segunda-feira, 14 de novembro de 2016

“Deixar nossa cidade tranquila”


Daniela Abreu/Foto: Rodrigo Silveira

Com 92 anos de implantação, o 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Campos, que atende também aos municípios de São João da Barra, São Francisco de Itabapoana e São Fidélis, recebeu nos últimos três anos seis comandantes. O último a comandar os 1.050 policiais que atuam nos quatro municípios da área de cobertura do 8º BPM foi o tenente-coronel Marco Aurélio Louzada, que na última terça-feira (8) deixou o lugar para o campista Fabiano Santos de Souza. Nascido e criado em Guarus, casado há dez anos, ele escolheu permanecer em Campos para criar seus dois filhos. No comando do 8º BPM, o tenente-coronel Fabiano, que veio do sub-comando do 36º BPM de Itaperuna, mas já passou pelo 32º BPM e pela chefia de operações do 6º Comando de Policiamento de Área (CPA), espera contribuir para que Campos cresça com níveis toleráveis do que classifica como ‘inevitável’, a violência. Diante do desafio e das dificuldades que sabe que encontrará, Fabiano aposta no sentimento de pertencimento para estimular a tropa.

Desafios com 8º Batalhão
O 8º Batalhão não me assusta. Ele tem uma área muito grande, são quatro municípios. É um Batalhão com destaque no Estado, classe A. Na verdade ele é de comando de coronel de último posto. Eu fui promovido a tenente-coronel em abril deste ano, só tenho sete meses de tenente-coronel, e para eu entrar no quadro de acesso à promoção de último posto, são três anos. Então o ideal seria eu vir para cá já tendo passado por outra unidade como comando, mas o comandante de área, que é o coronel Baracho, entende que por eu ser daqui seria interessante. Eu tenho minha vida aqui. Eu fui trabalhar fora, mas continuei morando em Campos, não me mudei com a família. Eu casei aqui, meus dois filhos nasceram aqui, eu continuei com minha vida em Campos. A minha vida é aqui. É importante que eu não desista diante do desafio, por que Campos não é mais a mesma coisa que eu deixei quando saí desse batalhão, 10 anos atrás. Não é mais. Ontem (quinta-feira) fiquei até meia-noite rodando a cidade, fui lá no Sapo I, fui no Sapo II e eu fiquei apavorado com o tamanho daquilo porque cresceu muito. Como também em Nova Goitacazes, Donana, no dia que eu assumi, eu fui lá, na terça-feira. A cidade mudou, mas não me apavora.

Índices de crimes
O que eu preciso, e tenho falado em todos os meios de comunicação, é de ajuda da população. Através do Disque Denúncia, que a população denuncie. Quem está morando numa rua há vários anos, viu uma casa com um movimento diferente, pessoas diferentes, denuncie pelo 2723-1177. A pessoa não precisa se identificar, a gente quer só o fato. Teve um roubo, uma pessoa foi assaltada, furtada, teve arrombamento em residência, registra. A gente trabalha em cima da mancha criminal. Tem um sistema de metas estipuladas pelo Governo do Estado que trabalha a letalidade violenta, o roubo de rua e o roubo de veículos. Então, a gente precisa que a pessoa faça o registro, que faça as notificações, para que possamos direcionar o policiamento em cima da mancha criminal, para que a gente alcance níveis aceitáveis. Nunca vamos conseguir zerar. Desde que o mundo é mundo, sempre existiu a violência: Caim matou Abel, esse foi o primeiro homicídio. Infelizmente, o homem tem essa tendência. O que a gente tem que fazer é trazer para níveis aceitáveis. A cidade cresceu, não é mais a mesma, mas o que eu preciso é da ajuda da população para direcionar o policiamento de forma eficaz e eficiente.

Redução de homicídios
Eu vou trabalhar com a inteligência do Batalhão, por que a gente sabe que essa questão do homicídio é uma briga entre facções criminosas que atuam no município e se intitulam TCP e ADA. O que eu vou fazer é um trabalho de inteligência em cima disso. Sem entrar muito na área investigativa, que é a área da Polícia Civil, mas a Civil só entra depois que acontece. Eu tenho que entrar antes, para que não aconteça. A gente já tem mapeado os traficantes e pessoas que estão na liderança dessas comunidades e quem está em guerra com quem, então eu vou trabalhar na questão da inteligência e prevenção com o policiamento na rua, para tentar evitar esses homicídios.

Denúncia para conter homicídio
O que se tem que fazer, simultaneamente, são os levantamentos, através de inteligências e operações, além das informações da população se, por um acaso, houver um homicídio, para que telefonem e denunciem quem foi o homicida. Eu garanto que essas pessoas não serão identificadas, porque existe um medo natural, as pessoas têm medo, mas podem confiar no Disque Denúncia por que jamais a fonte é revelada.

Migração de criminosos para Campos
Na medida em que o desenvolvimento e o progresso vêm, as coisas ruins também vêm a reboque. Com certeza as pessoas estão vendo que Campos está crescendo, então vêm pessoas de regiões querendo se instalar aqui com coisas ilícitas, que seja o tráfico de drogas ou outros ilícitos. Acho que em qualquer lugar do mundo onde haja um local que cresce, vêm pessoas de outros lugares, por que aquela região começa a chamar atenção. Aí vêm pessoas de boa índole para trabalhar, como vêm pessoas de má índole para cometer e tentar expandir negócios ilegais.

Efetivo do 8º BPM
Eu, como comandante, posso falar que quanto maior o efetivo, melhor. Mas eu acho que com o quantitativo atual [1.050 policiais] tem como se trabalhar sim. Tem que ser otimizado, tem que ser planejado, tem que ter a colaboração da população para direcionar o policiamento. Não existe, em lugar nenhum do mundo, um policial na nossa esquina ou na nossa porta. O que a gente tem que fazer é um planejamento, bem elaborado, e uma gestão eficiente para atender a demanda. Lógico que, se eu receber mais efetivo, melhora o trabalho. Mas não quer dizer que não tem como desenvolver um bom serviço com o que eu tenho na mão. O que eu preciso é de responsabilidade das pessoas, de entender que a segurança pública também não é só polícia, é uma questão de outros órgãos envolvidos. É uma integração do Executivo, Legislativo e Judiciário. É uma engrenagem que a ponta da linha é a polícia, mas a gente precisa de uma engrenagem toda funcionando bem para que as coisas aconteçam da melhor maneira possível.

Funcionamento dos DPOs

O que a Polícia Militar faz é um levantamento operacional. Antes de um destacamento existir, há um levantamento feito pela Sessão de Operações, chamada P3, que vai estudar o índice criminal na localidade para ver se valida, se o DPO [Destacamento de Policiamento Ostensivo] pode existir ali ou não. Vamos supor que através desse levantamento seja identificado que o batalhão precisa de um DPO ou um novo batalhão, isso é levado para o comandante-geral que decide ou leva ao secretário de Segurança.
Batalhão em Guarus — É um anseio o Batalhão de Guarus, mas ainda não tenho notícias concretas a dar sobre isso.
Distribuição da segurança nos municípios do 8º BPM — É de forma otimizada. Eu tenho que otimizar os recursos em cima da mancha criminal que chega a mim. É tudo direcionado ao 8º BPM, mas o que acontece de forma coordenada, acontece também nos demais municípios.

Policias desestimulados com crise no Estado
A crise está em todo o país, não só no Estado do Rio. A gente tem que acreditar sempre no melhor e eu acredito que essa situação vai ser passageira, e vai se achar uma solução. Os policiais do meu batalhão estão estimulados para o trabalho, porque eu tenho trabalhado o pertencimento com eles. Nós somos daqui, moramos aqui, as nossas famílias circulam aqui, a minha família circula aqui como a de toda tropa. E a tropa já me conhece há 20 anos. Não desmerecendo o colega que saiu, mas a minha vinda para cá, a minha proposta de trabalho com a minha tropa é o pertencimento. Não é porque o meu salário pode vir a atrasar, que pode ter uma dificuldade financeira, que a gente vai deixar de trabalhar. Nós moramos aqui e somos clientes do nosso próprio serviço. A gente não quer não poder andar em Campos, como acontece em outras cidades brasileiras. Eu posso sair daqui fardado no meu carro particular, em certas cidades não se pode fazer isso. Não quero que a Campos que eu moro, a Campos que eu nasci, tenho meus filhos e amanhã terei netos e bisnetos, fique violenta a ponto de a gente ter horário pra ficar na rua, não poder chegar tarde de um cinema. Eu não quero essa Campos para mim. Isso eu tenho trabalhado com meus policiais. Independentemente de atraso de salário e do que possa acontecer, a minha tropa está imbuída da gente deixar a nossa cidade tranquila.
Show Francisco

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