“Já estão distribuindo Cheque Cidadão para comprar votos por antecedência”, disparou o vereador Marcão (Rede), durante a sessão dessa terça-feira (21) da Câmara de Campos, que contou com a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2017. Na visão dos oposicionistas, o governo rosáceo já começou a usar a máquina de olho na eleição. Já os aliados do casal Garotinho afirmam que “isso é desespero da oposição”.
Faltando pouco para o recesso parlamentar, que começa em julho, a Câmara contou com uma sessão quente no final da manhã e início da tarde dessa terça. O clima esquentou quando vereadores da oposição apontaram uma “farra do Cheque Cidadão”. “A farra é muito grande. Distribuição de cheque e de empregos. Falo isso e posso provar. Será que alguém tem coragem de me processar? Posso citar os nomes das pessoas e até de vereadores”, disse Nildo Cardoso (DEM), líder da bancada de oposição.
Diante das graves denúncias, aliados do governo Rosinha fizeram questão de usar a palavras para negar a suposta distribuição do benefício. “Eu não dou Cheque Cidadão a ninguém. Quero que isso conste na ata desta sessão. Por que não falam os nomes?”, questionou o vereador Neném (PTB). A vereadora Auxiliadora Freitas (PHS) e o vereador Abdu Neme (PR), aliados do governo, também negaram qualquer tipo de distribuição.
Na defesa do governo, o vereador Thiago Virgílio (PTC) afirmou que as denúncias são uma arma da oposição, que estaria desesperada. “Não existe nada disso. Falam essas inverdades e não provam nada. Eles sabem que vão perder mais uma e estão desesperados”, comentou Virgílio, que listou ações do governo nos últimos meses. “Salários e programas sociais em dia, obras e muito trabalho. Quem está fazendo isso na região?”, indagou.
Ex-aliado do governo Rosinha, o vereador Gil Vianna (PSB), que agora faz parte do bloco “independente”, usou a tribuna para desabafar. “A verdade é que o povo está cansado desse governo. É muita conversa fiada. Já estive ao lado deles e agora tirei um piano das minhas costas. Posso falar o que penso e tenho muitos campistas ao meu lado. Pegaram três empréstimos e vão jogar a conta para a população. Na visão deles, o povo é trouxa e tem que pagar”, disse Gil.
Outro ex-aliado do governo, o vereador José Carlos (PSDC) também entrou no debate. “Fui aliado, sim. Mas estou há quase dois anos na oposição. Não poderia concordar com um governo que gasta R$ 17 milhões com a PCE, R$ 18 milhões com a Emec, R$ 17 milhões com a ‘Cidade da Criança’. Foi muito desperdício enquanto as pessoas estão morrendo nos hospitais. Agora estão aí nessa distribuição de Cheque Cidadão. Vejo com os meus próprios olhos e tem gente que me liga perguntando como faz pra conseguir entrar nessa lista”, comentou.
Fantasma da corrida eleitoral de 2004
A denúncia sobre distribuição de Cheque Cidadão resgata o fantasma da eleição de 2004. Naquele pleito, que terminou na Justiça, duas máquinas entraram em ação (Estado e Prefeitura). Matéria publicada pelo jornal O Globo relata que, na reta final da disputa, o governo do estado, então comandado por Rosinha, distribuiu “Cheque Cidadão, cestas básicas, kits escolares e até casa por R$ 1”.
Três dias antes da disputa, fiscais apreenderam 238 cheques na casa de Cosme Rangel do Rosário, que seria aliado do casal Garotinho. Os cheques estavam guardados em envelopes com o timbre do governo do estado. Mesmo detido, Cosme deixou a casa aplaudido por partidários. Na noite do dia 29 de outubro de 2004, dois dias antes do segundo turno, oficiais de Justiça flagraram na sede do PMDB dirigentes do partido distribuindo R$ 318 mil em espécie para cerca de 50 pessoas. Garotinho estava no lugar e alegou que o dinheiro era “todo certinho”. Para a Justiça, porém, não havia qualquer comprovação da origem do dinheiro.
Na visão do vereador Rafael Diniz (PPS), é preciso verificar todas as denúncias. “As denúncias sobre uso político do Cheque Cidadão precisam ser devidamente apuradas. A população de Campos merece uma campanha limpa. Estamos atentos e temos coragem para revelar todos os possíveis abusos”, comentou.
LDO 2017 aprovada na sessão dessa terça
A Câmara também aprovou, durante a sessão dessa terça, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o ano de 2017. A LDO traz projeções sobre as receitas e os gastos do município para o próximo ano, que tem orçamento estimado em R$ 1,6 bilhão. Mesmo sem saber quem estará no comando no próximo ano, oposicionistas apresentaram emendas e tentaram barrar o “cheque em branco” que autoriza remanejamento de 50% sem a necessidade de passar pela Câmara. “Temos que ser coerentes. Independente de quem assuma o governo, é hora de acabar com esse cheque em branco”, disse Rafael Diniz. Porém, os oposicionistas e “independentes” foram atropelados pelo “rolo compressor”, que manteve o remanejamento de 50%.
Foram aprovadas emendas da oposição que tratam sobre aumento da meta de distribuição gratuita de fraldas, valorização da Agricultura e uma sobre dragagem e recursos de água. Já a emenda que inclui a apresentação da certidão de débitos trabalhistas para as empresas que mantém contrato com a Prefeitura, foi rejeitada pela maioria.
Por fim, a oposição apresentou a emenda modificativa nº 005/2016. “Ela tem o objetivo de resguardar o direito do concursado, dando prioridade à convocação destes mediante a contratação temporária”, explicou Diniz. Governistas afirmaram que não há contratado temporário em vaga de concursado na Prefeitura. A emenda acabou sendo rejeitada, mas a oposição apontou falta de quórum necessário.
Alexandre Bastos/Fotos: Michelle Richa/Show Francisco
Nenhum comentário:
Postar um comentário