segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Rio: carreta leva atendimento gratuito contra doenças de pele

Atendimento será feito em 20 municípios fluminenses

Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro

A Carreta da Saúde inicia nesta segunda-feira (5), em Irajá, zona norte do Rio de Janeiro, atendimento gratuito para combate à hanseníase e outras doenças da pele da atenção básica de saúde, como câncer, por exemplo. Parte do Projeto Roda-Hans, parceria da empresa Novartis com o Ministério da Saúde e com a Associação Alemã de Assistência aos Hansenianos (DAHW), a carreta vai percorrer 20 municípios fluminenses. Entre eles, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Magé, Mesquita, São Gonçalo, Rio Bonito, Vassouras, Resende, Volta Redonda, Angra dos Reis.

Maria Kátia Gomes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do Departamento de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), disse à Agência Brasil que a Carreta da Saúde faz parte de uma política de apoio aos postos de saúde das cidades por onde passa. A médica destacou que os postos de saúde constituem a atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS). “São dermatologistas que estão escalados pela SBD, especialistas em hanseníase, para capacitar os médicos dos postos de saúde a identificar a hanseníase no contexto das doenças dermatológicas que são comuns na atenção primária”, explicou.

A professora doutora citou, entre essas doenças, os chamados “panos brancos”, as micoses, furúnculos, as dermatites seborreicas ou caspas, micoses profundas. Caberá ao dermatologista capacitar o médico clínico da atenção básica, ou médico de família, a reconhecer e tratar as doenças de pele que são comuns na atenção básica, entre as quais o câncer de pele. “E reconhecer e tratar o mais precoce possível a hanseníase, que é uma doença que incapacita, causada por uma microbactéria que passa de uma pessoa doente que nunca tratou para uma pessoa sadia”.

Contaminação

De acordo com a especialista, não há vetores animais. A doença é passada sempre de um humano doente para outro sadio. A pessoa infectada pode passar milhares de bacilos para o ar por meio da fala e quando outra pessoa que está com ela no ambiente respira, recebe o bacilo. De cada 100 pessoas que respiram esse ar contaminado, cerca de dez adoecem. Maria Kátia destacou que quanto mais precoce for o diagnóstico na primeira fase, em que aparece uma mancha mais clara que a cor da pele, com menos quantidade de pelos, mais fácil é o tratamento, que dura seis meses.

Ao contrário, quanto mais o médico da atenção primária demora em conseguir reconhecer essa doença, mais o paciente tem chance de evoluir a hanseníase e apresentar garras nos dedos das mãos e dos pés, abrir feridas nas plantas dos pés, andar mancando, não conseguir segurar um copo. “Essa é a magnitude da hanseníase. Quando ela não é diagnosticada precocemente, o paciente apresenta incapacidades físicas que podem tornar a mão, o pé ou o olho não funcionais”.

Maria Kátia observou que a hanseníase depende muito da forma de moradia. Quanto mais aglomerada a população mora, quanto mais as pessoas ficam juntas em ambientes fechados, maior a chance de se contaminarem. “Cada ser humano nasce geneticamente definido se vai ser suscetível a adoecer ou não. A população mais suscetível é a que mora na casa de alguém que está doente”, reiterou.

Esquemas terapêuticos

Essa população deve ser examinada. Se não apresentar nenhuma lesão de pele pode tomar a vacina BCG, utilizada primariamente contra a tuberculose, que vai fazer com que, se a pessoa adoecer, que seja de uma forma branda. Nesse caso, toma um esquema terapêutico chamado paucibacilar, que dura seis meses. Se adoece de um jeito mais forte, com maior número de lesões, vai ter que tomar o remédio por 12 meses. Maria Kátia salientou que todas as formas clínicas de hanseníase têm cura, “desde que os profissionais da saúde sejam capazes de reconhecer (a doença) e diagnosticar”.

Os dermatologistas que darão as aulas aos médicos de família, residentes e enfermeiros estarão dentro da Carreta da Saúde, que é um caminhão itinerante com seis consultórios e um laboratório. Segundo Maria Kátia, a capacitação dos profissionais da saúde básica passa por duas etapas. As aulas teóricas são dadas antes da carreta chegar ao município. A segunda etapa ocorre durante o atendimento na carreta, quando o professor dermatologista, que é hansenólogo, vai explicar que caso é aquele, como se trata, seja hanseníase ou não. “Se for hanseníase, a gente vai começar a tratar dentro da carreta”.

A principal política, de acordo com Maria Kátia, é colocar o profissional treinado em fazer o diagnóstico mais perto da casa do paciente. “Portanto, todos os postos de saúde devem ter profissionais capazes a reconhecer e tratar a doença. É nisso que a gente aposta”. A Carreta da Saúde permanecerá em Irajá até a terça-feira (6), com atendimento aberto ao público na esquina da rua do Encantamento com a rua Monsenhor Felix, das 8h às 17h. Depois de Irajá, o caminhão seguirá percorrendo o estado do Rio de Janeiro até o próximo mês de setembro. A Carreta da Saúde registra nos dez anos de atuação pelo país um total de 70 mil atendimentos à população.

Compromisso

O projeto tem o compromisso de que os dermatologistas da SBD continuarão dando suporte aos profissionais que foram treinados após a carreta sair daqueles municípios. “Não é uma ação que começa e acaba com a carreta. A carreta é um equipamento para chamar a atenção, para colocar a hanseníase na ordem do dia, para mobilizar os prefeitos e secretários de saúde. É uma política de treinamento da atenção primária para que os programas de hanseníase dos municípios sejam descentralizados. Porque quanto maior o número de serviços em cada município, reconhecendo e tratando, maior a chance de não ficar ninguém doente sem tratamento”, frisou a médica.

Os municípios fluminenses selecionados são aqueles com maior número de casos. Outros dois municípios da região serrana e do noroeste do estado têm silêncio da doença, isto é, não tiveram casos diagnosticados nos últimos anos. “A gente acha que devem ter a doença mas não está sendo identificada”. Como essas cidades estão próximas de outras endêmicas, a coordenadora de Hanseníase da SBD acredita que possivelmente os diagnósticos estão passando despercebidos. A ideia é estimular que os casos apareçam para que os especialistas possam identificá-los junto com a equipe de atenção primária.

O tratamento poliquimioterapia (PQT), que está disponível gratuitamente em toda a rede pública do Brasil, cura a hanseníase, interrompe sua transmissão e previne as deformidades. O tratamento é doado pela Novartis por meio da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O projeto, que completa dez anos, tem apoio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), que buscam a erradicação da doença no país até 2020.
Fonte:Agência Brasil

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