segunda-feira, 12 de março de 2018

Câncer do colo de útero: a demora no diagnóstico traz consequências graves

Doença que atinge mais de 16 mil mulheres a cada ano
SAÚDE POR LETÍCIA NUNES


Os atrasos no diagnóstico e no tratamento do câncer de colo de útero podem levar pacientes à morte (Foto: Divulgação)

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, um alerta para uma doença que atinge mais de 16 mil mulheres a cada ano: o câncer de colo do útero. Somente no Estado do Rio de Janeiro, a projeção do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de 1.340 novos casos dessa doença em 2018. Este tipo de patologia perde somente para os cânceres de mama, de pulmão e do colo reto. O alto índice de óbito no país acontece justamente por falta de atenção básica. Na maioria das vezes, as pacientes só têm o diagnóstico no estado mais avançado da doença. Além disso, há demora também, em alguns casos, no processo de tratamento e cura, o que está ligado diretamente com a vida dessa paciente.

Segundo a ginecologista, Fernanda Siqueira, é fundamental ressaltar que o diagnóstico precoce pode mudar a história dessa mulher, já que o câncer do colo de útero é a segunda causa de morte feminina no país. “Trata-se de um dado muito importante, visto que o acesso para a coleta do preventivo é teoricamente fácil. Um procedimento rápido, pois o médico demora apenas cinco minutos para realizar o exame, mas muitas mulheres, principalmente jovens, deixam passar. Uma lesão pré-cancerígena pode demorar até 10 anos para virar um câncer, porque não tem sintoma, e isso também influencia na falta de procura ao médico”, alerta.

A médica também chama a atenção para outro dado importante. O Ministério da Saúde recomenda a coleta do preventivo a partir dos 25 anos até os 64 anos de idade. Essa mudança ocorreu depois de 2011, pois era até os 59 anos. O período foi estendido porque a média de vida aumentou. Porém, apesar desta norma, a especialista explica que não é necessário que a mulher espere até os 25 anos para ter uma consulta com o ginecologista.

“Hoje em dia, as pessoas estão iniciando a vida sexual muito cedo, então se você pensar que uma menina começa a ter relações com 15 anos, por exemplo, e o Ministério da Saúde recomenda a coleta só com 25 anos, ela tem dez anos sem um acompanhamento médico. Mesmo com o órgão determinando isso, nós como ginecologistas orientamos que se faça o exame a partir do início da vida sexual”, indica.

O diagnóstico
A médica ainda esclarece que em Campos, quando há um exame preventivo alterado, a paciente é redirecionada para um centro de atendimento terciário, onde será acompanha por um especialista.

“O Hospital Dr. Beda tem um atendimento multidisciplinar, com radioterapia, cirurgia… o serviço funciona bem, pois tudo é muito sistematizado. A paciente vem com a biópsia da Secretaria de Saúde e depois passa por um ginecologista oncológico, que vai analisar se o caso é cirúrgico ou não”, conta.

Demora no tratamento
O problema nesse processo, de acordo com o cirurgião oncológico do Oncobeda, Rodrigo Andrade Torres, é o tempo aproximado para a paciente iniciar o tratamento a partir da data da biopsia pelo SUS.

“O tempo para resultado do exame anatomopatológico do dia da biópsia é de uma média de 30 a 50 dias na nossa cidade. Com muitos problemas no meio do caminho, como consulta com o especialista, exames necessários para o tratamento, até o início deste, o que acaba reduzindo as chances de cura do paciente, porque já chega em estado avançado. Além disso, muitas mulheres não têm acesso ao tratamento completo que inclui radioterapia e braquiterapia”, frisa.

O cirurgião oncológico esclarece também que o principal responsável pelo câncer de colo uterino é o HPV. A transmissão do vírus se dá pelo contato direto com pele ou mucosa infectada. A vacinação, já disponível na rede pública, o uso de preservativo, em conjunto com o exame preventivo (Papanicolaou), se complementam como ações de prevenção deste câncer. As chances de cura variam conforme o estágio da doença, porém, em fases iniciais podem chegar a 100%.

O ginecologista e obstetra, Fernando Azevedo, é o responsável pela emergência ginecológica de Campos e alerta para a questão da morosidade no tratamento, que tem consequências graves.

“Seja por crise financeira ou gestão inadequada, a prevenção primária e secundária no tocante ao câncer de colo uterino tem sido muito negligenciada em nossa região, pois a cobertura do papanicolaou que não atinge 30% da população alvo, ou seja, se quiserem mudar a morbi-mortalidade por essa doença teríamos que atingir mais de
80%, assim teríamos uma mudança radical no perfil epidemiológico. O que temos vivenciado na emergência é que os casos de câncer de colo uterino avançado têm chegado no pronto atendimento com mulheres ainda jovens sangrando, onde é estabelecida clinicamente a hipótese diagnóstica, mas a confirmação depende do exame histopatológico para que sejam encaminhadas para a Unacon, isso muitas vezes, perversamente, leva meses retardando demasiadamente o tratamento e expondo as mulheres e familiares a grandes sofrimentos físicos e psíquicos”, finaliza.

Vacina contra o HPV
A vacina contra o HPV está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas com menos de 15 anos e também para meninos de 12 a 13 anos. As doses, porém, não protegem contra todos os subtipos oncogênicos do vírus. A doença é fator de risco nas mulheres para câncer de colo do útero, vulva, ânus, boca, faringe, além de verrugas genitais e outras infecções. No caso dos homens, a vacina tem como objetivo proteger contra os cânceres de pênis, garganta e ânus. Especialistas acreditam que a imunização contra o HPV pode ajudar na redução da incidência
do câncer do colo de útero no futuro.



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