior, afirma que há anos a modernização do Centro não é discutida com as entidades de classe, mesmo que essa seja uma medida de grande importância para a economia do município. “Ao caminhar pelo Centro, temos de voltar nosso olhar para cima das marquises. Assim conseguimos ter uma ligeira ideia do potencial turístico dessa região. A arquitetura do nosso Centro é maravilhosa. Por que não exploramos esse patrimônio que já temos? Imagine se essa área fosse tomada de bares, restaurantes, música… Isso mudaria a cara da nossa cidade”, afirmou.A Associação de Comerciantes e Amigos da Rua João Pessoa e Adjacências (Carjopa) também se interessa por essa pauta. De acordo com o diretor, que também integra o Coppam, Adel Abou Rejeili, o assunto vem à tona em todas as reuniões com o poder público. “Retirar a fiação aérea e os letreiros exagerados interessa não só pelos prédios, mas porque influencia diretamente na economia. Quando o Centro estiver mais atraente, mais pessoas circularão pelo local, injetando mais recursos no setor”, pontuou. Ele disse, ainda, que a Carjopa deve entrar com um pedido oficial à Prefeitura para que a retirada dos postes aconteça o mais rápido possível.
Tubulação | Projeto inacabado previa o aterramento da fiação elétrica no Centro (Foto: Carlos Grevi)
Os postes e os fios continuam
Questionada sobre a retomada das obras de revitalização do Centro, que inclui a retirada dos postes e da fiação suspensa, a Prefeitura informou que não há expectativa para essa etapa devido à pandemia e à situação de calamidade econômica que o município vive. Em nota, o Governo Municipal lembrou que tem feito “ajustes fiscais e administrativos para se estruturar e voltar a realizar ações mais complexas como essa”.
Também procurada pela reportagem do Jornal Terceira Via, a Enel Distribuição Rio esclareceu que a obra em questão é de responsabilidade da Prefeitura de Campos e que “foi executada independente e parcialmente, sem a anuência da distribuidora”.
A Enel declarou ainda que, no momento, “a Prefeitura não mantém diálogo com a empresa a respeito dessa obra, embora esta última esteja disponível”.
Sobre os fios, por questões técnicas e de segurança, a Enel afirmou que mantém a sua fiação conforme os padrões de segurança técnicos estabelecidos e que os fios emaranhados são de telefonia e internet e não oferecem risco para a população.
A obra
A obra de revitalização do Centro Histórico de Campos, orçada em R$ 65,4 milhões, começou em junho de 2012 e tinha prazo de conclusão de três anos. Entre as intervenções previstas no projeto, assinado por Cláudio Valadares, estavam a reforma do sistema de drenagem, pavimentação e conversão das redes concessionárias de iluminação e telefonia, além de melhorias nas condições do asfalto, das galerias pluviais e da rede de esgoto. Vale lembrar que Cláudio é, hoje, secretário de Planejamento Urbano, Mobilidade e Meio Ambiente do governo Wladimir Garotinho.
Fonte Terceira Via