segunda-feira, 19 de março de 2018

Um comércio tomado de assaltos

São muitos os comerciantes em Campos que tiveram seus estabelecimentos assaltados mais de uma vez


(Foto: Silvana Rust)

POR: OCINEI TRINDADE e THIAGO GOMES


Não bastasse a crise financeira, que empurrou para baixo as vendas nos últimos anos, os comerciantes de Campos vêm lidando com outro problema: o aumento no número de assaltos a estabelecimentos comerciais. Ao comparar janeiro de 2017 com o mesmo período de 2018, o acréscimo foi de 140% neste tipo de crime, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ). O órgão ainda não computou os dados deste tipo de crime ocorridos nos meses de fevereiro e março deste ano. A outra crise pela qual o estado passa, a da segurança pública, expõe também a fragilidade de se manter os negócios de pé. Exemplo: comerciantes assaltados várias vezes em um curto período de tempo na cidade, como a empresária e apresentadora de tevê, Tânia Borges. Ela esteve na mira de um revólver nada menos que cinco vezes nos últimos dois anos.

Desde que decidiu se afastar dos programas de entrevistas para se dedicar ao seu próprio negócio, Tânia conta que está desapontada com os rumos da segurança pública na cidade. Ela é proprietária de um minimercado com produtos refinados e de uma delicatessen na Avenida Pelinca, um dos metros quadrados mais caros de Campos. “Os comerciantes que conheço na Pelinca, todos já viveram uma situação parecida. Aqui, tem status de uma rua de Ipanema. O IPTU é alto e o investimento que fizemos tem sido afetado pela violência e onda de assaltos”, diz.

Das cinco péssimas experiências que viveu, Tânia Borges lembra que a última foi a pior. Um homem armado ameaçou atirar em sua filha, caso ela não desse dinheiro. “Cometi o erro de reagir ao assalto, pois é muito duro ver uma filha sendo ameaçada por um bandido. Felizmente, ela nada sofreu fisicamente, mas o estresse e o trauma ainda nos afetam”.

Por medo, Tânia preferiu não revelar os prejuízos financeiros causados nos cinco assaltos. “Eu tenho medo, pois a cidade está muito perigosa. No entorno do Mercado Municipal, é comum ver moradores de rua e usuários de drogas que costumam roubar e ameaçar comerciantes. Fiz Boletim de Ocorrência, fomos bem-atendidos, mas como a PM pode resolver essa situação?”, questiona.

Lojistas contratam segurança particular

O temor de ser alvo de ladrões fez com que um grupo de 20 lojistas da Rua Boa Morte, Centro de Campos, contratasse segurança particular para atuar de 7h às 19h, todos os dias. O comerciante Eugênio Moraes é do ramo de vendas de automóveis. Ele conta que toda semana alguém na rua é alvo de ladrões de bolsas e telefones celulares.

“A gente vê alguém correndo e gritando que foi roubado. É um horror, pois qualquer um pode ser vítima de assaltantes por aqui. Não vemos policiamento diário. Tenho 30 anos de comércio, e esta é a fase mais violenta que passamos. Além da cidade, nas estradas também estamos correndo perigo. Pagamos impostos e não temos o mínimo de segurança”, queixa-se.

Estatística

Apenas nos primeiros 30 dias de 2018, 17 estabelecimentos comerciais foram assaltados em Campos, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ). Destes, 12 foram registrados na 134ª DP (Centro) e cinco na 146ª DP (Guarus). No mesmo período de 2017 foram sete assaltos: três na área da DP do Centro e quatro na de Guarus. Isso significa um aumento de 140%. As ocorrências de fevereiro e março deste ano ainda não foram disponibilizadas pelo órgão. Já nos 12 meses de 2017 foram registrados 161 roubos a pontos comerciais no município. Dos quais 113 aconteceram na área de atuação da 134ª DP e 48 na da 146ª DP.

Comerciantes, funcionários e clientes viram reféns


Cerca de R$ 15 mil, além de joias e celulares, foram levados de uma loja de produtos agropecuários, no final da manhã do último dia 12, durante um assalto praticado por dois homens. A loja fica localizada na Avenida Nilo Peçanha, no Centro. De acordo com a Polícia Militar, os bandidos, que estavam armados, chegaram em uma moto e anunciaram o assalto. Duas semanas antes, a loja sofreu outro assalto.

Ainda segundo a PM, o crime aconteceu por volta das 11h. Eles renderam o casal de proprietários, dois funcionários e alguns clientes. Os empresários levaram os criminosos até uma sala onde estavam guardados os R$ 15 mil. Ao saírem, eles ainda levaram cordões e celulares das vítimas.

Restaurante assaltado dois dias seguidos

O restaurante da esposa do superintendente de Limpeza Pública de Campos, Alfredo Dieguez, localizado próximo ao Palácio da Cultura, foi assaltado por dois dias seguidos este ano. Em 7 e 8 de fevereiro, os bandidos invadiram o local e levaram uma televisão em cada ação.

Alfredo conta que assalto naquela área tem sido rotina. Um dos bandidos que roubou o restaurante da esposa do superintendente foi detido durante assalto a uma drogaria nas proximidades. O superintendente lembra ainda que uma padaria da área também foi vítima da ação de assaltantes. Apesar da prisão do bandido, as televisões não foram recuperadas.

“Está havendo uma onda de assaltos nesta área da cidade. Muitos estabelecimentos comerciais foram alvos de criminosos recentemente. A gente espera que esses assaltos sejam investigados pela polícia e que os bandidos sejam presos para que possamos trabalhar com mais tranquilidade”, comentou Alfredo.

O Boticário – Centro


A loja O Boticário, localizada no Boulevard Francisco de Paula Carneiro, Centro, está na lista dos estabelecimentos comerciais assaltados mais de uma vez no ano passado. Na tarde do dia 3 de julho do ano passado, um homem negro, de aparência jovem, invadiu o local e levou R$ 459 que estavam no caixa. Na ocasião, os funcionários contaram que a ação foi rápida e aconteceu por volta das 14h40. O assaltante entrou e logo anunciou o assalto. Ele, que estava aparentemente nervoso, se dirigiu ao caixa, mandou que todos ficassem quietos, levou o dinheiro e saiu. Ainda segundo os funcionários, o bandido ficou o tempo todo com uma das mãos embaixo da blusa, mas não chegou a mostrar a arma.

Em 28 de abril de 2017, um bandido afirmando estar armado invadiu o local, roubou cerca de R$ 2 mil e vários frascos de perfume e fugiu de bicicleta.

Resposta da PM

A equipe de reportagem não conseguiu contato com o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar, mas a assessoria de imprensa da PM informou que o batalhão da área tem realizado operações sistemáticas sempre com o objetivo de coibir ações criminosas. “A PM informa ainda que denúncias devem ser feitas através do 190 ou pelo Disque-Denúncia 2253-1177 e no próprio batalhão. O registro de denúncias na Delegacia é importante porque ajuda na confecção da mancha criminal da região”, informou o órgão, em nota.
Terceira Via

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