segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Garantir envelhecimento populacional com qualidade é um dos desafios enfrentados pelo Brasil


Profissões ligadas aos cuidados com os idosos são as profissões do futuro, diz vice-presidente do Conselho Nacional da Pessoa Idosa (CNDPI), Bahij Amin Auh. –
Foto: Arquivo/Marcelo Camargo/Agência Brasil

Instituído em 1990 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para homenagear os mais velhos e também chamar a atenção para as questões que os envolvem, o Dia Internacional do Idoso é comemorado neste domingo (1º). No Brasil, o desafio é duplo. O país, que era considerado jovem, vive o aumento da expectativa de vida, que está mudando esse quadro. Até 2060, a população com 80 anos ou mais deve somar 19 milhões de pessoas, diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até lá, o país tem o desafio de promover a valorização das pessoas mais velhas e garantir políticas para que elas envelheçam com qualidade.

Na opinião do vice-presidente do Conselho Nacional da Pessoa Idosa (CNDPI), Bahij Amin Auh, a mudança começa com educação. “O Brasil conquistou a vitória de aumentar a longevidade da sua população. Hoje, vive-se mais – a média de expectativa de vida da população brasileira é de mais de 75 anos. Agora, é preciso um amplo programa educacional, para que toda a população tenha noções básicas sobre o processo de envelhecimento, para que valorize e respeite a pessoa idosa”. Hoje, já há previsão legal, inclusive no Estatuto do Idoso, de 2003, para que os sistemas escolares trabalhem conteúdos sobre esse tema, mas, segundo Auh, isso não tem sido feito.

Representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Bahij diz ainda que a promoção dessa valorização passa pela garantia de mais informações para os idosos acerca dos seus próprios direitos. Outro desafio do país é aumentar a oferta de políticas públicas que garantam que a população idosa envelheça de forma ativa. “Não adianta um corpo vivo. É preciso que a mente e as relações das pessoas idosas estejam em atividade”, afirma. Uma das questões mais relevantes para ele é a política de acolhimento. Diante de mudanças nas configurações sociais, muitos idosos passaram a ficar sem companhia em casa e sem receber os cuidados necessários, conversar ou contar com o apoio da família para desenvolver atividades.
POLÍTICAS DE ACOLHIMENTOS -Ainda restritas e concentradas em grandes centros urbanos, , essas opções podem ser saídas para a situação vivenciada por muitos idosos que não têm companhia e também para os membros de famílias que precisam ou desejam trabalhar fora de casa, mas têm responsabilidades com os mais velhos. Atualmente, cerca de 60 mil pessoas usam os diferentes serviços de acolhimento existentes, informa a coordenadora-geral de Serviços de Acolhimento do Ministério do Desenvolvimento Social, Nilzarete de Lima. Apesar de o número ser expressivo, Nilzarete diz que ainda há desconhecimento sobre os serviços e também preconceitos.

“É muito presente a ideia de que as pessoas acolhidas nessas instituições são aquelas que não têm mais família e que, por isso, o atendimento dado não é adequado e não respeita a individualidade delas”. Nilzarete reconhece, contudo, que problemas existem, e diz que tem buscado superá-los. Um problema central é a diversidade de padrões adotados nas instituições, o que está relacionado ao fato de 70% a 80% delas serem ligadas a instituições filantrópicas ou outros tipos de organizações da sociedade civil, explica Nilzarete.


No Clube da Terceira Idade de Campos os idosos participam de diversas atividades. – Foto: Divulgação

CUIDADOS ESPECIAIS EM CAMPOS – Neste sábado (30), por exemplo, mais de 200 idosos participaram do projeto Sábado Ativo, que levou grupos a realizarem atividades diferenciadas de saúde e lazer, focando práticas para o envelhecimento saudável. Segundo a Superintendência de Comunicação (Supcom) da prefeitura de Campos, o projeto encerrou as atividades do mês do idoso, “mas prossegue sendo desenvolvido pela superintendência dos Direitos do Idoso, que já programou ações diferenciadas na Casa de Convivência do Parque Tamandaré e no distrito de Villa Nova, no próximo mês”.

As atividades aconteceram no Centro Dia. De acordo com a gerente, Christiane Mazzini, as práticas fazem parte da rede de proteção social, que é uma marca da superintendência dos Direitos do Idoso. “Trabalhando desta forma, a gente vai estimulando a memória, a parte cognitiva, a inserção na vida social e integração dos idosos, visando realmente o envelhecimento saudável e ativo, realizando desta forma, ações preventivas na vida dos idosos” resume.

O governo federal participa dessa política por meio do cofinanciamento das ações e do estabelecimento de regras de funcionamento. Nos últimos anos, o governo atua para reordenar a prestação dos serviços. Superando a antiga concepção assistencialista rumo à afirmação da assistência social como direito, diz Nilzarete, “a gente vem trabalhando com uma política de inclusão dos idosos à comunidade e de reordenamento dessas unidades, para que seja adotada uma nova visão, como política de Estado, de direito e de proteção social”.

Em vez de um lugar onde os idosos são abandonados ou de um hospital permanente, ela propõe que as instituições sejam a casas dessas pessoas e ofereçam atendimento humanizado. Para promover essa visão, ela ressalta que o Ministério do Desenvolvimento Social participa de uma câmara técnica que, junto com outras pastas, conselhos de direitos e organizações da sociedade civil, objetiva estudar a rede existente e propor esse reordenamento. Financiamento, estrutura dos locais e características dos serviços ofertados são algumas das questões analisadas.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL – “Queremos que as famílias tenham a segurança de que vão deixar alguém no serviço de atendimento, mesmo o temporário, e de que esse parente vai ser cuidado”, afirma Nilzarete. Outro desafio para que os idosos recebam atendimento de qualidade é a qualificação profissional de quem trabalha com essa população. “As profissões ligadas aos cuidados com os idosos são as profissões do futuro. O envelhecimento da população vai gerar o aumento das oportunidades de trabalho para pessoas que cuidem dos idosos”, alerta Bahij Amin Auh. Tal percepção, contudo, ainda não foi absorvida a contento pelas instituições de ensino.

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de São Paulo, Carlos André Uehara avalia que muitos profissionais em atuação não receberam formação com um olhar gerontológico. Exemplo disso é a abordagem que infantiliza o idoso, que ele considera inadequada. Além disso, Uehara explica que o modelo de atenção à saúde atual é baseado na busca da cura de doenças agudas, enquanto cresce o número de idosos que convivem com doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e doenças respiratórias. Nestes casos, o que resolve “não é uma consulta de 2 minutos, que passa remédio e marca retorno – é preciso mais acompanhamento”.

FONTE: Redação com Agência Brasil

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