Campos possui, naturalmente, um complexo sistema hídrico formado por canais naturais e artificiais, estes criados fundamentalmente para irrigar e escoar água das áreas de canaviais e pastagens. Além do sistema de canais, ampliado pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), o município possui 22 lagoas naturais das quais diversas comunidades pesqueiras sobrevivem da atividade milenar.
Na semana passada, membros da Associação dos Pescadores Artesanais da Lagoa do Campelo e Parque Prazeres fizeram uma manifestação na RJ-196, pedindo a abertura das comportas do Canal do Cataia. Diz a sabedoria popular que, assim como as tartarugas, os peixes também desovariam no mesmo lugar onde nasceram e para isso, utilizariam a mesma rota seguida pelos seus ancestrais, portanto, o Canal do Cataia, já que este é um canal natural.
A emprensa, convidou o ambientalista Aristides Soffiati para percorrer as comportas do Canal do Vigário, Canal do Cataia e Canal de Cacimbas. Os dois primeiros, responsáveis pelo abastecimento das lagoas do Brejo Grande e do Campelo. O objetivo da visita foi avaliar a real situação não somente dos canais, mas o funcionamento das comportas, além do estado de conservação das lagoas.
Soffiati explicou que a margem esquerda do Paraíba é mais elevada e que quando o Rio transborda a água se espalha por toda a planície esquerda, desta forma as comportas dos canais são manejadas de acordo com a necessidade dos produtores rurais. O Canal do vigário foi aprofundado para levar água à Lagoa do Campelo pela ponta sul e estabilizar a salinidade. Em caso de extravaso, a água é escoada pelo Canal Antônio Rezende, aproveitando o Rio Guaxindiba.
Soffiati explicou ainda que antes existia somente o Canal do Cataia e neste, foram instaladas tampas que abriam e fechavam conforme a força das águas. Já nesta época era grande a “briga” entre pescadores e proprietários de terra e no governo Arnaldo Vianna foi pedido à Fundação Goitacá, ligada à Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), um estudo para avaliar os impactos dos manejos dos canais. No entanto o estudo foi concluído prevendo a necessidade de mais estudos.
Durante a visita foi observado que o Canal do Vigário flui abundantemente, bem próximo à comporta, na Avenida Francisco Lamego. Já o Canal do Cataia encontra-se não somente fechado, mas completamente assoreado. Por fim o Canal de Cacimbas, que conforme explicação de Soffiati no início do século XIX era navegável e responsável pelo escoamento da produção vinda do município de São Francisco, quando ainda desembocava na Lagoa de Macabu, antes de ser cortado pelo Canal do Resende, se encontra totalmente coberto pela vegetação dos pastos.
À caminho da Colônia de Pescadores da Lagoa do Campelo, a equipe passou pela Lagoa do Brejo Grande. Ela recebe as águas do Canal do Vigário e através de uma manilha que corta o subterrâneo da estrada vicinal CA-003, abastece a Lagoa do Campelo. No local observou-se uma lâmina d’água completamente tomada pela vegetação. Ainda segundo Soffiati a água que chega ao local é carregada de esgoto clandestino do Parque Prazeres, o que aliada ao excesso de matéria orgânica da grande quantidade de vegetação, torna difícil a sobrevivência de qualquer espécie de peixe.
Finalmente na residência do presidente da associação de pescadores, Amaro Ferreira Matias, de 62 anos, mais conhecido como Amaro Flor, o lamento de quem passou uma vida inteira tirando da lagoa o sustento e a sobrevivência e criação dos filhos e agora vê espécies nativas e comuns como tainha, curimatã, sairu, traíra, acará, entre tantos outros desaparecerem ao longo dos anos, sem nenhuma providência das autoridades.
“Lá na frente você vê uma vala estreitinha, é aquele canal que corta para jogar água na Lagoa do Campelo. Se você olhar direitinho, não sabe nem onde está o canal. A água não tem pra onde correr. Se você quiser, você atravessa com um carro, dentro do canal, em cima da vegetação, do pântano de tabua. Quando eles soltam um pouquinho lá (abrem as comportas) a água não tem vazão nenhuma. Era pra vir pra Lagoa do Campelo, mas como está barrada pela vegetação, está se espalhando.” Lamentou o pescador que atualmente só encontra peixes grandes nas fotografias do tempo em que se pescava tainhas de 7 a 8kg, na agonizante Lagoa do Campelo.
Sobre a crença dos pescadores de que os peixes necessitariam do Canal do Cataia para chegarem à Lagoa do Campelo e desovarem, garantindo a perpetuação das espécies, o Site Ururau buscou ajuda com o professor de aquicultura da Uenf, Manuel Vazquez Vidal Júnior que explicou que os peixes não seguem um ritual de buscar o mesmo caminho feito pelos seus ancestrais para desovarem, mas as condições favoráveis para isso.
“O que acontece é mais aleatório. Os peixes sobem e vão encontrando locais de desova. Não necessariamente o peixe que nasceu ali vai voltar ali, mas esses movimentos migratórios juntam praticamente todos os peixes daquela mesma espécie e eles sobem em cardumes gigantescos. Dois, três, quatro cardumes num período muito curto. Eles vão entrando em alguns canais, mas mais do que isso, o que ocorrem também é que as larvas recém nascidas, os ovos são muito leves e as larvas recém nascidas também são muito leves e são carreadas para esses locais mais remansos, é em um período de chuva geralmente, o rio está alto e o ovos acabam espalhando. Ali como não tem correnteza, eles vão se depositando nos remansos, as larvas nascem e ficam agregadas, vão virando peixinhos e conseguem sobreviver. Mesmo que o peixe não entre ali, o canal aberto na época de reprodução significa que vão entrar filhotes”, explicou o professor.
No entanto, com o canal do Cataia fechado e a obsolescência do Canal de Cacimbas, o único caminho para os peixes tem sido o assoreado e poluído Canal do Vigário, que desemboca na Lagoa de Brejo Grande, tão poluída e assoreada quanto o mesmo, impossibilitando a chegada das espécies à Lagoa do Campelo.
De acordo com o superintendente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em Campos, René Justen, atualmente as comportas do Canal do Cataia se mantém fechadas. Ele explicou que na última sexta-feira (05/06), foi instaurada, dentro do Comitê do Baixo Paraíba do Sul, a Câmara Técnica de Recursos Hídricos e Equilíbrio Hidráulico e na primeira reunião foi escolhido o coordenador e 12 membros. A Câmara é formada por usuários da bacia, representantes do poder público, entidades civis e pescadores, com o objetivo de através de discussão e diálogo, promover o manejo correto, principalmente dos canais, de forma que atenda às necessidades de todos.
René disse ainda que os pescadores da Lagoa do Campelo devem se organizar, para assim pleitear um lugar na Câmara técnica recém-formada e, desta forma, requerer também seus anseios.
Sobre o assoreamento e poluição do Canal do Vigário e fechamento do Canal do Cataia, o superintendente explicou que o Inea foi constituído há três anos, da junção da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA) e Instituto Estadual de Florestas (IEF), para o gerenciamento das 10 microbacias em que o estado foi dividido, cabendo à nossa região as bacias 9 e 10, do Rio Paraíba do Sul e Rio Itabapoana, respectivamente, no entanto não há recursos disponíveis para gerir todo o sistema hídrico construído e gerido pelo DNOS, extinto há mais de 30 anos. Desta forma, as atividades foram divididas em três etapas. Em um primeiro momento houve a limpeza dos canais, posteriormente foi encaminhado um projeto para o Ministério da Integração para a recuperação da Microbacia da Lagoa Feia e somente depois do término deste será encaminhado um novo projeto para a recuperação da microbacias da margem esquerda do Paraíba.
“O que acontece é mais aleatório. Os peixes sobem e vão encontrando locais de desova. Não necessariamente o peixe que nasceu ali vai voltar ali, mas esses movimentos migratórios juntam praticamente todos os peixes daquela mesma espécie e eles sobem em cardumes gigantescos. Dois, três, quatro cardumes num período muito curto. Eles vão entrando em alguns canais, mas mais do que isso, o que ocorrem também é que as larvas recém nascidas, os ovos são muito leves e as larvas recém nascidas também são muito leves e são carreadas para esses locais mais remansos, é em um período de chuva geralmente, o rio está alto e o ovos acabam espalhando. Ali como não tem correnteza, eles vão se depositando nos remansos, as larvas nascem e ficam agregadas, vão virando peixinhos e conseguem sobreviver. Mesmo que o peixe não entre ali, o canal aberto na época de reprodução significa que vão entrar filhotes”, explicou o professor.
No entanto, com o canal do Cataia fechado e a obsolescência do Canal de Cacimbas, o único caminho para os peixes tem sido o assoreado e poluído Canal do Vigário, que desemboca na Lagoa de Brejo Grande, tão poluída e assoreada quanto o mesmo, impossibilitando a chegada das espécies à Lagoa do Campelo.
De acordo com o superintendente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em Campos, René Justen, atualmente as comportas do Canal do Cataia se mantém fechadas. Ele explicou que na última sexta-feira (05/06), foi instaurada, dentro do Comitê do Baixo Paraíba do Sul, a Câmara Técnica de Recursos Hídricos e Equilíbrio Hidráulico e na primeira reunião foi escolhido o coordenador e 12 membros. A Câmara é formada por usuários da bacia, representantes do poder público, entidades civis e pescadores, com o objetivo de através de discussão e diálogo, promover o manejo correto, principalmente dos canais, de forma que atenda às necessidades de todos.
René disse ainda que os pescadores da Lagoa do Campelo devem se organizar, para assim pleitear um lugar na Câmara técnica recém-formada e, desta forma, requerer também seus anseios.
Sobre o assoreamento e poluição do Canal do Vigário e fechamento do Canal do Cataia, o superintendente explicou que o Inea foi constituído há três anos, da junção da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA) e Instituto Estadual de Florestas (IEF), para o gerenciamento das 10 microbacias em que o estado foi dividido, cabendo à nossa região as bacias 9 e 10, do Rio Paraíba do Sul e Rio Itabapoana, respectivamente, no entanto não há recursos disponíveis para gerir todo o sistema hídrico construído e gerido pelo DNOS, extinto há mais de 30 anos. Desta forma, as atividades foram divididas em três etapas. Em um primeiro momento houve a limpeza dos canais, posteriormente foi encaminhado um projeto para o Ministério da Integração para a recuperação da Microbacia da Lagoa Feia e somente depois do término deste será encaminhado um novo projeto para a recuperação da microbacias da margem esquerda do Paraíba.
Com canais fechados e assoreados água do Paraíba não chega ao local
Daniela Abreu
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