domingo, 8 de outubro de 2017

Resultado da imprudência: BR-101 boa e motoristas ruins

Com a duplicação, tempo de viagem foi encurtado, mas acidentes não deixam de acontecer por imprudência
CAMPOS POR ULLI MARQUES

Os dados confirmam: em 2017, o número de acidentes registrados no trecho Norte da BR- 101 — entre a divisa do Estado do Rio de Janeiro com Espírito Santo até o limite do município de Conceição de Macabu — diminuiu 7%, se comparado ao mesmo período do ano passado (veja o infográfico abaixo). Mas quando vidas estão em jogo, essa queda ainda é ínfima. Pensava-se que a duplicação da chamada “Rodovia da Morte” seria a solução que faltava para dar fim a esse “apelido”, mas basta observar o depósito de veículos avariados situado ao lado do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para obter a triste constatação: ainda são muitas as vítimas da imprudência ao volante nesta rodovia federal.


De acordo com dados fornecidos pela Autopista Fluminense, concessionária que administra a BR-101, o trecho que corresponde a Campos dos Goytacazes tem 123 quilômetros de extensão e, diariamente, passam por ali cerca de 11 mil veículos. Isso significa que milhares de mães, pais, filhos e irmãos se arriscam entre carros, motocicletas, ônibus e caminhões para chegar aos seus destinos. Mas muitos não têm sucesso nessa empreitada. Entre os meses de janeiro e setembro de 2017, a Autopista Fluminense registrou 31 mortes na BR-101 RJ/Norte. É certo que há seis anos, em 2010, antes das obras de modernização logística da rodovia, esse número era mais alto, com 57 vítimas fatais; no entanto, se a estrada está em boas condições de tráfego, qual seria a razão que leva a essas estatísticas não tão positivas quanto se esperava? Resta um palpite: as atitudes imprudentes por parte dos motoristas.

No mês passado, a Arteris, responsável pela operação da concessionária Autopista Fluminense, divulgou o resultado de uma pesquisa que identificou as principais desculpas dadas pelos condutores ao admitir o comportamento de risco nas estradas. O estudo abordou quatro eixos de análise — uso do cinto de segurança, direção após o consumo de bebida alcoólica, excesso de velocidade e utilização do celular ao volante. O único que apresentou melhoria em relação aos dados coletados no ano passado foi o cumprimento aos limites de velocidade — neste ano, 59,3% dos entrevistados declararam sempre respeitar os limites de velocidade estabelecidos, enquanto em 2016, o percentual foi de 51,3%. A pesquisa foi realizada em julho com 2.686 motoristas, das cinco regiões do país, que responderam a um conjunto de perguntas sobre o seu próprio comportamento no trânsito, sendo entrevistados 378 motoristas do Estado do Rio de Janeiro.

“Mesmo cientes dos riscos e da legislação vigente, condutores imprudentes acreditam que desculpas como pressa, falta de atenção, trajetos de curta distância ou até mesmo a confiança na capacidade de guiar após ingerir bebida alcoólica justificam posturas incorretas no trânsito, que coloca em xeque sua própria segurança e de outras pessoas”, afirma a concessionária que apontou ainda os números da Organização das Nações Unidas (ONU): 1,25 milhão de pessoas perde a vida no trânsito, por ano, ao redor do mundo; e do Ministério da saúde: no Brasil, cerca de 40 mil óbitos a cada ano.

Para o gerente corporativo de operações da Arteris, Elvis Granzotti, o trânsito é um sistema complexo e qualidade da via, dos veículos e o comportamento de condutores e pedestres contribuem para o seu bom funcionamento. “Infelizmente, o que se verifica é que a maioria dos acidentes tem como causa falhas humanas, que, hoje, temos certeza de que estão ancoradas em comportamentos deliberados de risco. Esse tipo de atitude reforça a tese de que é preciso investir, cada vez mais, em ações de sensibilização e de educação para que, de fato, as estatísticas sejam revertidas e a insegurança no trânsito deixe de ser uma das principais preocupações globais da atualidade”, declarou.


USO DE CELULAR ENQUANTO DIRIGE

A infração mais recorrente identificada na pesquisa é o uso do celular ao volante. A maioria dos motoristas brasileiros (51,9%), mesmo cientes da proibição, faz uso do telefone enquanto dirige. O que a grande maioria dos motoristas esquece é que alguns segundos de distração ao manusear o celular podem levar a um desvio de atenção grave, inclusive possibilitando que percorram vários metros “às cegas”. As principais desculpas apresentadas foram o uso de aplicativos (37,7%) e a realização ou recebimento de ligações importantes ou urgentes (36,1%).

CINTO DE SEGURANÇA
O cinto de segurança é um dispositivo de uso obrigatório, tanto no banco da frente, quando no de trás, e uma proteção vital em caso de acidentes. Além disso, não utilizá-lo configura infração grave, podendo render cinco pontos na carteira de habilitação e multa.

A pesquisa revelou que 91,1% dos condutores brasileiros usam o dispositivo. Entre aqueles que admitiram nem sempre usar ou exigir que passageiros do veículo usem, as principais desculpas são a falta de atenção (35,5%), a transferência da reponsabilidade pelo emprego do dispositivo para os passageiros (15,5%), e a baixa necessidade de uso do cinto em trajetos curtos (12,8%).

DIREÇÃO APÓS O CONSUMO DE BEBIDA ALCÓOLICA
Desde o ano passado, a punição para os motoristas flagrados dirigindo após o consumo de álcool se tornou mais severa no Brasil. A multa, hoje, ultrapassa R$ 2 mil. Mesmo assim, 25,6% dos condutores brasileiros afirmaram dirigir, ainda que raramente, após a ingestão de bebidas alcoólicas.

Quando questionados sobre o motivo deste comportamento, 25,6% disseram que conduziram o veículo porque estavam sozinhos ou porque era a única pessoa que poderia dirigir naquele momento; 20,9% porque acreditam que a quantidade ingerida não altera sua condição de dirigir, e 13,9% porque os trajetos percorridos eram curtos. O mais alarmante é que 99,1%, ou seja, praticamente todos os entrevistados, demonstraram ciência sobre a proibição legal de dirigir após a ingestão de álcool.


EXCESSO DE VELOCIDADE
O excesso de velocidade favorece a perda de controle do veículo e pode aumentar a gravidade das colisões e das lesões das vítimas. Está caracterizado como infração gravíssima no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e é a segunda infração mais recorrente entre as quatro analisadas no estudo. No levantamento, 40,7% dos motoristas admitiram exceder os limites de velocidade e, para esses, as três principais desculpas apresentadas foram a pressa (28,7%), os limites de velocidade baixos (13,4%) e a falta de atenção (11,3%).

DUPLICAÇÃO DA BR-101
Em setembro deste ano, a Autopista Fluminense chegou a marca de 118,6 quilômetros de novas pistas, sendo 56,8 nas regiões de Campos dos Goytacazes (a partir de Ibitioca), Conceição de Macabu, Quissamã, Carapebus e Macaé (Trevo dos 40) e outros 61,8 quilômetros na região entre Casimiro de Abreu e Silva Jardim. Outros oito quilômetros estão em fase final de obra e serão entregues conforme andamento dos trabalhos. As novas pistas da BR-101 RJ/Norte contam com duas faixas de rolamento em cada sentido. Muretas de concreto dividem as pistas e, em alguns segmentos específicos, são separadas por canteiro central.

Cerca de 50km aguardam liberação para início das obras. Deste total, 46,1 quilômetros estão em processo de licenciamento ambiental. Sobre este trecho, a Autopista Fluminense recebeu, em agosto, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a Licença Prévia n° 547/2017, válida por um período de quatro anos, referente à duplicação da rodovia BR 101/RJ Norte, entre as cidades de Macaé e Casimiro de Abreu, entre o km 144,2 e o km 190,3, totalizando uma extensão de 46,1 quilômetros.

A concessionária analisa as recomendações dessa Licença Prévia e possíveis alterações que poderão ser incorporadas no projeto executivo, que passará por análise e aprovação dos órgãos competentes. Após cumprimento desta etapa, o IBAMA providenciará a emissão da Licença de Instalação (LI), documento fundamental para o início das obras neste segmento da rodovia.

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