quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Políticos falam de casamento gay e aborto mas evitam o principal

Candidatos permanecem numa zona de conforto diante de mais um assunto que desconhecem. Parece até um acordo entre os partidos

O leitor do jornal Terceira Via certamente soube da triste história de uma mulher solteira, de 22 anos, que foi presa no fim de semana em Campos, por maus tratos e abandono dos seis filhos. Ela deixou as crianças em casa – com idades que variam entre dez meses e sete anos - e foi para o forró. Com passagens pela polícia por envolvimento com drogas, a – ainda - jovem alegou que saíra de casa para conseguir dinheiro para sustentar os filhos. Localizadas, as crianças choravam e estavam sujas e famintas.

A história – quase uma rotina entre as jovens pobres e pouco instruídas do país - remete a um tema que nenhum dos candidatos a presidente da República sequer tocou durante a campanha, mesmo com tanto horário gratuito de propaganda política e com debates em quatro redes de televisão.

A homossexualidade e o aborto foram temas recorrentes mas os candidatos passaram de raspão pelo alvo principal, sempre evitado. Embora recomendado pela Organização das Nações Unidas, nenhum dos candidatos disse – nem mesmo as mulheres Dilma Rousseff, Marina Silva ou Luciana Genro – uma palavra sequer sobre Planejamento Familiar.

Esse é o grande tabu da política brasileira, gargalo tão relevante para a sociedade quanto a Logística para a Economia. Quilômetros distantes de um tema tão polêmico, os candidatos permanecem numa zona de conforto diante de mais um assunto que desconhecem – entre tantos outros. Parece até um acordo entre os partidos.

Agregado ao Bolsa Família, o Planejamento Familiar teria o sentido, por exemplo, de orientar sobre o número de filhos, o intervalo mais espaçado e consciente entre os nascimentos, o conforto, o tipo de educação e as condições culturais, sociais e materiais.

O Planejamento Familiar poderia passar sim – e por que não – pelo acesso a contraceptivos femininos, à educação sexual e a prevenção da gravidez indesejada. Ninguém fica moderno somente verbalizando o termo “camisinha” sempre que se fala em sexo.

Em vez de falar sério, partidos e candidatos elegem temas mais midiáticos como os casamentos entre pessoas do mesmo sexo ou se o aborto é crime ou não. Chovem no molhado enquanto nossa pobre personagem abandona os filhos em casa e vai pro forró se divertir. Lá, ela vai encontrar um novo namorado. E, no ano que vem, coloca mais uma criança dentro de casa.

Terceira Via/Show Francisco




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