Primeira mulher a assumir em definitivo a bancada do 'Jornal Nacional', em 1992, a jornalista Valeria Monteiro revelou que o preconceito, na época, era mais por ser mulher e menos pelo fato de ser um dos rostos mais bonitos da Globo. "As pessoas tinham dificuldade de associar a mulher à seriedade", conta Valeria, que mora há nove anos em Campinas, no interior de São Paulo, e aprovou o nome de Patrícia Poeta no 'JN': "Ela é uma pessoa que passa segurança, tem capacidade profissional, simpatia e demonstra equilíbrio. Não tem como dar errado". Longe dos holofotes da mídia - a coluna teve dificuldades para localizar a jornalista, que foi extremamente simpática e receptiva - , a eterna apresentadora do 'Jornal Nacional' se dedica, atualmente, à ficção e está escrevendo um roteiro de cinema. "O que vejo na TV é monótono e normalmente violento. A realidade brasileira me cansou. A ficção é libertadora", finaliza.
Você sofreu preconceito por ser bonita na bancada do 'Jornal Nacional'?
Nunca entendi por que uma mulher não pode, ao mesmo tempo, ser bonita e inteligente. A inteligência também é atraente. Mais do que a beleza como problema, acho que as pessoas tinham dificuldade de associar a mulher à seriedade.
Quais foram as mudanças no 'JN' quando você assumiu o telejornal?
Não houve mudanças porque sempre levei o trabalho a sério. Houve mudanças internas: na minha época, batalhei para ter figurinista e maquiador, isso não existia. A notícia era mais importante que tudo e o resto era o resto.
Você precisou mexer em sua aparência para apresentar o 'JN'?
Eu não usava o que não é recomendado nos telejornais, de modo geral: maquiagem muito carregada, joia chamativa, esmalte vermelho, camisas que tecnicamente atrapalham a iluminação, estampas grandes e listras.
Você recebeu alguma recomendação da direção da Globo?
Não. O que havia era uma expectativa muito grande da diretoria, porque nunca uma mulher tinha se sentado à bancada do 'JN' de maneira definitiva. E havia uma preocupação de como as pessoas em casa receberiam essa nova postura.
O que você acha de Patrícia Poeta apresentando o 'JN'?
Não conheço a Patrícia pessoalmente, mas acho que ela é uma pessoa que passa segurança, tem capacidade profissional, simpatia e demonstra equilíbrio. Não tem como dar errado.
Você daria alguma dica para ela?
Acho que ela não precisa. Eu, quando fui para o 'JN', o encarei como encarava o 'RJTV'. Não faz diferença. Continua sendo um trabalho sério, que demanda profissionalismo para fazê-lo.
Na sua opinião, ela vai se adaptar bem ao 'JN'?
No 'Fantástico', ela pode se expressar mais, andar pelo estúdio. Talvez o 'JN' restrinja a capacidade que ela tem de transmitir simpatia. Além disso, o 'JN' é mais duro e tem mais limitação de tempo. Mas é mais fácil adaptar o solto ao preso que o contrário. Ela tem talento e desenvoltura.
Você abandonou o jornalismo?
Me desliguei da profissão, mas jornalista é sempre jornalista. Assisto a canais de notícias, como a BBC e a CNN, e gosto do 'Bom Dia Brasil' (na Globo), que tem um estilo mais solto de informar, e do 'Jornal da Band', exibido à noite.
A realidade te cansou?
A realidade brasileira me cansou. O que vejo na TV e nos jornais é muito monótono e normalmente violento. Estou escrevendo um roteiro de cinema. A ficção, para mim, é libertadora.
Qual foi sua maior realização no jornalismo?
Fiz muita coisa na profissão, mas minha maior realização foi apresentar o 'Jornal Nacional'. Ninguém te pede seriedade para apresentar o 'JN', mas é como se te passassem o bastão para você carregar aquela marca adiante. Rompi um paradigma cultural por ter sido a primeira mulher naquela bancada.
Patrícia Poeta: de garota do tempo a âncora do 'JN' em 11 anos
1976. Patrícia Poeta Pfingstag nasce em São Jerônimo, no Rio Grande do Sul.
1996. Patrícia grava diversos vídeos como repórter e comete inúmeros erros. Os vídeos podem ser encontrados no YouTube.
1997. Patrícia se forma em jornalismo na PUC-RS
1997. No mesmo ano, ela é contratada como repórter da TV Bandeirantes de Porto Alegre
2000. Patrícia é contratada pela TV Globo para apresentar a previsão do tempo nos telejornais. Nesse período, a jornalista é convidada para assumir a bancada do 'SPTV' aos sábados.
2001. A jornalista se casa com Amauri Soares, diretor da Globo Internacional.
2002. Poeta vai para Nova York e assume a função de correspondente da Globo na Big Apple.
2004. Nasce Felipe, filho da jornalista com o executivo da Globo.
2008. Patrícia volta ao Brasil e assume o comando do 'Fantástico', substituindo Glória Maria.
2011. Em abril, um inocente passeio pela praia do Leblon faz com que Amauri dê ordem para que o portal Globo.com tire do ar as fotos de sua mulher. Patrícia usava uma roupa justa para uma simples caminhada.
2011 . Em dezembro, Patrícia Poeta é anunciada como a nova âncora do 'Jornal Nacional' e ganha, também, a função de editora-executiva do telejornal.
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