segunda-feira, 26 de março de 2018

Política: quem é quem nas redes sociais

A temperatura da popularidade pode ser medida através do Facebook e de outras plataformas usadas pelos prefeitos

As redes sociais vêm ganhando protagonismo na estratégia de marketing da política, que se desloca cada vez mais dos veículos tradicionais— rádio e TV, principalmente — em direção ao ambiente alegadamente mais democrático criado pelas novas tecnologias. Movimento que se acentua diante do aumento do custo das campanhas e da diminuição do financiamento e continua mesmo com o sucesso nas urnas. Afinal, resistir ao fim da lua de mel com a opinião pública e abrir um canal de comunicação eficiente com o eleitorado são alguns dos desafios que se apresentam aos políticos eleitos em 2016. E as mídias digitais surgem como peça fundamental nessa briga por “corações e mentes”, mas são aproveitadas com diferentes graus de sucesso por prefeitos da região.

Em todos os casos, os perfis oficiais são usados com frequência variável para divulgar programas, projetos, obras, serviços, ações e agenda oficial. É um canal, também, para responder críticas e até tirar dúvidas. Eventualmente, há espaço para alguma manifestação pessoal. Mas, se o conteúdo é semelhante, os resultados podem ser bastante diferentes.

Em São João da Barra, Carla Machado (PP) coleciona elogios em seu perfil oficial, mas praticamente não interage com os comentaristas, mesmo quando interpelada diretamente. É um perfil que preserva certo distanciamento e tem forte caráter institucional. As queixas são raras, assim como as manifestações pessoais da prefeita — a exceção fica por conta da família, que ganha espaço ocasional.

Elogios

Como Carla Machado, Fátima Pacheco (Podemos), prefeita de Quissamã, coleciona elogios nas redes sociais. Mas, diferente daquela, conseguiu transformar as mídias digitais em uma a ferramenta para estreitar relações com seu eleitorado.

Ela responde pessoalmente a grande número de comentários e se manifesta a respeito de temas que fogem à esfera do município, como o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, morta na capital, no último dia 14.

Também usa como um canal de serviços, providenciando informações pontuais, mas importantes para a rotina dos moradores, como interdição ou liberação de estradas, ao mesmo tempo em que aproveita o espaço como vitrine para sua relação com a comunidade, divulgando reuniões, visitas e encontros, celebrando conquistas esportivas locais e até agradecendo presentes.

Já Francimara Lemos (PSB), prefeita de São Francisco de Itabapoana, mantém perfil com postagens de caráter pessoal mais evidente entre os prefeitos da região. Embora não interaja com frequência, foi nas redes sociais que ela falou aos eleitores sobre sua saúde em um momento delicado. A família é presença constante e marcações feitas por outros usuários são comuns. Embora a maioria dos comentários seja positiva, há, também, críticas que passam especialmente pela falta de infraestrutura do município, problema mais grave, segundo as reclamações, nas praias e localidades mais afastadas do Centro.

Críticas

A situação mais delicada, porém, é do prefeito de Campos, Rafael Diniz (PPS). Ele teve uma vitória comumente descrita como “acachapante” sobre o segundo colocado, Dr. Chicão (PR), candidato governista à sucessão de Rosinha Garotinho (PR). Mesmo com o principal adversário tendo “a má- quina na mão” e havendo outros quatro candidatos no páreo, o prefeito conquistou 151,462 votos — 55,19% do total. O resultado garantiu uma improvável vitória em primeiro turno, algo que não era esperado pelo aliado mais otimista. Na época, as redes sociais foram apontadas como uma das principais razões do sucesso daquilo que ficou conhecido como “Onda Verde”.

Hoje, porém, os perfis oficiais do prefeito — onde até outubro de 2016 eram divulgadas lives e vídeos que recebiam grande apoio popular — se tornaram palco não só para antagonismos político e ideológico, mas também para críticas de um grupo cada vez mais estridente de insatisfeitos.

Os ataques se direcionam a decisões que elevam o custo de vida no município, à falta de manutenção de serviços de infraestrutura e ao desmanche de políticas de assistência social.

A revisão da Planta Genérica, que resultou em aumento do IPTU, a falta de iluminação pública e coleta de lixo, e a suspensão do Cheque Cidadão são constantemente lembrados. Contudo, as principais fontes de reclamação são os atrasos nos pagamentos de prestadores de serviço que recebem por RPA e do 13º salário de 2017 do funcionalismo, bem como os problemas por Ltda., que recebeu do município de Campos um total de R$ 76.150.706,73 para realização do serviço entre os anos de 2011 e 2016. Segundo a revista Veja, a contrapartida da Emec teria sido o pagamento de R$ 350 mil ao ex-governador Anthony Garotinho por meio do diretório estadual de seu antigo partido, o PR, do qual era presidente na época. Entre as irregularidades praticadas no contrato estariam combinação de resultados em licitações públicas e superfaturamento de valores. As evidências incluem erros de cálculos idênticos em todas as propostas participantes do pregão em que a Emec venceu; existência de declaração de inidoneidade da firma, constatada pelo Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES), o que impossibilitaria a empresa de fechar contrato com o poder público; aumento de valor contratado com preços que não correspondem aos valores fixados pelo TCE-RJ; e erros de português igualmente cometidos por todas as empresas que participaram do pregão. Junger foi preso temporariamente durante a “Operação Lee Oswald”, realizada pela Polícia Federal (PF) em abril de 2012 em Presidente Kennedy (ES), onde a empresa prestava o mesmo serviço. que tem atravessado a Saúde e o Transporte Público na cidade.

Há mensagens de apoio, mas as críticas são, de longe, mais numerosas. Uma parte importante delas é rebatida diretamente pelo prefeito, embora um grande número de questionamento continue sem resposta.

Questionado sobre os resultados desta interação, Rafael Diniz afirma que “que vivemos em uma democracia e que “toda crítica construtiva é essencial para o desenvolvimento”.

“É comum que as pessoas utilizem as redes sociais para manifestarem as suas dificuldades, os seus problemas, para serem ouvidas e as redes sociais têm também esse papel: de aproximar a população dos gestores, para que ela ganhe voz — muito embora o nosso governo seja um governo presente, do diálogo e de portas abertas para a população”, observa o prefeito.

Para Rafael, porém, “as críticas e reclamações serão sempre maiores do que os elogios”. “Não é comum, embora aconteça em alguns casos, a pessoa ir para rede social para elogiar um bom atendimento, elogiar um trabalho bem feito”, argumenta, embora os comentários colhidos pelas demais mandatárias da região sugira uma realidade diversa.

A análise do conteúdo — que não tem pretensão científica e assume, como convém à democracia, que as opiniões emitidas continuem a ser exibidas a despeito de seu teor — mostra as mídias digitais são capazes não apenas de amplificar as vozes dos políticos e as versões das propagandas oficiais, mas também dos eleitores, sejam elas contra ou a favor.
Terceira Via

Nenhum comentário: