sexta-feira, 1 de março de 2013

Greve de ônibus causa transtornos aos cariocas no aniversário da cidade

Milhares ficam a pé no Rio. Prefeito Eduardo Paes critica rodoviários

POR  Adriano Araujo
Marcello Victor
Marcio Menasce
Rio -  No dia do aniversário de 448 anos do Rio, uma greve de rodovíarios causa transtornos aos cariocas nesta sexta-feira. Motoristas e cobradores decidiram pela paralisação de advertência de 24 horas, em assembléia na noite anterior. Eles rejeitaram a proposta de 8% de reajuste salarial da RioÔnibus, que reúne as empresas de coletivos da capital fluminense.
A decisão da categoria pegou muitos cariocas de surpresa e causou revolta. Na Avenida Brasil, passageiros apedrejaram um ônibus, na altura da Penha. O veículo ficou atravessado na pista, complicando o trânsito em direção ao Centro.
Passageiros esperam ônibus na saída da estação do metrô de São Cristóvão | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Passageiros esperam ônibus na saída da estação do metrô de São Cristóvão 
| Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Desde a madrugada, o acúmulo de passageiros na Central do Brasil, no Centro do Rio, causa tumulto para quem tenta usar o transporte público. Os poucos ônibus em circulação saem dos pontos lotados e deixam ainda longas filas de quem não consegue embarcar. Na estação Leopoldina, muita gente também não consegue entrar nos ônibus. Em diversos pontos da cidade, a situação se repete.
Os veículos do sistema BRT também não estão circulando com sua capacidade total. É a primeira greve que o sistema adere, desde a sua inauguração. De acordo com a prefeitura, o corredor Transoeste, que liga Santa cruz à Barra da Tijuca, opera com 22 ônibus articulados, de uma frota média de 80. As linhas alimentadoras do corredor Transoeste que operam em Santa Cruz e Campo Grande também estão com frota reduzida. Todas as estações do BRT estão abertas e não há registro de tumulto.
Com a greve, ônibus saem dos pontos lotados e muitos passageiros não conseguem embarcar | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Com a greve, ônibus saem dos pontos lotados e muitos passageiros não conseguem embarcar | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Paralisação dos rodoviários paralisa Metrô na Superfície
A greve também afeta o serviço Metrô na Superfície, do Metrô Rio, que é operado pelos rodoviários. O sistema de integrações por ônibus entre as estações do metrô não funciona na manhã desta sexta-feira.
Muitos passageiros foram pegos de surpresa ao desembarcar dos trens. Com os fechamento das estações Cantagalo e General Osório para obras da Linha 4, os ônibus, que passaram a ser a opção de conexão entre as estações, também não estão operando nesta sexta-feira, assim como a linha Barra Expresso. As três linhas partem da estação Siqueira Campos, em Copacabana.
 
'Trabalhador não pode ser punido', diz Paes
O prefeito Eduardo Paes criticou a greve. Segundo ele, as empresas de ônibus podem até ser punidas pela paralisação. Paes garantiu ainda que não vai aumentar o preço da passagem de ônibus neste momento.
"A gente espera que as concessionárias de ônibus tenham responsabilidade. Se não tiverem, serão punidas por isso. O que não pode é o trabalhador ser punido. Um movimento desses no aniversário da cidade claramente tem a intenção de estabelecer pressões. Nós não vamos aumentar a passagem agora. Peço desculpas ao trabalhador carioca e espero que ao longo do dia a situação volte ao normal", disse Paes em entrevista ao "Bom dia, Rio".
O Secretário Municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, afimou que grevistas chegaram a agredir rodoviários que não aderiram à greve e apedrejaram ônibus nas saídas das garagens.
"Tivemos incidentes graves nesta manhã nas empresas Jabour e Pégaso, nas garagens em Campo Grande. Grevistas impediram a saída dos ônibus e agrediram rodoviários. Os veículos foram atingidos por paralelepipedos e pedras. Um comportamento inaceitável. A PM está no local para controlar a situação", disse o secretário.
Segundo Carlos Osório a greve é parcial e a prefeitura está exigindo das empresas de ônibus a disponibilização de toda a frota para atender aos cariocas.
"Essa é uma greve parcial. O serviço foi prejudicado principalmente na Zona Oeste da Cidade. A prefeitura determinou aos consórcios operadores de ônibus do Rio que coloquem imediatemente toda a frota na rua. É inaceitável uma situação dessas sem aviso prévio e sem justificativa" afirmou Osório.
 
Patrões e empregados se reúnem pela manhã
A paralisação de motoristas e cobradores pode terminar antes do previsto. Às 10h desta sexta-feira, nova reunião está marcada entre patrões e empregados. O resultado desta nova rodada de negociações será levado à assembleia dos trabalhadores, ao meio-dia, no Guadalupe Country Club, na Zona Norte.
“Tentamos desde janeiro uma posição da Rio Ônibus e, agora, ela apresenta um reajuste de 8%. É claro que ele é bem-vindo, mas deveria estar atrelado as outras propostas que colocamos na mesa de negociação como cesta básica de R$ 200 sem descontos, tíquete alimentação de R$ 15 por dia, além de plano de saúde gratuito para o funcinário e três dependentes”, explicou o vice-presidente do Sintratub, Sebastião José.
O sindicato ainda reivindica jornada de trabalho de seis horas e o término da dupla função nos micro-ônibus, onde o motorista também atua como cobrador.
A RioÔnibus entra nesta sexta-feira na Justiça questionando a legalidade da breve, pois não houve avisos à população. A polícia será chamada pra reforçar a segurança nas garagnes para quem quiser trabalhar.
 
Metrô opera em esquema especial
O MetrôRio começou às 5h, uma operação especial para absorver o aumento do número de passageiros em suas estações, estimado em 15%. A operação será mantida até o fim da greve.
Para orientar e auxiliar os usuários, 46 promotores serão colocados em pontos estratégicos das 35 estações. Segundo o Metrô Rio, os sistemas de comunicação (som das estações, trens, mídias sociais e TV Metrô) atualizam as informações ao público.
Nas plataformas, a Concessionária disponibiliza mais de 400 agentes de segurança para fazer, caso seja necessário, o controle de fluxo dos usuários nas Linhas 1 e 2.
Para reforçar a informação aos usuários dos ônibus de integração, cartazes foram colados nas bilheterias e mezaninos, além de comunicações sonoras nas estações e vagões.
Fila para entrar nos ônibus causa tumulto na Central do Brasil | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Fila para entrar nos ônibus causa tumulto na Central do Brasil | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Greve surpreende cariocas durante a madrugada
O chefe do bar dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio, Ivanildo Pereira de Mendonça, de 46 anos, ficou sabendo da greve pela equipe de O DIA, ainda nesta madrugada, após mais de uma hora esperando por um ônibus para Guadalupe, na Zona Norte. Depois um dia de trabalho, ele retornava do Leblon, na Zona Sul, onde tinha feito um serviço extra.
"Fui pego de surpresa, inclusive pela minha mulher. Ela trabalha no Departamento Pessoal de uma empresa de ônibus e não me avisou nada", reclamou Ivanildo, que depois de Guadalupe ainda pegaria uma outra condução para Anchieta, onde mora.
Com o alto valor de uma corrida de táxi e a quantia em dinheiro que teria que desembolsar para pegar uma van - ao contrário do ônibus, onde poderia utilizar o Bilhete Único - ele já articulava um plano B. "Estou pensando em caminhar até a Praça 15 e dormir no Tribunal", raciocinava à 1h15.
O agente aeroportuário Carlos Henrique de Campos, de 26, anos, e a assistente comercial Danielle Souza da Silva, 23, moradores de Campo Grande e de Santa Cruz, respectivamente, na Zona Oeste, também ficaram sabendo da greve pela equipe de O Dia. Eles estavam na Lapa, bairro boêmio do Centro. Os dois foram de van para a Central do Brasil, já que não conseguiram ônibus direto.
"Mais eles decidiram isso assim, de uma hora para outra? A gente não fica sabendo de nada! De manhã estava tudo normal", questionou Danielle, até ser informada que a paralisação tinha sido decidida à noite. "Liguei para uma amigo que mora na Praça da Bandeira para ver se consigo dormir na casa dele", disse Carlos Henrique.
Indignada, a atendente de lanchonete Débora Silva de Oliveira, de 23 anos, que tentava chegar em casa em Cordovil, na Zona Norte, estava preocupada com as colegas de trabalho que moravam em locais mais distantes, como Santa Cruz, Vila Kennedy e Campo Grande, bairros da Zona Oeste.
"Fechamos a loja às 22h. Lavamos, arrumamos tudo e saímos. Se soubéssemos que haveria greve teríamos saído mais cedo ou pego dinheiro com o chefe para outro ripo de condução", protestou Débora, garantindo que mesmo assim aguardaria por um ônibus. "É fim de mês e estou sem dinheiro, só com o cartão do ônibus", explicou.

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