Os relatos vão de abordagens intimidatórias a assaltos, passando por agressões de gravidade variada
POR MARCOS CURVELLO
POR MARCOS CURVELLO
As mãos estendidas se tornaram uma visão comum em Campos, onde uma massa de pessoas em situação de rua faz morada. O fenômeno é especialmente visível no entorno da praça São Salvador, local em que voluntários tradicionalmente distribuem alimento e algumas palavras de conforto. Durante as noites, as marquises dos prédios de arquitetura eclética que marcam a área se tornam verdadeiros albergues improvisados. Entre um pedido de um “trocado” e outro, eles vivem suas vidas ali. E quem frequenta a região afirma que a convivência entre eles e entre quem reside e trabalha nas imediações nem sempre é pacífica. Os relatos vão de abordagens intimidatórias a assaltos, passando por agressões de gravidade variada. Prática de relações sexuais e consumo de drogas ao ar livre também seriam comuns. O resultado é que muita gente está mudando seus hábitos diários ou simplesmente deixando de circular pelo Centro.
Em uma rápida passagem da equipe de reportagem do Jornal Terceira Via pela Praça São Salvador foi possível flagrar evidências da ocupação do espaço. Presos entre as grades e as pilastras do prédio dos Correios, alguns pertences pessoais, como cobertores e colchões. Nas grades que cercam o Soldado Desconhecido, monumento que homenageia militares brasileiros mortos em conflitos no exterior, roupas penduradas para secar ao sol. Próximo a uma banca de jornais, uma placa que sinalizava uma vaga prioritária de estacionamento foi arrancada. O jornaleiro Luiz Manoel, que trabalha no mesmo ponto há mais de 40 anos, afirma que foi resultado de uma briga entre pessoas em situação de rua.
“Foi pouco antes das 6h. Um deles estava bastante embriagado. Chegou a cair duas vezes. Uma mulher o botou de pé e ele veio para cá. Tentou abordar outro, que estava se levantando, e se formou um tumulto. Com raiva, ele começou a sacudir a placa, até que ela tombou”, conta. “Um guarda municipal colocou a placa de pé. Mas, se empurrasse, ela caía em um carro ou uma pessoa. Aí veio outro e retirou”.
Segundo Luis, a prática de vandalismo é corriqueira. “Eles brigam entre si e quebram lixeiras e lâmpadas”. O jornaleiro descreve a situação como “horrorosa”.
“Esses dias, cheguei aqui e a porta estava cheia de canjiquinha. Tive que limpar tudo para conseguir abrir”, recorda ele, que limpa diariamente a banca com cloro, já que a estrutura serve de banheiro para pessoas que se abrigam na calçada dos Correios.
Em uma rápida passagem da equipe de reportagem do Jornal Terceira Via pela Praça São Salvador foi possível flagrar evidências da ocupação do espaço. Presos entre as grades e as pilastras do prédio dos Correios, alguns pertences pessoais, como cobertores e colchões. Nas grades que cercam o Soldado Desconhecido, monumento que homenageia militares brasileiros mortos em conflitos no exterior, roupas penduradas para secar ao sol. Próximo a uma banca de jornais, uma placa que sinalizava uma vaga prioritária de estacionamento foi arrancada. O jornaleiro Luiz Manoel, que trabalha no mesmo ponto há mais de 40 anos, afirma que foi resultado de uma briga entre pessoas em situação de rua.
“Foi pouco antes das 6h. Um deles estava bastante embriagado. Chegou a cair duas vezes. Uma mulher o botou de pé e ele veio para cá. Tentou abordar outro, que estava se levantando, e se formou um tumulto. Com raiva, ele começou a sacudir a placa, até que ela tombou”, conta. “Um guarda municipal colocou a placa de pé. Mas, se empurrasse, ela caía em um carro ou uma pessoa. Aí veio outro e retirou”.
Segundo Luis, a prática de vandalismo é corriqueira. “Eles brigam entre si e quebram lixeiras e lâmpadas”. O jornaleiro descreve a situação como “horrorosa”.
“Esses dias, cheguei aqui e a porta estava cheia de canjiquinha. Tive que limpar tudo para conseguir abrir”, recorda ele, que limpa diariamente a banca com cloro, já que a estrutura serve de banheiro para pessoas que se abrigam na calçada dos Correios.
Violência e constrangimento
Mas, os problemas não se limitam à sujeira e às confusões. Situações constrangedoras também são citadas com frequência por quem está todos os dias no Centro. “Dias atrás, um cara ficou nu e saiu defecando em pé. Em outra ocasião, uma mulher cismou de ter relações sexuais com um homem na calçada”, diz Luiz.
O taxista Silvano Cordeiro trabalha há dois meses no ponto ao lado da Catedral do Santíssimo Salvador e afirma que é comum ver pessoas urinando e defecando pelo local. “Eles fazem as paredes da igreja e as calçadas de banheiro”, afirma.
Há, também, consumo de drogas e violência. “Você passa aqui 19h e tem gente fumando crack. É uma bagunça só”, relata Lena Ribeiro Gomes, proprietária de uma padaria que funciona há mais de 40 anos no mesmo local.
No último dia 31, a jornalista Roberta Barcellos, chefe de gabinete do vereador Claudio Andrade e chefe de reportagem do Jornal Terceira Via, foi agredida verbalmente por uma mulher em situação de rua. Só não houve confronto físico porque a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal interviram.
A agressão aconteceu durante uma briga protagonizada pela mulher e um homem. A jornalista filmava a discussão, quando foi notada pela agressora, que a abordou de forma violenta, ameaçou quebrar seu celular e matá-la.
“O clima é de medo”, resume a cabeleireira Alessandra Souza. “Eles abordam a gente de maneira ameaçadora, pedem dinheiro e se a gente diz que não tem, nos chamam de pão-duro. Esses dias, roubaram a bolsa de uma mulher às 9h. Foram embora e ela ficou passando mal”, relata.
Mudanças na rotina
Este clima de insegurança impôs mudanças às rotinas de quem trabalha no Centro. Luiz passou a baixar as portas de sua banca mais cedo. “Estou fechando às 17h, de segunda-feira a sábado, e às 11h, aos domingos, pois não tenho como garantir a segurança dos meus clientes”, diz Luiz, que, no passado, trabalhava até as 21h.
O advogado Leandro Gomes passou a usar o carro com cuidado. “Chegamos mais cedo, saímos mais cedo. Tem dias que não venho de carro, especialmente se chegar precisar estacioná-lo longe ou prolongar o expediente”, diz.
Alessandra, afirma que as cabeleireiras que trabalham com ela passaram a sair do salão em grupos. “Nós vamos de van. Então, quando dá nosso horário, procuramos sair com uma ou mais colegas para ter mais segurança até chegar ao ponto”, revela.
Mas, os problemas não se limitam à sujeira e às confusões. Situações constrangedoras também são citadas com frequência por quem está todos os dias no Centro. “Dias atrás, um cara ficou nu e saiu defecando em pé. Em outra ocasião, uma mulher cismou de ter relações sexuais com um homem na calçada”, diz Luiz.
O taxista Silvano Cordeiro trabalha há dois meses no ponto ao lado da Catedral do Santíssimo Salvador e afirma que é comum ver pessoas urinando e defecando pelo local. “Eles fazem as paredes da igreja e as calçadas de banheiro”, afirma.
Há, também, consumo de drogas e violência. “Você passa aqui 19h e tem gente fumando crack. É uma bagunça só”, relata Lena Ribeiro Gomes, proprietária de uma padaria que funciona há mais de 40 anos no mesmo local.
No último dia 31, a jornalista Roberta Barcellos, chefe de gabinete do vereador Claudio Andrade e chefe de reportagem do Jornal Terceira Via, foi agredida verbalmente por uma mulher em situação de rua. Só não houve confronto físico porque a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal interviram.
A agressão aconteceu durante uma briga protagonizada pela mulher e um homem. A jornalista filmava a discussão, quando foi notada pela agressora, que a abordou de forma violenta, ameaçou quebrar seu celular e matá-la.
“O clima é de medo”, resume a cabeleireira Alessandra Souza. “Eles abordam a gente de maneira ameaçadora, pedem dinheiro e se a gente diz que não tem, nos chamam de pão-duro. Esses dias, roubaram a bolsa de uma mulher às 9h. Foram embora e ela ficou passando mal”, relata.
Mudanças na rotina
Este clima de insegurança impôs mudanças às rotinas de quem trabalha no Centro. Luiz passou a baixar as portas de sua banca mais cedo. “Estou fechando às 17h, de segunda-feira a sábado, e às 11h, aos domingos, pois não tenho como garantir a segurança dos meus clientes”, diz Luiz, que, no passado, trabalhava até as 21h.
O advogado Leandro Gomes passou a usar o carro com cuidado. “Chegamos mais cedo, saímos mais cedo. Tem dias que não venho de carro, especialmente se chegar precisar estacioná-lo longe ou prolongar o expediente”, diz.
Alessandra, afirma que as cabeleireiras que trabalham com ela passaram a sair do salão em grupos. “Nós vamos de van. Então, quando dá nosso horário, procuramos sair com uma ou mais colegas para ter mais segurança até chegar ao ponto”, revela.
Sem resposta oficial
Composta de direitos garantidos pela Constituição Federal — que os assegura, inclusive, poder ir e vir —, o crescimento da população em situação de rua representa um desafio social para qualquer município. As pessoas ouvidas pela reportagem, porém, afirmam que a atuação da Prefeitura de Campos é insuficiente.
“Não vejo ninguém tomando atitude. Chegam aqui, conversam com eles, dizem o que não podem fazer e daqui a pouco está tudo igual”, diz Lena.
Já Silvano, afirma ter visto uma equipe do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) “uma única vez”. “O pessoal do Centro POP passou aí uma vez e não vi mais”, diz Silvano. “A Polícia Militar está sempre pelo Centro e aborda alguém de vez em quando, mas continuam aí”.
“A gente percebe que há uma omissão do poder público. Já deveria ter sido resolvida essa situação há muito tempo. Cada dia piora mais”, opina Leandro, que mantém seu escritório há 10 anos no Centro. “Está abandonado. Vi carros da Prefeitura por aqui uma ou duas vezes, talvez para avaliar a situação, mas, no fundo, ninguém resolve nada.”
Sem resposta oficial
A equipe de reportagem do Jornal Terceira Via entrou em contato com a Prefeitura e pediu uma resposta oficial a respeito das denúncias feitas pelos entrevistados. Um e-mail contendo perguntas direcionadas à secretaria de Desenvolvimento Humano e Social foi encaminhado à superintendência de Comunicação na tarde de segunda-feira, mas não houve respostas.
No dia do ataque à jornalista Roberta Barcelos, a Prefeitura emitiu nota oficial em que afirmou que “a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social faz abordagem social por meio da equipe multidisciplinar do Centro de Referência para População em Situação de Rua. A partir do atendimento, eles são encaminhados para os diferentes serviços de acordo com as necessidades, como saúde, cursos profissionalizantes e emissão de carteira de trabalho, entre outros. No entanto, fica a critério da população em situação de rua participar do programa de acolhimento, não sendo obrigada a aceitar”.
Não ficou claro, porém, com que frequência acontece essas abordagens, como elas são feitas e qual é a taxa de sucesso. A Prefeitura também não respondeu se há algum estudo que aponte o número de pessoas em situação de rua hoje no município e nem como atua em relação às práticas de crimes e contravenções.
A reportagem, porém, conseguiu contato com a vice-prefeita Conceição Sant’anna, que é assistente social, e opinou sobre a questão. “A Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social realiza um importante e contínuo trabalho de abordagem não compulsória através de equipe multidisciplinar, com profissionais como assistentes sociais, psicólogos e orientadores sociais, além de operações pontuais de reforço a estas abordagens, unindo outros órgãos como superintendência de Postura, Grupamento de Proteção Social (GPS) da Guarda Civil Municipal, entre outros. Estamos nos mobilizando para que estas ações conjuntas sejam ainda mais frequentes e já estamos programando nova operação para os próximos dias”, diz.
Fonte:Terceira Via
Composta de direitos garantidos pela Constituição Federal — que os assegura, inclusive, poder ir e vir —, o crescimento da população em situação de rua representa um desafio social para qualquer município. As pessoas ouvidas pela reportagem, porém, afirmam que a atuação da Prefeitura de Campos é insuficiente.
“Não vejo ninguém tomando atitude. Chegam aqui, conversam com eles, dizem o que não podem fazer e daqui a pouco está tudo igual”, diz Lena.
Já Silvano, afirma ter visto uma equipe do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) “uma única vez”. “O pessoal do Centro POP passou aí uma vez e não vi mais”, diz Silvano. “A Polícia Militar está sempre pelo Centro e aborda alguém de vez em quando, mas continuam aí”.
“A gente percebe que há uma omissão do poder público. Já deveria ter sido resolvida essa situação há muito tempo. Cada dia piora mais”, opina Leandro, que mantém seu escritório há 10 anos no Centro. “Está abandonado. Vi carros da Prefeitura por aqui uma ou duas vezes, talvez para avaliar a situação, mas, no fundo, ninguém resolve nada.”
Sem resposta oficial
A equipe de reportagem do Jornal Terceira Via entrou em contato com a Prefeitura e pediu uma resposta oficial a respeito das denúncias feitas pelos entrevistados. Um e-mail contendo perguntas direcionadas à secretaria de Desenvolvimento Humano e Social foi encaminhado à superintendência de Comunicação na tarde de segunda-feira, mas não houve respostas.
No dia do ataque à jornalista Roberta Barcelos, a Prefeitura emitiu nota oficial em que afirmou que “a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social faz abordagem social por meio da equipe multidisciplinar do Centro de Referência para População em Situação de Rua. A partir do atendimento, eles são encaminhados para os diferentes serviços de acordo com as necessidades, como saúde, cursos profissionalizantes e emissão de carteira de trabalho, entre outros. No entanto, fica a critério da população em situação de rua participar do programa de acolhimento, não sendo obrigada a aceitar”.
Não ficou claro, porém, com que frequência acontece essas abordagens, como elas são feitas e qual é a taxa de sucesso. A Prefeitura também não respondeu se há algum estudo que aponte o número de pessoas em situação de rua hoje no município e nem como atua em relação às práticas de crimes e contravenções.
A reportagem, porém, conseguiu contato com a vice-prefeita Conceição Sant’anna, que é assistente social, e opinou sobre a questão. “A Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social realiza um importante e contínuo trabalho de abordagem não compulsória através de equipe multidisciplinar, com profissionais como assistentes sociais, psicólogos e orientadores sociais, além de operações pontuais de reforço a estas abordagens, unindo outros órgãos como superintendência de Postura, Grupamento de Proteção Social (GPS) da Guarda Civil Municipal, entre outros. Estamos nos mobilizando para que estas ações conjuntas sejam ainda mais frequentes e já estamos programando nova operação para os próximos dias”, diz.
Fonte:Terceira Via
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