Guia chama atenção para o problema e sugere medidas para evitar progressão
Consumo precoce da bebida aumenta a chance de usar o álcool de forma abusiva na vida adulta (foto: Marcelo Camargo / ABR
Da redação, com Agência Brasil
Na contagem regressiva para o carnaval – que oficialmente começa no próximo dia 25 – a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar o Guia Prático de Orientação. O principal objetivo é alertar pediatras, pais, professores e os próprios adolescentes para os prejuízos do consumo precoce de bebidas alcoólicas entre jovens. Está constatado que é a principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos de idade em todas as regiões do mundo.
Trata-se de um período em que há forte estímulo para a ingestão de bebidas alcoólicas ea a iniciativa do Departamento de Adolescência da SBP pretende mobilizar entidades, educadores, familiares que atuam com crianças e adolescentes na prevenção do uso de álcool na fase de desenvolvimento e promover hábitos saudáveis entre os jovens.
A pediatra Luciana Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, entende que, “de fato, as crianças e os adolescentes precisam de orientações seguras para melhorar a qualidade de vida e seus hábitos”, e resume: “porque sabemos que há uma exposição prejudicial deles ao álcool e às drogas”.
Estudos científicos citados no guia apontam que quase 40% dos adolescentes brasileiros experimentaram álcool pela primeira vez entre 12 e 13 anos, em casa. A maioria deles bebe entre familiares e amigos, estimulados por conhecidos que já bebem ou usam drogas.
Entre adolescentes de 12 a 18 anos que estudam nas redes pública e privada de ensino, 60,5% declararam já ter consumido álcool.
As pesquisas mostram que o tipo de bebida mais consumida entre os jovens varia de acordo com a região. No Norte e Nordeste do país, a preferência é pela cerveja, seguida do vinho, enquanto no Centro-Oeste, Sudeste e Sul há consumo maior de destilados, como vodca, rum e tequila.
Essas últimas, geralmente são mais consumidas em “baladas”, onde é comum a mistura de álcool a outras bebidas não alcoólicas, como refrigerantes ou sucos. Os médicos ressaltam que quanto menor a idade de início da ingestão de bebida alcoólica, maiores as possibilidades de se tornar um usuário dependente ao longo da vida. De acordo com pesquisas, o consumo antes dos 16 anos aumenta significativamente o risco de beber em excesso na idade adulta.
“O indivíduo adolescente está numa idade em que parte do cérebro ainda está se formando e que o comportamento impulsivo é muito grande. Quem bebe precocemente tem muita chance de usar o álcool de forma abusiva na vida adulta”, explica Luciana Silva. Para especialistas, o consumo precoce pode levar a uma série de consequências nocivas.
CUSTO SOCIAL DO USO ABUSIVO TAMBÉM É MUITO ELEVADO
Os adolescentes que se expõem ao uso excessivo de álcool podem ter sequelas neuroquímicas, emocionais, déficit de memória, perda de rendimento escolar, retardo no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades, entre outros problemas. O custo social do uso abusivo de álcool também é elevado. Os adolescentes ficam mais expostos a situações de violência sexual e tendem a apresentar comportamento de risco.
Em meio a esse comportamento arriscado está praticar atividade sexual sem proteção, o que pode levar à gravidez precoce e à exposição a doenças sexualmente transmissíveis. O alcoolismo entre 12 e 19 anos também eleva a probabilidade de envolvimento dos jovens em acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e incidentes com armas de fogo. “A mortalidade nessa faixa etária está intimamente ligada ao consumo precoce do álcool”, alerta a pediatra.
Em levantamento feito recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) “descobriu” que cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem a cada ano no mundo devido ao consumo excessivo de álcool. O índice chega a 4% do total da mortalidade mundial e é maior do que as mortes registradas em decorrência da AIDS ou tuberculose.
Dados reunidos por especialistas através da SBP revelam que o consumo de álcool e drogas durante a adolescência está associado a vários fatores, como a sensação juvenil de onipotência, o desafio à estrutura familiar e social, à curiosidade e impulsividade, necessidade de aceitação, busca de novas experiências e baixa autoestima.
De acordo com a psicoterapeuta cognitivo-comportamental, Laís Tavares, o motivo disso é que o álcool acaba sendo uma ferramenta para encorajamento e interação social entre os adolescentes. “Nessa fase da vida já é comum achar que tudo pode e que temos o controle de tudo”.
A psicóloga alerta que o jovem quer tudo de imediato e começa a usar a bebida alcoólica para dar suporte em momentos de dor, se sentir parte de algum grupo, fazendo com que ele aja por desejo, sem um julgamento. “Além de que, quando o uso começa a ser feito apenas por necessidade, aí que mora o perigo”.
RECOMENDAÇÕES PASSAM ATÉ PELO PODER PÚBLICO
As consequências do uso abusivo do álcool na infância e na adolescência são graves. Diante dessa constatação, a Sociedade Brasileira de Pediatria faz diversas recomendações aos médicos, educadores e familiares. Entre outros pontos, a entidade defende o fortalecimento da articulação entre as áreas de saúde e de educação para promover ações que estimulem hábitos mais saudáveis.
O guia recomenda que, durante as consultas, o pediatra se mostre aberto às dúvidas e aos questionamentos dos jovens e a ouvir as demandas dos pacientes sem julgá-los, além de trazer esclarecimentos e apontar caminhos de prevenção. “Os pediatras têm papel como educadores e orientadores das famílias, no sentido de mostrar as consequências reais e os danos a curto e longo prazo”.
Já aos pais e familiares, a SBP recomenda a não ingestão de álcool durante os períodos de gestação e amamentação, a não exposição de crianças ao uso de bebidas alcoólicas em festas familiares ou outras situações sociais e, principalmente, a orientar e conversar com os filhos sobre os riscos do consumo precoce. As recomendações incluem ainda a responsabilidade dos gestores públicos, nas esferas municipal, estadual e federal.
A SBP sugere que a questão do uso do álcool e das drogas seja tratada como um problema de saúde pública. Segue as diretrizes da Organização mundial da Saúde. “Para nós, é indispensável o acesso à informação. Precisamos de medidas mais sérias, vindas do governo e de campanhas nas escolas, para que as crianças e os adolescentes se informem de que não devem se expor a volumes muito grandes de bebidas e drogas nessa faixa etária”, reforça Luciana Silva.
MAIS CAMPANHAS DE PREVENÇÃO
O Guia Prático chama a atenção para a forte influência de amigos que usam drogas e de um ambiente familiar conturbado e desestruturado como fatores determinantes para o envolvimento precoce de crianças e adolescentes com o álcool. Segundo a SBP, além dos fatores individuais de predisposição juvenil, colaboram ainda o fácil acesso às bebidas no Brasil e o marketing que associa o álcool a prazer, sucesso, beleza e poder.
Regulamentado pela Lei 13.106/ 2015, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que vender ou oferecer bebida alcoólica para menores de 18 anos é crime que pode resultar em detenção de dois a quatro anos do vendedor, aplicação de multa de até R$ 10 mil ou interdição do local de venda.
A lei não limita as punições aos comerciantes. Qualquer adulto, inclusive familiares ou amigos que oferecem bebidas alcoólicas a criança ou adolescente, está sujeito às sanções. A legislação brasileira também restringe o horário de veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas em emissoras de rádio e televisão.
O guia ainda alerta sobre a responsabilidade dos gestores públicos, nas esferas municipal, estadual e federal, principalmente na restrição da oferta de bebidas aos adolescentes e no aumento da fiscalização da idade mínima, de 18 anos, permitida para beber.
O promotor de justiça da 2ª Promotoria da Infância e Juventude de Campos, José Luiz Pimentel, defende que o aumento da fiscalização nos bares e casas de show seria essencial para coibir as vendas para menores de idade. “É um trabalho que deve ser realizado por vários meios, principalmente na mídia com a conscientização”.
“No momento temos apenas três fiscais comissionados responsáveis pelas fiscalizações [em Campos], e seriam necessários pelo menos dez. É quase como enxugar gelo. Os estabelecimentos devem ser responsáveis por esse controle”, aponta Pimentel, lembrando que o estabelecimento que for autuado por vendar bebidas a menores podem pagar multa de três a vinte salários.
Está também previsto na Lei 9.294 (1996) que propagandas de incentivo ao consumo de álcool só podem ser exibidas das 21h às 6h e não devem estar associadas à ideia de maior êxito e desempenho em qualquer atividade, como esporte, condução de veículos ou sexualidade. A Sociedade Brasileira de Pediatria ressalta, contudo, que no Brasil a falta de aplicação da lei e a permissividade das famílias têm estimulado o consumo precoce de álcool.
Consumo precoce da bebida aumenta a chance de usar o álcool de forma abusiva na vida adulta (foto: Marcelo Camargo / ABR
Da redação, com Agência Brasil
Na contagem regressiva para o carnaval – que oficialmente começa no próximo dia 25 – a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar o Guia Prático de Orientação. O principal objetivo é alertar pediatras, pais, professores e os próprios adolescentes para os prejuízos do consumo precoce de bebidas alcoólicas entre jovens. Está constatado que é a principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos de idade em todas as regiões do mundo.
Trata-se de um período em que há forte estímulo para a ingestão de bebidas alcoólicas ea a iniciativa do Departamento de Adolescência da SBP pretende mobilizar entidades, educadores, familiares que atuam com crianças e adolescentes na prevenção do uso de álcool na fase de desenvolvimento e promover hábitos saudáveis entre os jovens.
A pediatra Luciana Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, entende que, “de fato, as crianças e os adolescentes precisam de orientações seguras para melhorar a qualidade de vida e seus hábitos”, e resume: “porque sabemos que há uma exposição prejudicial deles ao álcool e às drogas”.
Estudos científicos citados no guia apontam que quase 40% dos adolescentes brasileiros experimentaram álcool pela primeira vez entre 12 e 13 anos, em casa. A maioria deles bebe entre familiares e amigos, estimulados por conhecidos que já bebem ou usam drogas.
Entre adolescentes de 12 a 18 anos que estudam nas redes pública e privada de ensino, 60,5% declararam já ter consumido álcool.
As pesquisas mostram que o tipo de bebida mais consumida entre os jovens varia de acordo com a região. No Norte e Nordeste do país, a preferência é pela cerveja, seguida do vinho, enquanto no Centro-Oeste, Sudeste e Sul há consumo maior de destilados, como vodca, rum e tequila.
Essas últimas, geralmente são mais consumidas em “baladas”, onde é comum a mistura de álcool a outras bebidas não alcoólicas, como refrigerantes ou sucos. Os médicos ressaltam que quanto menor a idade de início da ingestão de bebida alcoólica, maiores as possibilidades de se tornar um usuário dependente ao longo da vida. De acordo com pesquisas, o consumo antes dos 16 anos aumenta significativamente o risco de beber em excesso na idade adulta.
“O indivíduo adolescente está numa idade em que parte do cérebro ainda está se formando e que o comportamento impulsivo é muito grande. Quem bebe precocemente tem muita chance de usar o álcool de forma abusiva na vida adulta”, explica Luciana Silva. Para especialistas, o consumo precoce pode levar a uma série de consequências nocivas.
CUSTO SOCIAL DO USO ABUSIVO TAMBÉM É MUITO ELEVADO
Os adolescentes que se expõem ao uso excessivo de álcool podem ter sequelas neuroquímicas, emocionais, déficit de memória, perda de rendimento escolar, retardo no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades, entre outros problemas. O custo social do uso abusivo de álcool também é elevado. Os adolescentes ficam mais expostos a situações de violência sexual e tendem a apresentar comportamento de risco.
Em meio a esse comportamento arriscado está praticar atividade sexual sem proteção, o que pode levar à gravidez precoce e à exposição a doenças sexualmente transmissíveis. O alcoolismo entre 12 e 19 anos também eleva a probabilidade de envolvimento dos jovens em acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e incidentes com armas de fogo. “A mortalidade nessa faixa etária está intimamente ligada ao consumo precoce do álcool”, alerta a pediatra.
Em levantamento feito recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) “descobriu” que cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem a cada ano no mundo devido ao consumo excessivo de álcool. O índice chega a 4% do total da mortalidade mundial e é maior do que as mortes registradas em decorrência da AIDS ou tuberculose.
Dados reunidos por especialistas através da SBP revelam que o consumo de álcool e drogas durante a adolescência está associado a vários fatores, como a sensação juvenil de onipotência, o desafio à estrutura familiar e social, à curiosidade e impulsividade, necessidade de aceitação, busca de novas experiências e baixa autoestima.
De acordo com a psicoterapeuta cognitivo-comportamental, Laís Tavares, o motivo disso é que o álcool acaba sendo uma ferramenta para encorajamento e interação social entre os adolescentes. “Nessa fase da vida já é comum achar que tudo pode e que temos o controle de tudo”.
A psicóloga alerta que o jovem quer tudo de imediato e começa a usar a bebida alcoólica para dar suporte em momentos de dor, se sentir parte de algum grupo, fazendo com que ele aja por desejo, sem um julgamento. “Além de que, quando o uso começa a ser feito apenas por necessidade, aí que mora o perigo”.
RECOMENDAÇÕES PASSAM ATÉ PELO PODER PÚBLICO
As consequências do uso abusivo do álcool na infância e na adolescência são graves. Diante dessa constatação, a Sociedade Brasileira de Pediatria faz diversas recomendações aos médicos, educadores e familiares. Entre outros pontos, a entidade defende o fortalecimento da articulação entre as áreas de saúde e de educação para promover ações que estimulem hábitos mais saudáveis.
O guia recomenda que, durante as consultas, o pediatra se mostre aberto às dúvidas e aos questionamentos dos jovens e a ouvir as demandas dos pacientes sem julgá-los, além de trazer esclarecimentos e apontar caminhos de prevenção. “Os pediatras têm papel como educadores e orientadores das famílias, no sentido de mostrar as consequências reais e os danos a curto e longo prazo”.
Já aos pais e familiares, a SBP recomenda a não ingestão de álcool durante os períodos de gestação e amamentação, a não exposição de crianças ao uso de bebidas alcoólicas em festas familiares ou outras situações sociais e, principalmente, a orientar e conversar com os filhos sobre os riscos do consumo precoce. As recomendações incluem ainda a responsabilidade dos gestores públicos, nas esferas municipal, estadual e federal.
A SBP sugere que a questão do uso do álcool e das drogas seja tratada como um problema de saúde pública. Segue as diretrizes da Organização mundial da Saúde. “Para nós, é indispensável o acesso à informação. Precisamos de medidas mais sérias, vindas do governo e de campanhas nas escolas, para que as crianças e os adolescentes se informem de que não devem se expor a volumes muito grandes de bebidas e drogas nessa faixa etária”, reforça Luciana Silva.
MAIS CAMPANHAS DE PREVENÇÃO
O Guia Prático chama a atenção para a forte influência de amigos que usam drogas e de um ambiente familiar conturbado e desestruturado como fatores determinantes para o envolvimento precoce de crianças e adolescentes com o álcool. Segundo a SBP, além dos fatores individuais de predisposição juvenil, colaboram ainda o fácil acesso às bebidas no Brasil e o marketing que associa o álcool a prazer, sucesso, beleza e poder.
Regulamentado pela Lei 13.106/ 2015, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que vender ou oferecer bebida alcoólica para menores de 18 anos é crime que pode resultar em detenção de dois a quatro anos do vendedor, aplicação de multa de até R$ 10 mil ou interdição do local de venda.
A lei não limita as punições aos comerciantes. Qualquer adulto, inclusive familiares ou amigos que oferecem bebidas alcoólicas a criança ou adolescente, está sujeito às sanções. A legislação brasileira também restringe o horário de veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas em emissoras de rádio e televisão.
O guia ainda alerta sobre a responsabilidade dos gestores públicos, nas esferas municipal, estadual e federal, principalmente na restrição da oferta de bebidas aos adolescentes e no aumento da fiscalização da idade mínima, de 18 anos, permitida para beber.
O promotor de justiça da 2ª Promotoria da Infância e Juventude de Campos, José Luiz Pimentel, defende que o aumento da fiscalização nos bares e casas de show seria essencial para coibir as vendas para menores de idade. “É um trabalho que deve ser realizado por vários meios, principalmente na mídia com a conscientização”.
“No momento temos apenas três fiscais comissionados responsáveis pelas fiscalizações [em Campos], e seriam necessários pelo menos dez. É quase como enxugar gelo. Os estabelecimentos devem ser responsáveis por esse controle”, aponta Pimentel, lembrando que o estabelecimento que for autuado por vendar bebidas a menores podem pagar multa de três a vinte salários.
Está também previsto na Lei 9.294 (1996) que propagandas de incentivo ao consumo de álcool só podem ser exibidas das 21h às 6h e não devem estar associadas à ideia de maior êxito e desempenho em qualquer atividade, como esporte, condução de veículos ou sexualidade. A Sociedade Brasileira de Pediatria ressalta, contudo, que no Brasil a falta de aplicação da lei e a permissividade das famílias têm estimulado o consumo precoce de álcool.
Show Francisco
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