terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Usuários de crack serão chamados para depor em audiência pública


Vagner Basilio
Objetivo do deputado Geraldo Pudim é apurar denúncias de abandono e maus tratos por agentes púbicosO deputado Geraldo Pudim (PR) retornou nesta segunda-feira (21/01) à cracolândia, no bairro de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, onde foi buscar depoimentos de dependentes químicos, com o intuito de fortalecer a ideia da criação de uma comissão específica para o assunto na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) no intuito de  debater e encontrar medidas para atender a uma demanda que presuma-se ser de pelo menos 300 pessoas que circulam somente pelo local. 
Em entrevista à equipe de reportagem que os acompanhou, o deputado, após passar maior parte da manhã conversando com dezenas de dependentes, fez uma avaliação do que acabara de constatar e da expectativa relacionadas aos caminhos a seguir no primeiro momento. Geraldo Pudim, em sua primeira missão oficial  na Alerj no último dia 18, visitou a cracolândia analisando que a situação degradante e a miséria humana são algumas das muitas constatações que se pode fazer a primeira vista.
“Fomos conversar com as vítimas desse sistema injusto produzido pela sociedade brasileira e nesse caso em especial do Rio de Janeiro, onde falhou o poder público, a escola, a saúde, as instituições e igrejas. Essa falha conjunta produziu essa grande quantidade de dependentes químicos e segundo relatórios do Ministério Público Estadual (MPE) já são mais de 6 mil usuários de crack somente no Rio de Janeiro”.
Após conversas que foram gravadas para a formatação de material que será apresentado na Alerj para a proposição da audiência pública, Pudim destacou a forma como os dependentes se dizem vistos pela sociedade. “O que mais me chamou atenção foi quando eu perguntava a eles como achavam que a sociedade os enxergavam, e a palavra que mais surgiu foi lixo, ou seja, ‘são vistos como um lixo pela sociedade’. Então essa situação me chocou muito. Detectamos que nada tem sido feito de forma eficaz para atendimento a esses usuários”, declarou o parlamentar.
A leniência do poder público, em muitos casos esconde histórias particulares por trás da realidade das drogas . “Verificamos vários profissionais qualificados e que se mostraram capazes de estarem trabalhando e produzindo. Eles diziam a famosa frase ‘cabeça desocupada, oficina do diabo’, relatando que se tivessem uma oportunidade de emprego e carteira assinada não teriam tempo de estarem ali. Vimos que mais de 90% quer, mas não tem condição de sairem sozinhos desta realidade, e nem será com o tratamento que hoje é dado que vão conseguir êxito. Hoje são levados para um abrigo em Santa Cruz e tratados com drogas potentes (remédios), mas bem ao lado, tem uma boca de fumo, uma fonte de fornecimento de drogas ilícitas, com a entrada e saída do abrigo livre”, relatou.
 Ao ser indagado acerca dos usuários que mais lhe chamaram a atenção por seus notáveis talentos Pudim afirmou ter ficado impressionado com um artista plástico. “Detectamos lá um artista plástico, também um garoto que nos contou que fez uma peça de teatro há alguns anos e que gostaria de retornar aos palcos; outro que foi jogador de futebol, e aos 22 anos, tem o sonho de voltar a jogar, ele que teve passagem nas divisões de base de um dos mais estruturados clubes desse país, que teria sido o São Paulo; encontramos um artesão, que produz peças lindíssimas. Então dentro dessas atividades todas com as devidas assistências, é possível se preencher os requisitos para os dependentes que precisam se ocupar”.

O deputado lembrou a proposta de Brizola e do professor Darcy Ribeiro com o projeto dos Ciep’s. “Há anos Brizola e o professor Darcy Ribeiro falavam da necessidade de uma nova geração que pudesse estar inserida dentro da concepção filosófica e ideológica dos Ciep’s dispondo de escola em tempo integral, que há época em que funcionavam, não permitiam que as crianças tivessem tempo livre para o contato com uma sociedade degradada, e neste processo, podiam ter um contato com o mundo propositivo, com atividades educacionais, culturais, esportivas, médicas, de lazer e atividades profissionais”.
A crítica direta a política adotada pelo poder público foi evidenciada exatamente no depoimento de todos os usuários ouvidos. “As ações do poder público se apresentam a eles como bombas, choque elétrico, gás de pimenta, pancadaria e cassetete, colocando todos para correr, o que fatalmente causa a fuga para a pista principal, a Avenida Brasil que todos os dias é palco ou de atropelamento que causa mortes ou prejuízos físicos muitas vezes irreversíveis. Onde estão, são impedidos de correr para a comunidade, e, assim, ficam acuados e a fuga é para pista .”, disparou Pudim em sua segunda visita ao local.
A propositura de uma audiência pública na Alerj será o primeiro passo para uma discussão que integrará todas as instituições que de alguma forma podem e devem estar associadas ao debate.
“Para que tenhamos uma ampla discussão com a participação de todos vamos propor uma audiência pública para logo depois do carnaval. Conversei hoje com o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) que é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, e que tem um relatório que foi feito de visitas em abrigos especializados para crianças e adolescentes do Estado. Vamos rediscutir o assunto. Recebi uma denuncia grave e que me causou além de preocupação, muito espanto, e quero chamar a atenção de todos que estão, lendo, ouvindo ou assistindo, de que vão retirar das ruas os dependentes e ninguém sabe para onde serão levados. Um chegou a dizer que iriam para Ilha Grande, que não tem nenhuma estrutura e aí vai virar um apartheid. Ninguém pode precisar o que seria dessas crianças, adolescentes e adultos. Isso não vamos permitir, pois seria um absurdo”.

A audiência pública tem que ser proposta por uma das Comissões da Casa. “Diferentemente do que acontece no Congresso Nacional, só quem pode propor a audiência são as comissões, e, desta forma, falamos com o deputado Marcelo Freixo, presidente da Comissão de Direitos Humanos que se dispôs a fazer conosco uma audiência pela Comissão, onde poderei participar e convidaremos todas as instituições como Ministério Público; Secretarias Nacional, Estadual e Municipal de Saúde; Infância e Adolescência; Secretaria Nacional de Diretos Humanos; Ordem Pública, a Secretaria Estadual de Segurança Pública entre outras como a OAB, a Unesco, Unicef e a Arquidiocese do Rio de Janeiro e as entidades que representam os evangélicos”.
“Quero destacar ainda que no mínimo cinco dependentes químicos, principalmente craqueiros, vão ser convocados para estar debatendo aqui na Alerj com a gente. Eles são a parte mais importante e interessante nessa história, pois são eles que vivem e podem até mesmo nos apontar caminhos de solução. Falhamos todos nós e agora temos que nos unir para encontrar uma solução”, finalizou o deputado Geraldo Pudim. 
 
Ascom 

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