segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Praça do Liceu: espaço nobre da cidade se consolida como principal área de eventos

Não é de hoje que o espaço é utilizado para a realização de festas, feiras, espetáculos, exposições e shows 
POR ULLI MARQUES

Considerada uma das mais belas áreas do município, o chamado “quadrilátero histórico” é também o reduto da produção cultural de Campos. A região em que está situado o conjunto arquitetônico datado dos séculos XIX e XX constituído pelo Liceu de Humanidades de Campos, pelo antigo Fórum Nilo Peçanha (atual Câmara Municipal), pela Casa de Cultura Villa Maria e pela Praça Barão do Rio Branco (popularmente conhecida como Jardim do Liceu) tem sido cenário de eventos diversos que atraem um público heterogêneo; público esse que representa a pluralidade e a efervescência de uma cidade do porte e importância de Campos dos Goytacazes.

Não é de hoje que o espaço é utilizado para a realização de festas, feiras, espetáculos, exposições e shows. Houve um tempo, inclusive, que importantes nomes da música brasileira apresentaram-se no Jardim do Liceu e as lembranças das apresentações do Sexteto do Jô, da Família Lima, de Elisa Lucinda e de Yamandu Costa, por exemplo, mantêm-se na memória de muitos. Hoje, apesar da contingência de verbas municipais destinadas à cultura, a praça e também o seu entorno continuam servindo ao propósito de ser ponto de encontro de amigos e familiares que buscam entretenimento para todos. Isso devido aos esforços de empresários do ramo e, principalmente, da sociedade civil organizada.

O que tem sido um chamariz para atrair esse público diversificado nos últimos anos são os festivais de cervejarias e foodtrucks que contam ainda com programação musical de bandas locais, entrada gratuita e outras iniciativas que os diferenciam uns dos outros. Somente nessas primeiras semanas do mês de outubro, dois eventos ocorreram nessas imediações: o Festival da Colheita, que aconteceu no próprio Jardim do Liceu, com uma proposta voltada para a gastronomia vegetariana e vegana; e o Oktober Campos, que, nos moldes do Oktoberfest que promove a cultura alemã, reuniu comidas, bebidas e danças típicas em um terreno privado próximo dali.

Uma das organizadoras desse último evento, Larissa Cabral, conta que a localização pode ter contribuído para o sucesso. “Essa é uma área já conhecida pelo público; por ali passam muitas pessoas todos os dias e imaginávamos que conseguiríamos lotar o terreno tanto pela programação que organizamos, quanto pela proximidade com a pracinha do Liceu”, explicou.

Além desses eventos particulares, alguns outros, idealizados por coletivos, associações e grupos independentes, já entraram para o calendário do município de Campos. É o caso, por exemplo, do Dia do Rock Goytacá, que acontece sempre em maio; do Samba na Praça, todo terceiro domingo do mês; e o Festival Doces Palavras, ou FDP!, que é bienal e deveria ter ocorrido em setembro, mas, após adiamento, foi cancelado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) que alegou não poder arcar com os custos da realização.


O caso FDP!
Idealizado pela Associação de Imprensa Campista (AIC), o Festival Doces Palavras — que tem como propósito unir a cultura literária à tradição dos doces locais — foi incluído no Calendário do Município de Campos em 2017, na sua segunda edição, com sanção do prefeito Rafael Diniz. Assim, enquanto a curadoria permaneceria recebendo a contribuição da associação, a realização, após essa incorporação, passaria a ser da Prefeitura. Acontece que em 2019, devido o contingenciamento das despesas municipais, a FCJOL anunciou o cancelamento da terceira edição. Agora, artistas e entidades culturais do município movimentam-se para manter o projeto sem financiamento.

Segundo o presidente da AIC, Wellington Cordeiro, a ideia é que o FDP! seja descentralizado com programação ao longo de todo o mês de novembro. Sobre o cancelamento por parte da prefeitura, ele comenta: “O FDP! nasceu para ocorrer no Jardim do Liceu e no mês de setembro, conforme o calendário municipal, mas após a Fundação Cultural adiar a realização, optaram pelo cancelamento em cima da hora. Contudo, não podemos deixar esse evento esmorecer. Vamos realizar um Festival alternativo, com atividades diversas e espalhadas por toda cidade, mesmo sem qualquer apoio do governo municipal”, declarou.

Em nota, a Prefeitura de Campos declarou que “reconhece a relevância do Festival” e que “lamenta ter que cancelar o evento”, mas “encontra-se em contingenciamento de despesas não podendo arcar sozinha com os custos”.

Dia do Rock Goytacá
Situação semelhante ocorreu com outro evento oficial do calendário do município, o Dia do Rock Goytacá, instituído em 2013 e que teria motivado o retorno do movimento cultural no quadrilátero histórico de Campos.

Criado por meio de um projeto de lei de iniciativa popular, sua primeira edição foi, de fato, realizada inteiramente pelo poder público; mas esta foi a única até hoje.

Em 2015, 2016 e 2018, por exemplo, não houve qualquer participação do município; já em 2019, o governo municipal atuou como “correalizador” ao ceder som, palco, banheiro químico e gerador.
Um dos organizadores do Dia do Rock, Kiko Anderson, explica que diferentemente do FDP!, esse evento não foi designado para acontecer sempre no quadrilátero histórico, mas a beleza e a relevância cultural do local influi sobre a significância da festa. Ele lamenta a inconstância do suporte oferecido pelo setor público e declara que, com estrutura adequada, o Dia do Rock Goytacá poderia ser ainda mais grandioso. “Essa data assegura uma série de ações educativas e de promoção da música em uma escala muito maior do que o que nós fizemos até hoje. Contudo, com esse apoio insipiente e, muitas vezes, inexistente, sem firmeza nos compromissos, fazemos o possível para manter viva essa cultura no nosso município”.

Samba na Praça
Desde 2015, amantes do samba de todas as classes e idades reúnem-se nas manhãs dos terceiros domingos de cada mês na Praça Barão do Rio Branco para ouvir boa música e encontrar amigos. A princípio, o Samba na Praça era uma iniciativa de poucos que buscavam uma alternativa de lazer; hoje, quatro anos depois, o evento já ganhou prêmio, foi divulgado em jornais de expressão nacional, e já reuniu mais de 30 mil pessoas, sendo também incluído no calendário municipal; o único com frequência mensal.

Um dos organizadores, Bida Leão, conta que a escolha pelo local aconteceu por acaso: “A princípio fazíamos um samba informal na casa de um ou de outro; depois, como o público foi crescendo, decidimos transferir para a praça que, na época, ficava vazia aos domingos pela manhã. O processo foi espontâneo e, quando nos demos conta, já tínhamos músicos profissionais conosco e um grupo vasto que já espera ansiosamente pelo samba”, explicou.

Também sem auxílio do governo municipal, o evento passou a fazer parte do calendário de Campos devido a um projeto de lei do vereador Abu. Mas essa inclusão não lhes deu garantias. Para pagar os banheiros químicos, por exemplo, muitas vezes é necessário “passar o chapéu”.

“Ainda que não tenhamos qualquer apoio público, fazemos a nossa parte, como sociedade civil, para valorizar os espaços da nossa cidade e preenchê-los com cultura”, concluiu Bida.

Casa de Cultura Villa Maria
Importante contribuição para o fomento da cultura nas imediações do quadrilátero histórico nos últimos anos advém da Casa de Cultura Villa Maria, que faz parte da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e tem como finalidade pensar uma política institucional universitária de cultura. A diretora do espaço, Simonne Teixeira, esclarece que a Villa Maria não é uma casa de eventos, embora acolha em seu jardim projetos em parceria com grupos locais que tem como característica-base a promoção cultural.

Esses eventos são sempre com entrada gratuita e os custos são, comumente, arcados pelos próprios expositores do setor de gastronomia, artesanato e outros. Entre essas iniciativas, estiveram, por exemplo, o Bazar na Villa e o Choro na Villa que atraíram um grande público nesse espaço ao oferecerem atrações musicais diversificadas.

Simonne explica ainda que a Casa de Cultura também vem realizando projetos próprios como o Jazz na Villa, que teve sua primeira edição em agosto de 2019, o Vinil na Villa, que já faz parte de um calendário fixo, as exposições artísticas em parceria com outras instituições como IFF e a UFF, e o próprio acervo da casa constituído de documentos, fotografias, partituras etc. referente à cultura da cidade de Campos.

“É importante esclarecer que a Villa Maria é a Uenf. É a universidade que nos mantém como seu órgão cultural. Esses eventos que provemos, realizamos e/ou acolhemos nos ajudam, junto à verba universitária, a manter a Villa que, como sabemos, é uma casa de 101 anos que demanda reparos constantes”, detalhou e acrescentou que a casa possui uma página internet (https://villamaria.uenf.br/) em que o público pode conferir a programação completa de eventos e exposições que ocorrem no espaço.
Fonte:Terceira Via

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