Reprodução
Faltam 39 dias para a realização do maior clássico
do futebol do interior do Rio de Janeiro, o Goyta-Cano, que é o confronto que
envolve o Goytacaz Futebol Clube e o Americano Futebol Clube, ambas equipes de
Campos, que não ocorre há quase 10 anos e terá seu retorno no dia 2 de março,
na estreia de ambas as equipes na Série B de 2013, às 15 horas no estádio Ari
de Oliveira e Souza, o Arizão.
Poucos, muito poucos mesmo, fora de Campos, são
capazes de imaginar até onde possa chegar o grau de rivalidade existente entre
o Americano e o Goytacaz. Ela vem de longe e há quem diga que surgiu antes
mesmo do primeiro jogo entre os dois clubes, em 1914.
O Goytacaz, na época, com
dois anos, e o Americano vivendo seus primeiros dias, já se apresentavam aos
olhos dos campistas como as duas forças irresistíveis do futebol local, embora
o Internacional, o Campos e o Rio Branco fizessem por merecer as atenções
gerais numa fase em que o futebol não contava com o grande número de adeptos de
agora.
Muitos anos depois, em 1975, com a inclusão do
Americano no Campeonato Brasileiro, a gente alvi-anil se comprometeu, como um
juramento que é feito à beira do túmulo, a não ver um jogo sequer dos sete que
o rival faria no ampliado Estádio Godofredo Cruz, pelo certame promovido pela
Confederação Brasileira de Desportos. Estranhamente, no entanto, o médico
Nílson Cardoso de Souza, com raízes profundas de amor ao Goytacaz, veio da
praia de Grussaí e entrou no Estádio Godofredo Cruz com uma placa: "Rivais
em Campos, unidos no Nacional".
- Isto não quer dizer que mudei. Significa, apenas,
que torço pela minha cidade. Agora, jamais beberei da glória que o Americano
possa alcançar - comentou, na oportunidade, o conhecido médico.
Alguns anos antes, na Praça Nilo Peçanha, em Barra
do Piraí, onde o Goytacaz teria que jogar contra o Central pelo Campeonato
Fluminense, Salvador Araújo Nunes, ao saber da rivalidade existente entre o
mesmo Central e o Royal, clubes daquela cidade, deu uma explicação que
considerou lógica para provar o seu desamor ao Americano:
- No Rio, deixei de ser Botafogo só
porque a sua camisa é igual à do Americano.
José Gabriel ainda tomava cafezinho, no Galeria, com Francisco das Chagas Siqueira, José Paes, Rômulo Barros e muitas outras figuras ligadas ao Americano. "Mas é - como dizia - para saber o que eles estão armando contra o Goytacaz". O médico Jacinto Simões, um dos grandes presidentes do Goytacaz e ex-jogador do São Cristóvão e do Vasco da Gama, no tempo em que estudava no Rio de Janeiro, não só não foi a qualquer jogo do Americano, no Campeonato Brasileiro de 1975, como também não parava na rua para "não perder tempo com esses merdas".
José Gabriel ainda tomava cafezinho, no Galeria, com Francisco das Chagas Siqueira, José Paes, Rômulo Barros e muitas outras figuras ligadas ao Americano. "Mas é - como dizia - para saber o que eles estão armando contra o Goytacaz". O médico Jacinto Simões, um dos grandes presidentes do Goytacaz e ex-jogador do São Cristóvão e do Vasco da Gama, no tempo em que estudava no Rio de Janeiro, não só não foi a qualquer jogo do Americano, no Campeonato Brasileiro de 1975, como também não parava na rua para "não perder tempo com esses merdas".
O certo é que Goytacaz e Americano
nunca se deram bem e, quando partiu de Nílson Cardoso de Souza a idéia de levar
aquela placa para o Estádio Godofredo Cruz, muita gente na Rua do Gás criticou
o filho de Ari de Oliveira e Souza: "O Nílson parece que tem porcaria na
cabeça!".
A guerra entre os dois grandes clubes foi, sempre, franca e aberta, muitas vezes atingindo as raias de brigas homéricas entre jogadores e torcedores dos dois clubes.
A guerra entre os dois grandes clubes foi, sempre, franca e aberta, muitas vezes atingindo as raias de brigas homéricas entre jogadores e torcedores dos dois clubes.
A Folha do Comércio, em fevereiro de
1923, publicava na primeira página matéria sobre o fracasso do jogo Americano x
Goytacaz, que é transcrita, inclusive com a grafia da época:
"Conforme noticiamos ontem em primeira mão, o Goytacaz não aceitou o
convite que lhe dirigira o Americano para a realização de uma partida de
foot-ball no próximo dia 18.
Como não podia deixar de ser, a nova causou pasmo
em nosso meio sportivo, notadamente nas rodas do Americano, onde se tinha como
fora de duvida a aceitação do Goytacaz.
A notícia causou mais surpresa à vista dos
precedentes, pois era notoria que a turma goytacaz não escondia a vontade de
fazer a equipe do Americano conhecer o peso da homogenea esquadra alvi-anil.
Ademais, os paredros da valente sociedade sportiva
da Rua do Gaz, quando abordados, sempre deram a entender que era coisa fora de
duvida a aceitação do convite.
Poucos dias ha que um prestigioso diretor do
Goytacaz aventou a um influente alvinegro, mais ou menos o seguinte: Fulano.
Você que tem influencia no Americano, vê se arranja o seu club convidar o
Goytacaz para um jogo, proximamente. O meu grêmio não faz o convite para não
parecer covardia, pois o nosso quadro está muito forte e o de voces um pouco
desfalcado, e depois julgar-se-ha por aqui que quizemos aproveitar a ocasião.
O sportman alv-inegro discordou da superioridade do
alvi-celeste e disse que o seu club - o Americano -, desconhecia toda essa
força da esquadra alvi-anil, que não fazia medo e que iria ajeitar as cousas
para a promoção do jogo.
Dias depois, o alvi-negro, em sessão de sua
directoria, resolvia convidar o Goytacaz para um encontro de foot-ball; e,
depois de algumas delongas. este club resolve rejeitar o convite do Americano.
Não nos é dado comentar as causas
determinantes da rejeição do Goytacaz, e nos limitamos, somente, a exarar aqui
o que colhemos de fonte que julgamos fidedigna".
Ainda na Folha do Comércio, era transcrito o ofício do Goytacaz ao Americano, nos seguintes termos:
Ainda na Folha do Comércio, era transcrito o ofício do Goytacaz ao Americano, nos seguintes termos:
"Respondendo ao vosso officio de 1º do
corrente, cabe-me informar a vv.ss. que, em sessão de ontem, resolveu a nossa
directoria, por unanimidade, não aceitar o honroso convite para o jogo amistoso
que se realizaria no dia 18, de accordo com os desejos manifestados entre as
esquadras deste club e as do clube de vv.ss.
A nossa recusa é motivada, apenas, pela vontade que
temos de evitar a reprodução de certos factos lamentáveis que se tem observado
no decorrer desses encontros, ocorrências estas que tem repercutido
tristemente no nosso meio esportivo.
Devido a esses acontecimentos, temos chegado á
conclusão de que os jogos entre os dois clubes deverão ser, tão somente, os que
obedecerem aos campeonatos oficiais ou á disputa de troféus instituídos.
Não escondemos a magóa que essa deliberação
obrigada nos causa, justamente agora, quando se acredita que a nossa principal
equipe está em optimas condições de fórma, e ainda porque sempre demonstramos a
maior satisfação em enfrentar as pujantes esquadras do club de vv.ss.
Não terminamos este sem pedir a vv.ss. licença para
um leve reparo nos dizeres de vosso offício. É que, a nosso ver, a decadencia
allegada por vv.ss. e por que atravessa o foot-ball campista, não tem como
causa factora e preponderante a falta de jogos entre esses dois clubs, cujos
jogos, de forma alguma resolverão esse caso de visível desanimo.
Entendemos que essa real decadencia é originada das
consequencias más e desastrosas de factos recentes, cuja responsabilidade cabe
á nossa política geral sportiva, contra a qual precisamos, todos nós, offerecer
serio combate.
Esses encontros terminam após a luta. O enthusiasmo
desses momentos, passa. Mas a decadencia caracterizada ficará, continuará
insoluvel, se de nossa ação conjuncta não surgirem melhores desejos para a
moralização do sport, competíveis com uma política de equidade, justiça, e de
respeito ás leis que regem as cousas sportivas locaes.
Eis como encaramos a causa desse phenomeno
gravíssimo que é a decadencia por que atravessa o foot-ball campista.
Com os protestos de nossa
consideração, apresento-lhes os nossos cumprimentos.
O secretario, (a) Sílio Oliveira Reis.
O secretario, (a) Sílio Oliveira Reis.
Campos, 8 de fevereiro de 1.923".
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Com dados do livro "Histórias do Futebol
Campista", de Paulo A Ourives.
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