segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Sinais de recuperação da economia

Anúncio feito pelo Banco Central de crescimento do Produto Interno Bruto anima o empresariado da região
CAMPOS POR MARCOS CURVELLO


José Luiz Lobo Escocard, presidente da Acic. (Foto: Silvana Rust)

O Banco Central (BC) anunciou, no início da semana, a revisão da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2017 de 0,5% para 0,7% e estimou a inflação oficial em 3,2% neste ano. No início do mês, a autoridade monetária já havia corta a Selic em 1 ponto percentual, reduzindo a taxa a 8,25% ao ano. De acordo com o último relatório Focus, divulgado semanalmente pelo BC, a expectativa é de que os juros encerrem dezembro em 7%. Nesta quarta-feira (20), o Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, fechou acima dos 76 mil pontos pela primeira vez, após alta de 0,04%. Os dados sinalizam recuperação e começam a desenhar um quadro de crescimento pós-crise, em uma demonstração de que a economia começa a se descolar da política. Agora, a expectativa das entidades do setor produtivo em Campos é que estes bons ventos soprem também no município e na região. Isso por que Campos vive um contexto de tripla crise. O município é afetado não só pela recessão em que mergulhou o país, no fim de 2014, e o Estado do Rio de Janeiro, no ano seguinte, mas também pela queda do preço do petróleo no mercado internacional, que afetou diretamente as finanças de cidades petro-rentistas. De lá pra cá, as demissões cresceram, as poupanças tiveram grande volume de saque e o movimento no comércio minguou. A esperança é de que a queda dos juros e da inflação recuperem a confiança do consumidor e estimulem as compras. Em Campos, o comércio já começa a sentir o que José Luiz Lobo Escocard, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic) chama de “reação positiva”.

“Acredito que ainda não teremos números ideias este ano, mas há esperança entre o empresariado, pois esta retomada de confiança não está sedimenta só na classe A ou B. A melhoria de condições é da economia como um todo”, diz Escocard.

Apostas

A aposta, segundo José Luiz, reside principalmente naquelas datas tradicionalmente rentáveis para o comércio, como o Dia das Crianças e o Natal. “Estas datas normalmente são boas para o comércio, que, mesmo na crise, continua a vender. Pode até diminuir o volume do consumo, mas as pessoas continuam comprando. Então, agora, é esperado que volume de vendas aumente”.

Outro fator que deve contribuir, segundo o presidente da Acic, é o pagamento dos funcionários públicos do Estado. Embora a categoria continue mobilizada e, em alguns casos, paralisada, como os servidores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), devido ao não recebimento do 13º de 2016 e de parte do de 2017, Escocard acredita que a quitação dos salários atrasados de maio, junho e julho em agosto reflita no mercado.

“Os funcionários públicos do estado são uma classe que voltou a consumir nos últimos 30 dias. Falta só o pagamento do 13º. A tendência é que voltem consumir. Dinheiro entrando, o mercado vai perceber logo”, diz.

Na sexta-feira, o Governo do Estado creditou os vencimentos dos servidores ativos, aposentados e pensionistas que recebem até R$ 2.744 líquidos por mês. O que ainda deixou pendente o pagamento de agosto de 74.725 servidores.


Alexandre Delvaux, economista. (Foto: Silvana Rust)

Alternativas

Para o economista Alexandre Delvaux, a recuperação do Estado do Rio de Janeiro e de Campos será mais lenta do que a do restante do país uma vez que a recessão na região passa pela crise do petróleo, atrelada a um contexto internacional.

“Gradativamente, o PIB nacional vai se recuperando, o desemprego se reduz. Há uma tendência de se recuperar parte do que se perdeu nos últimos anos. Mas, em relação aos demais estados, no Rio a preocupação é maior por causa do petróleo. O modelo de desenvolvimento dependente dos royalties faz com que a recuperação seja mais lenta do que no restante do país”, avalia.

Delvaux afirma que é necessário buscar uma alternativa ao petróleo e estimular outras vocações para que o Rio volte a crescer. “Se não o fizer, o estado vai perder protagonismo econômico no país, pois o modelo petro-rentista está esgotado. Se não houver a busca por alternativas na indústria, no agronegócio, no turismo etc. vamos ficar para trás”, avalia o economista, para quem “o governo não criou um contexto de desenvolvimento que o tornasse independente do petróleo enquanto o preço da commodity estava em alta”.


Joílson Barcelos, presidente da CDL. (Foto: Silvana Rust)

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, Joílson Barcelos, concorda e diz que é preciso entrar “dinheiro novo” no município. “A grande preocupação hoje é fazer com que entre mais dinheiro do que saia em Campos. Há uma sangria porque a cidade não tem indústria. Só comércio. Assim, o dinheiro sai mais do que entra, o que enfraquece a economia. Mas, para isso, é preciso que chegue dinheiro novo. Pelo que a CDL sabe, empresas que queriam vir para Campos e mantinham esse interesse em banho-maria voltaram a considerar o assunto, o que é um fator animador”, diz.

Resultados da crise

De acordo com um levantamento feito pela CDL e divulgado no último dia 12, a crise levou, em Campos, ao fechamento de 700 lojas e de 2,1 mil postos de trabalho, considerando a média de três funcionários dispensados por estabelecimento. Considerando que cada família é formada por cerca de quatro membros, a falência de comércios no município pode ter afetado mais de 8 mil pessoas. Para Joílson, mesmo diante deste cenário, “há espaço para crescer”.

“O comércio continua na posição de maior empregador do município e ainda há espaço para crescer. Como reverter o fechamento das dezenas de lojas no curso deste ano e estimular a abertura de outros empreendimentos”, diz o presidente da CDL.

No momento, as entidades do setor produtivo se mobilizam em torno do novo Código Tributário do Município. O projeto de lei de iniciativa do Executivo tem 498 artigos e já foi aprovado em primeira discussão na última terça-feira.

Luta

“Nossa luta no momento é contra o aumento de carga tributária. A gente já teve um ano ruim. Por isso, as entidades, juntas, lutam por melhores condições no novo Código Tributário. Felizmente, a resposta dos políticos tem sido boa e temos conseguido chegar a um denominador comum que permita ao comerciante, ao industrial, respirar, enquanto o município readequá suas próprias receitas”, finaliza Escocard.

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