domingo, 28 de maio de 2017

Arranhando o céu da planície

Poucas cidades do interior do país cresceram tanto verticalmente quanto Campos nas últimas três décadas
CAMPOS /POR LAILA NUNES/
Ulli Maques e Laila Nunes

Embora Campos esteja situada em uma planície, nos últimos anos tem sido difícil contemplar a linha reta do horizonte. É que ao invés de crescer para os lados — e território não falta para isso —, o município vem seguindo o padrão das grandes metrópoles e expandindo para cima. Basta olhar ao redor: prédios cada vez mais altos fazem parte da paisagem campista. Entre modestos e luxuosos (alguns, inclusive, poderiam estar situados nas áreas nobres das capitais, tamanha a ostentação), os edifícios dão a Campos o tom da modernidade e do progresso.

Falta um levantamento preciso quanto ao número de prédios instalados na cidade, mas segundo a estimativa do setor de Cadastro Imobiliário da Secretaria Municipal de Fazenda, órgão público responsável pela concessão de permissão para a construção de edifícios, Campos possui cerca de 2.780 prédios com mais de um pavimento, seja de uso residencial, comercial ou misto. Diante desse dado, não seria exagero afirmar que, em relação à região metropolitana do Estado Rio de Janeiro, o município abriga o segundo maior quantitativo de edifícios, atrás apenas de Niterói. Esse posto pode até não ser digno de honrarias e comemorações, mas não deixa de ser um fato curioso. Haja vista que a arquitetura reflete a sociedade e o seu tempo, as diferenças entre os prédios mais antigos e os mais novos são nítidas.

Segundo o arquiteto e urbanista, João Carlos Coutinho, a principal delas é a distribuição dos espaços. Você já imaginou encontrar um apartamento com boa localização, próximo à área central da cidade e com área de 120m²? Parece impossível, mas assim eram os imóveis dos primeiros edifícios construídos em Campos. — A tecnologia encheu as nossas vidas de equipamentos e objetos que antes não dispúnhamos. Temos televisores, sofás e camas de dimensões cada vez maiores, e eletrodomésticos que nossas avós nem poderiam imaginar; mas o espaço útil dos imóveis vem diminuindo. Isso aconteceu devido à especulação imobiliária. Quanto menores as casas e apartamentos, mais casas e apartamentos podem ser construídos em um mesmo terreno, abrigando mais famílias e, consequentemente, gerando mais lucro — afirmou o arquiteto.

Os dois primeiros prédios residenciais da cidade são o Edifício José do Patrocínio, localizado na Rua do Gás, próximo à Rua Tenente-Coronel Cardoso (antiga Formosa), que possui mais de 60 anos; e o Edifício Concorde, que fica na Avenida Bartolomeu Lyzandro, no Jardim Carioca, com pouco mais de 30 anos. Um é no Centro e o outro em Guarus. Um tem cerca de 30 anos e o outro o dobro, mas uma coisa há em comum nestes dois prédios: os moradores dali sequer cogitam mudar de endereço. Perto do Centro e, consequentemente, de uma variedade de estabelecimentos comerciais, esse detalhe torna-se um grande diferencial e atrativo para os condôminos citados acima.

A moradora do condomínio José do Patrocínio, Heloísa Machado Nunes, conta que seu apartamento é o único que foi vendido pelo proprietário. “Os outros foram alugados e é assim até hoje. Quando era mais nova, estava procurando um apartamento para comprar e pedi uma indicação ao meu irmão, que morava aqui perto, então ele me indicou este. Uma das coisas que mais me atraiu foi o tamanho dele, que é bem grande, e sua localização, que fica muito perto do Centro e de tantos outros comércios”, disse a moradora que reside no local há 31 anos.

O prédio possui sete andares com dois apartamentos em cada andar, totalizando uma média de 50 moradores. Se o prédio da Rua do Gás é muito estimado pelos moradores, o do Jardim Carioca também não fica para trás. A moradora Vera Regina Henriques Gomes, de 72 anos, diz que o Concorde oferece uma vista privilegiada da cidade. “Quando saía para trabalhar e passava pela linha de trem, sempre olhava para o prédio que estava em construção e pensava que um dia iria morar naquele lugar. Depois de um tempo, tivemos condições de comprar um apartamento e desde então nunca tive vontade de ir para outro endereço. Ele ficava próximo ao meu local de trabalho, dava para ir a pé para o Centro, além de ter se tornado meu porto seguro”, disse a moradora que também já foi síndica do prédio por seis anos. Ainda de acordo com a moradora, o prédio — que na época era considerado de luxo — foi construído pelo engenheiro Elias Vasconcelos. “Na época, muitas pessoas estavam vindo para a região para trabalhar na Petrobras, então ele foi construído para estes trabalhadores”, disse Vera ressaltando que o prédio possui 10 andares, cada um com dois apartamentos com cerca de 40 moradores.

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