sábado, 24 de junho de 2017

Atafona se mobiliza para conter o avanço do mar, que engole imóveis

Desde os anos 1960, o mar já retomou pelo menos 14 quarteirões da localidade. Ressaca pode acelerar processo
Foto: Divulgação

O alerta para ondas de até 2,5 metros neste sábado (24) aumentou as preocupações de moradores de Atafona, no litoral norte fluminense. Eles temem que a ressaca acelere o processo de invasão do mar sobre o distrito de São João da Barra, que há décadas perde imóveis, que estão totalmente submersos.

Desde os anos 1960, o mar já retomou pelo menos 14 quarteirões da localidade. No sábado passado, moradores se juntaram à prefeitura para lançar um abaixo-assinado pedindo medidas urgentes para a região. Cerca de 2,5 mil assinaturas foram coletadas; o objetivo é chegar a 20 mil para enviar o documento aos poderes Legislativo e Executivo do Estado e da União.

O abaixo-assinado pede a construção de um quebra-mar, com nove espigões enraizados na praia e um aterro hidráulico. A prefeita Carla Machado ressalta que o valor da obra, entre R$ 140 milhões e R$ 180 milhões, não pode ser bancado pelo município. “É preciso que esse clamor ecoe alto nos ouvidos das autoridades”, disse.

Em 1994, O DIA noticiou que o mar avançou 500 metros sobre a Ilha da Convivência e o Pontal e inundou uma área de mais de 100 mil metros quadrados. Mais de mil pessoas ficaram desalojadas; a Capela de São Pedro virou ruínas.

Hoje, no pedaço de terra colonizado no Aéculo 18 por sobreviventes do naufrágio de um navio holandês já não há mais nada. Para os pescadores da região, a devastação tinha um culpado divino. A construção da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes (submersa em 1992) foi construída de costas para o mar, fazendo com que ele se rebelasse.

A cada ressaca, há uma nova tragédia: em 1996, O DIA noticiou que 100 casas tinham sido levadas pelo avanço do mar; três anos depois, o número tinha subido para 800, e sob as águas estavam também o posto de gasolina e o Farol de Atafona. Este último mudaria três vezes de lugar até 2008.

Em seus 27 anos, o professor Pedro Henrique de Araújo observou várias indas e vindas do mar. Uma perda ficou marcante: o Hotel do Julinho, prédio de quatro andares que desabou em 2008. As ruínas viraram ponto turístico de quem quer testemunhar um cenário apocalíptico. As paredes foram tomadas por pichações bíblicas, com citações do livro do Êxodo.

Reagir ou se adaptar à natureza
Alterações no delta do Paraíba do Sul, cuja foz fica ao lado de Atafona, diminuíram a vazão do rio e permitiram o avanço do mar. O professor da Coppe/UFRJ Paulo Rosman explica que modificações no clima de ondas dominantes também têm papel erosivo.

Fé e tradição nas ruas de Atafona
Para ele, a área deveria ser desapropriada para renaturalização e construção de um parque. Uma obra de retenção custaria mais que o patrimônio a ser protegido, e não seria definitiva: “Ou brigamos com a natureza ou nos adaptamos”.

Professor de Oceanografia da Uerj, David Zee alerta que outras cidades litorâneas podem sofrer avanços do mar parecidos. “Devem-se antecipar as soluções e não reagir aos problemas. Esse fenômeno é relacionado às mudanças climáticas e à mudança de comportamento do homem”, disse.

Fonte: O Dia

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