segunda-feira, 27 de agosto de 2018

ELEIÇÕES: 'Não conheço o estado só do mapa, da teoria. Sei das dificuldades reais', diz Romário

Senador é o primeiro dos principais candidatos ao governo do Rio a participar da série de entrevistas do DIA

Por CÁSSIO BRUNO

Romário é candidato ao governo do Rio - Maíra Coelho

Rio - O senador Romário Faria, de 52 anos, é o primeiro dos principais candidatos ao governo do Rio a participar da série de entrevistas do DIA. Há oito anos na política, o ex-jogador lidera as pesquisas com Anthony Garotinho (PRP) e Eduardo Paes (DEM). Romário rebate as críticas referentes à falta de experiência administrativa. Eleito deputado em 2010 com o apoio do ex-governador Sérgio Cabral, preso por corrupção, e dos então aliados do MDB, ele afirma que, se eleito, adotará "tolerância zero" contra corruptos. Terá ainda a Segurança como prioridade. Sobre a polêmica envolvendo o patrimônio, dispara: "Se eu quisesse pôr laranjas para esconder algo, com certeza não seria a minha mãe ou a minha irmã. Eu seria um imbecil".


O DIA: Por que você decidiu ser governador?

ROMÁRIO: Apoiei candidatos e tudo o que foi prometido a mim, da mesma forma que foi prometido para a população, eles nunca fizeram. Então, eu decidi fazer. Depois de quatro anos como deputado federal e quatro anos como senador, sinto-me legitimado para ser candidato e ser governador. Diferente dos meus adversários, posso dizer que tive dificuldades. Estudei em colégio público. Precisei da saúde pública. Passei por problemas financeiros quando criança. Todos eles não passaram por isso. Estou pronto.


Eles dizem que o senhor não é gestor.

Há um consenso geral de que eu nunca fui gestor. Nunca fui. Mas quero ser. Quero que o Rio de Janeiro me dê essa oportunidade para eu sentar na cadeira e mostrar que tenho capacidade. Como? Oito anos de mandato me legitimam para isso. Antes do Garotinho ser governador, o histórico dele não é melhor que o meu politicamente. Antes do Eduardo Paes ser prefeito do Rio, o histórico político dele também não é melhor que o meu. Tenho consciência de que formarei a melhor equipe. Venho de um esporte coletivo. Nunca conseguiria ganhar o que ganhei na vida se eu estivesse sozinho.

Mas o senhor se preparou?

Nos últimos seis meses. As pessoas vão dizer: é pouco. E os outros 52 anos que eu tenho no Rio? Não contam? Não conheço o estado no mapa, na teoria. Conheço de andar. Sei das dificuldades reais. E sei porque precisei um dia do serviço público também.

O senhor foi eleito pela primeira vez com a ajuda do ex-governador Sérgio Cabral, preso por corrupção, e do grupo dele. Não mancha o seu currículo?

Eu era do PSB, que fazia coligação com o PMDB e o governo na época. Mas afirmo que não tive apoio nenhum. Nem financeiro e de ninguém do PMDB. Não existe possibilidade de colarem a minha imagem com as dessas pessoas (Cabral e outros presos na Lava Jato). Não vão colar!

Qual será a prioridade do seu governo?

A Segurança é um problema gravíssimo. É um efeito dominó: (Sem segurança) dá problema na Economia, na Educação, no Turismo. O estado está falido. A Secretaria de Segurança Pública tem R$ 11 bilhões no orçamento. Com a má gestão dos últimos anos, o dinheiro acaba. Diminuiremos o número de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Teremos um efetivo de mais de 4.500 policiais nas ruas para o policiamento ostensivo. A medida reduzirá os roubos de cargas e de automóveis e os assaltos à mão armada. O tráfico e as milícias estão ganhando território.

Falta efetivo na Polícia Militar. Não há dinheiro no orçamento para novos concursos, por exemplo.

Em setembro agora serão chamados mais 1.500 policiais de um concurso.


Sim, mas é pouco.

Tem que dimensionar para que se tenha polícia em certos lugares onde existem o maior número de roubos. Quem fará a logística será o secretário de Segurança Pública.

Entre janeiro e julho, 4.133 pessoas foram vítimas de letalidade violenta. Ou seja: vítimas de homicídios dolosos e decorrentes de intervenção policial, latrocínio e lesão corporal seguida de morte. A média é de 19 mortes por dia.

Encontraremos outras formas de reduzir ao longo do mandato. A minha proposta imediata é policiamento ostensivo. Teremos de usar tecnologia e inteligência. Sabemos que é pelas grandes vias por onde entram armas, drogas e o dinheiro sujo. Votei a favor da intervenção militar. Mas a medida termina no fim do ano. Vou pedir ao próximo presidente da República que continue a parceria, com o Exército, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. A ideia é usar scanners, drones. Como o estado está quebrado, só poderemos fazer isso com a ajuda do governo federal.

Com o governo ou militares no comando?

Comigo no comando.

E na Educação? Faltam professores e as escolas têm problemas de infraestrutura.

O salário do professor não é digno. No momento, não podemos falar em aumento. É a realidade. Mas temos que valorizá-los, capacitá-los.

Faltam professores para várias disciplinas. Parte das escolas está destruída.

A corrupção é generalizada. Faremos auditoria fiscal em todas as áreas. Sobrará dinheiro. Será tolerância zero. Não haverá desperdício. Vou tirar o lixo que há, principalmente, nas Secretarias de Saúde e Educação. São as mais corruptas. Com isso, melhoraremos as escolas. Temos de levar os jovens de volta às salas de aula. A evasão, na faixa entre 15 e 18 anos, é grande. Como atraí-los? Primeiro, diminuindo a violência. Segundo, com tecnologia. O meu projeto é a Escola da Internet, com tablets e computadores dentro das salas.

É viável financeiramente?

É complicado falar. Detectei nas contas públicas do governo uma maquiagem grande em relação aos números. Posso dizer o seguinte: o governo federal tem obrigação de ajudar o estado na Educação, na Segurança e na Saúde. Estamos falando de Rio de Janeiro. Vou ao presidente e aos ministros pedir ajuda.

Hospitais com grandes emergências estão sucateados.

Farei revisão dos contratos com as Organizações Sociais. Mais da metade delas está sob investigação. Na Secretaria de Saúde, a corrupção é desenfreada. Após revisar contratos e fazer auditorias, vamos criar mais leitos. Em pleno 2018, o que a gente mais vê são pacientes morrendo na porta dos hospitais. Não dá para ficar vendo isso todo dia e os corruptos só enriquecendo.

Como será o seu modelo de gestão? Manterá as Organizações Sociais?

Vamos manter. Existem Os sérias. Mas haverá auditorias e revisão de contratos.

O agendamento de cirurgias também passa por problemas. Vimos o episódio do prefeito Crivella.

Diferentemente do Crivella, não vou priorizar o pessoal da igreja ou do futebol. Mais de 15 mil pessoas estão na fila para uma cirurgia. Vamos melhorar com o dinheiro recuperado da corrupção.

Qual será a relação com os servidores? A maioria passou por situações graves por atraso dos salários.

O servidor receberá salário até o quinto dia útil do mês.

O governador Pezão vetou o plano de cargos e salários de servidores da saúde aprovado pela Alerj.

Existe a Lei de responsabilidade Fiscal que não pode ultrapassar 60% (do orçamento) com pagamento de salários. Hoje, chegamos a 72%. Temos até 2020 (prazo do plano de recuperação fiscal com a União) para resolver. Como voltaremos ao patamar dos 60%? Há mais de oito mil cargos comissionados, funcionários fantasmas.

Como vai gerar empregos?

A violência fez que muitas empresas saíssem do estado. Em 2014, tínhamos cerca de 500 mil desempregados. Quatro anos depois, são mais de 1,2 milhão. Nos últimos três anos, foram encerrados mais de 40 mil negócios pela situação econômica do Brasil e pela violência também. Temos que voltar a atrair os empresários para que eles terem os seus negócios de volta.

Como espera que seja a sua relação com a Assembleia Legislativa? Os deputados derrubaram o veto do Pezão e os servidores da Justiça, do Ministério Público e da Defensoria Pública terão aumento de 5%, que vai contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Quando eu assumir o governo, acredito que o problema esteja resolvido. Estamos falando de futuro fiscal do estado. A minha relação com a Alerj será a melhor possível. Existe um ideal comum do Executivo, do Legislativo e do Judiciário: tirar o governo do estado da calamidade. A situação é caótica. Temos que olhar para frente.

Após a Lava Jato, a política pode ser renovada?

A reforma eleitoral para essa campanha favorece a galera da Lava Jato. Não há mais o aporte financeiro de empresas. Espero que a renovação aconteça. Mas tenho consciência de que será difícil.

O jornal "O Globo" fez uma série de reportagens sobre seu patrimônio. Para evitar a penhora da Justiça por causa de dívidas, o senhor transferiu bens para familiares. O eleitor não merece uma explicação mais convincente?

Não tem como ser mais convincente. Há uma vontade em me denegrir. Não há identificação de R$ 1 meu com a política e a corrupção. O meu dinheiro, o da minha irmã, o da minha mãe, o das nossas empresas, é declarado. Da onde veio o dinheiro? Vem desde quando eu tinha 18 anos até quando eu parei de jogar futebol, com 41 anos. Foi do meu trabalho e do meu suor. Dou o dinheiro para quem eu quiser. Existe é a briga judicial com uma empresa cujo valor da dívida era pouco mais de R$ 1 milhão. Uma juíza pôs juros de R$ 800 mil diários. O valor chegou a R$ 39 milhões. A empresa entende que eu devo R$ 39 milhões. Digo e provo que já paguei o que devia.

O problema foi a atitude em transferir o patrimônio para escapar da penhora.

Não estou escapando de nada. Há uma briga judicial. Se eu quisesse pôr laranjas para esconder algo, com certeza não seria a minha mãe ou a minha irmã. Eu seria um imbecil, assinando embaixo.

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