Portas baixadas e anúncios de aluguel se tornaram visão comum no coração comercial da cidade, a sexta mais empreendedora do Rio
POR MARCOS CURVELLO
Números da secretaria municipal de Fazenda apontam fechamento de 238 estabelecimentos comerciais em 2019. (Foto: Silvana Rust)
Basta uma volta pelas ruas do Centro de Campos para se deparar com as portas fechadas. Letreiros de lojas que não existem mais, placas de “passa-se o ponto” ou “aluga-se” e avisos de mudança para bairros mais distantes são visões comuns em alguns dos endereços comerciais mais disputados do município. Resultado de uma crise econômica que começou em 2014 e não poupou novos e nem antigos empreendedores. De acordo com um levantamento da secretaria municipal de Fazenda, 238 estabelecimentos comerciais encerraram suas atividades somente em 2019.
O número considera os seis primeiros meses do ano e apresenta pouca variação em relação ao índices que vêm sendo registrados nos últimos dois anos. Ainda segunda a Fazenda, 494 negócios fecharam as portas em 2018 e 464, em 2017.
Um dos empresários que decidiu pelo fechamento foi Luiz Carlos Chicri. Referência no ramo de materiais esportivos em Campos e dono de uma das maiores lojas da rua João Pessoa, tradicional logradouro do comércio campista, Chicri optou por encerrar as atividades de duas unidades em janeiro deste ano — antes, já havia fechado uma terceira. As condições do mercado e o e-commerce contribuíram para a decisão, afirma.
“Os grandes fornecedores de material esportivo começaram a dificultar a venda para os pequenos e médios lojistas, impondo a compra de maior quantidades de produtos para ter acesso a melhores descontos e diminuindo os prazos de pagamento. Os grandes revendedores conseguem manter lucros acima de 100% nessas condições, mas os menores, não”, explica.
Reconhecido como o maior revendedor de grandes marcas de material esportivo no interior do estado do Rio e pioneiro na comercialização de produtos que se tornariam procurados no setor, Chicri destaca, ainda, a crise econômica que afetou o país, o estado e o município em diferentes intensidades nos últimos cinco anos e a concorrência da Internet.
“A crise tirou as pessoas da rua. Elas pararam de comprar. E ainda tem o comércio eletrônico. Muita gente ia à loja, experimentava um tênis, por exemplo, dizia que voltaria e dias depois, aparecia com o produto no pé. Comprado pela Internet, certamente”, conta.
Concentração de renda
De acordo com o economista Alcimar Chagas, o fechamento de empresas em Campos é fruto não só da crise econômica que atingiu o Brasil a partir de 2014 — e a cidade, mais especialmente, com a queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional —, mas também de uma construção sócio-histórica.
“Campos carece de atividades produtivas que gerem massa de renda para consumo. A atividade industrial é concentrada na cana-de-açúcar, que está em declínio. Sobra o setor de serviços, já que o município é mais central e polariza cidades da região, contando com agências, delegacias, representações e unidades de bancos, da Justiça e dos governos estadual e federal, por exemplo. Mas, a concentração de renda impede a consolidação do consumo”, diz o economista.
Alcimar explica que os campistas com maior poder aquisitivo acabam gastando seu dinheiro fora do município e o restante da população não é capaz de sustentar o comércio local. “Quem tem renda maior, viaja. Vai para Búzios ou para a capital, por exemplo, e acaba gastando nessas cidades. O restante da população sobrevive com uma média de dois salários mínimos mensais. Muitas famílias estão endividadas. É uma combinação que não ajuda a atrair novos empreendimentos e nem a manter existentes. Os resultados são dezenas de negócios fechados”, diz.
Para economista, abertura de novos negócios é fruto do desemprego. (Foto: Silvana Rust)
Cidade empreendedora
Os números da secretaria de Fazenda são globais e incluem empresas com diferentes regimes tributários e até microempreendedores Individuais (MEIs). Uma análise dos números, porém, revela um aparente paradoxo: enquanto as portas fechadas se multiplicam no Centro, o município registra mais estabelecimentos comerciais abertos.
O saldo positivo é de 2.643 negócios em 2017, 2.954 em 2018 e 1.622 em 2019. Isso coloca Campos como a sexta cidade mais empreendedora do Estado do Rio.
Mas, Alcimar Chagas atenta para o que chama de “empreendedorismo de necessidade”. Segundo o economista, trata-se de um resultado direto do fechamento de postos de trabalho formais e normalmente resulta em empresas de vida curta, devido à falta de preparo de seus proprietários.
“Empreender não é criar negócio simplesmente. Um marceneiro fica desempregado e abre uma loja. Mas, ele não está ciente das dificuldades do setor, não tem um estudo de mercado, não sabe lidar com a burocracia, nem se manter competitivo. Aí fecha, porque, normalmente, não tem as competências necessárias. São números de alta rotatividade”, finaliza.
POR MARCOS CURVELLO
Números da secretaria municipal de Fazenda apontam fechamento de 238 estabelecimentos comerciais em 2019. (Foto: Silvana Rust)
Basta uma volta pelas ruas do Centro de Campos para se deparar com as portas fechadas. Letreiros de lojas que não existem mais, placas de “passa-se o ponto” ou “aluga-se” e avisos de mudança para bairros mais distantes são visões comuns em alguns dos endereços comerciais mais disputados do município. Resultado de uma crise econômica que começou em 2014 e não poupou novos e nem antigos empreendedores. De acordo com um levantamento da secretaria municipal de Fazenda, 238 estabelecimentos comerciais encerraram suas atividades somente em 2019.
O número considera os seis primeiros meses do ano e apresenta pouca variação em relação ao índices que vêm sendo registrados nos últimos dois anos. Ainda segunda a Fazenda, 494 negócios fecharam as portas em 2018 e 464, em 2017.
Um dos empresários que decidiu pelo fechamento foi Luiz Carlos Chicri. Referência no ramo de materiais esportivos em Campos e dono de uma das maiores lojas da rua João Pessoa, tradicional logradouro do comércio campista, Chicri optou por encerrar as atividades de duas unidades em janeiro deste ano — antes, já havia fechado uma terceira. As condições do mercado e o e-commerce contribuíram para a decisão, afirma.
“Os grandes fornecedores de material esportivo começaram a dificultar a venda para os pequenos e médios lojistas, impondo a compra de maior quantidades de produtos para ter acesso a melhores descontos e diminuindo os prazos de pagamento. Os grandes revendedores conseguem manter lucros acima de 100% nessas condições, mas os menores, não”, explica.
Reconhecido como o maior revendedor de grandes marcas de material esportivo no interior do estado do Rio e pioneiro na comercialização de produtos que se tornariam procurados no setor, Chicri destaca, ainda, a crise econômica que afetou o país, o estado e o município em diferentes intensidades nos últimos cinco anos e a concorrência da Internet.
“A crise tirou as pessoas da rua. Elas pararam de comprar. E ainda tem o comércio eletrônico. Muita gente ia à loja, experimentava um tênis, por exemplo, dizia que voltaria e dias depois, aparecia com o produto no pé. Comprado pela Internet, certamente”, conta.
Concentração de renda
De acordo com o economista Alcimar Chagas, o fechamento de empresas em Campos é fruto não só da crise econômica que atingiu o Brasil a partir de 2014 — e a cidade, mais especialmente, com a queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional —, mas também de uma construção sócio-histórica.
“Campos carece de atividades produtivas que gerem massa de renda para consumo. A atividade industrial é concentrada na cana-de-açúcar, que está em declínio. Sobra o setor de serviços, já que o município é mais central e polariza cidades da região, contando com agências, delegacias, representações e unidades de bancos, da Justiça e dos governos estadual e federal, por exemplo. Mas, a concentração de renda impede a consolidação do consumo”, diz o economista.
Alcimar explica que os campistas com maior poder aquisitivo acabam gastando seu dinheiro fora do município e o restante da população não é capaz de sustentar o comércio local. “Quem tem renda maior, viaja. Vai para Búzios ou para a capital, por exemplo, e acaba gastando nessas cidades. O restante da população sobrevive com uma média de dois salários mínimos mensais. Muitas famílias estão endividadas. É uma combinação que não ajuda a atrair novos empreendimentos e nem a manter existentes. Os resultados são dezenas de negócios fechados”, diz.
Para economista, abertura de novos negócios é fruto do desemprego. (Foto: Silvana Rust)
Cidade empreendedora
Os números da secretaria de Fazenda são globais e incluem empresas com diferentes regimes tributários e até microempreendedores Individuais (MEIs). Uma análise dos números, porém, revela um aparente paradoxo: enquanto as portas fechadas se multiplicam no Centro, o município registra mais estabelecimentos comerciais abertos.
O saldo positivo é de 2.643 negócios em 2017, 2.954 em 2018 e 1.622 em 2019. Isso coloca Campos como a sexta cidade mais empreendedora do Estado do Rio.
Mas, Alcimar Chagas atenta para o que chama de “empreendedorismo de necessidade”. Segundo o economista, trata-se de um resultado direto do fechamento de postos de trabalho formais e normalmente resulta em empresas de vida curta, devido à falta de preparo de seus proprietários.
“Empreender não é criar negócio simplesmente. Um marceneiro fica desempregado e abre uma loja. Mas, ele não está ciente das dificuldades do setor, não tem um estudo de mercado, não sabe lidar com a burocracia, nem se manter competitivo. Aí fecha, porque, normalmente, não tem as competências necessárias. São números de alta rotatividade”, finaliza.
Fonte:Terceira Via
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