domingo, 27 de agosto de 2017

Reforma política prevê perdão de quase R$ 700 milhões em multas eleitorais

Políticos e partidos multados por desrespeito à legislação eleitoral 
em todo o país podem ter 90% de suas dívidas anistiadas. 
Ao todo 12 mil devedores serão beneficiados com a medida.

Brasília
Evandro Éboli
Arquivo/Gazeta do Povo

Uma das propostas da reforma política que tramita na Câmara prevê 
a anistia de nada menos que 90% do valor das multas eleitorais 
aplicadas no país até hoje. O valor total dessa dívida hoje é de 
R$ 768,7 milhões. Se for aprovado esse "Refis Eleitoral", os cofres 
públicos deixarão de recolher R$ 691,8 milhões. A lista da 
Procuradoria Geral da Fazenda Nacional registra 12 mil devedores 
que cometeram irregularidades eleitorais. Destes, 8,2 mil 
são pessoas físicas e 4,1 mil são pessoas jurídicas.

Essa ampla anistia consta num dos relatórios do deputado 
Vicente Cândido (PT-SP), que está previsto para ser votado 
nesta quarta-feira (23) numa das comissões especiais. A ideia de 
incluir isso no texto foi do deputado Édio Lopes (PR-RO) e tem 
o apoio de vários colegas. Eles argumentam que há exageros nessas 
multas e que uma notificação por propaganda irregular tem o valor
 multiplicado várias vezes. E, segundo eles, é preciso uma dosimetria
 na contabilidade dessas dívidas. Os defensores desse perdão 
pecuniário negam comparação com o Refis comum e dizem 
que a diferença é que, no que estão propondo, o contribuinte 
não é lesado.

"E o outro Refis proposto dá um desconto de 99% e pagamento 
a perder de vistas', diz Lopes, sobre o projeto do Refis relatado
 pelo deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG) e que 
beneficia dezenas de políticos.

"Não estamos exagerando em nada. Esse desconto de 90% é trazer 
essa dívida para algo mais real e torná-la pagável. Estamos trazendo
 para entidades representativas subsidiadas por dinheiro público 
esse precedente da iniciativa privada. É uma nova dosimetria de 
multas. Por um erro formal, muitas vezes uma multa de R$ 10 mil 
vira R$ 50 mil, R$ 100 mil", disse Vicente Cândido.
Pessoas físicas

Entre os cinco maiores devedores no ranking de multa eleitoral, 
que consta na Dívida da União, três são pessoas físicas. Há empresas 
e partidos políticos. José Carlos Moretes do Amaral, conhecido 
como Moretti do Puma, é o maior devedor. O então candidato a 
vereador do município de Colombo (PR), em 2008, recebeu uma 
multa de R$ 10 milhões por utilizar material de campanha contra 
um candidato a prefeito da cidade.Por conta dos encargos legais e 
juros acumulados após quase oito anos da aplicação da multa, 
Moretes do Amaral atualmente deve mais de R$ 21 milhões à 
Fazenda Nacional.

Édio Lopes aponta como exemplo do que entende ser um absurdo 
da legislação a multa aplicada a Doático Alcides Alves dos Santos,
 do PMDB do Paraná, que deve R$ 5 milhões ao erário. Ele está na 
lista de devedores porque,em 2008, ele não recolheu, no prazo de
30 dias após a eleição, suas peças de propaganda eleitoral e não
restaurou os locais onde as fixou. "Isso é um despropósito, sem 
cabimento", disse Lopes.

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