domingo, 2 de fevereiro de 2020

Problemas se repetem no verão

CAMILLA SILVA

Genilson Pessanha

Cheias. Alagamentos. Deslizamentos. Os problemas se repetem em todo verão que tenha maior concentração de chuvas. Em Três Vendas, o rompimento de um dique e a preocupação com uma possível inundação ocorre pela terceira vez em menos de 15 anos e tanto população quanto especialistas questionam falta de planejamento e manutenção de estruturas de controle e contenção de estragos. Embora os afluentes do Paraíba do Sul tenham transbordado em vários municípios do Norte e Noroeste Fluminense - deixando cerca de 21 mil pessoas fora de suas casas -, em Campos, o rio não chegou perto da sua cota máxima, que é de 10,40 m. A possibilidade de enchente, no entanto, foi o suficiente para que o Instituto Esta-dual de Ambiente (Inea) e o Comitê do Baixo Paraíba decidissem pelo fechamento das com-portas que ligam ao rio os canais que cortam o município.

— A área de transbordo do rio é 10,40 m na cidade, mas, com as comportas abertas, já começa a inundar áreas rurais e bairros periféricos. Por isso tomamos a medida preventiva de fechar todas as comportas. Por sermos uma planície, nós vivemos dois extremos ao mesmo tempo. Tem local que está cheio e local que está seco em um mesmo canal, então se você abre um bairro pode estar com alagamento enquanto a água não chegou mais adiante — explicou o presidente do Comitê do Baixo Paraíba, João Siqueira.

Os canais têm três funções. Nas chuvas, eles atuam como sistema de drenagem. Na seca, é possível conduzir água para produtores em locais da Baixada Campista. E, de uma forma geral, eles recebem o esgoto do tratado da cidade.

A decisão sobre quando as comportas abrem e fecham fica a cargo de grupo de trabalho, criado no Comitê desde 2011, composto por universidades, prefeituras, pescadores e produtores rurais. Segundo um levantamento realizado pelo órgão no final do ano passado, todos os canais precisam de manutenção de limpeza de vegetação. Na área urbana, outro problema aparece: é o do acúmulo de lixo e ligação clandestina de esgoto. Responsável pelo projeto que realizou a limpeza do canal Campos-Macaé, a Águas do Paraíba falou sobre o assunto. “Infelizmente, o lançamento de lixo continua sendo feito nas margens e no interior do canal, além de gordura despejada por bares, lanchonetes e restaurantes que continuam sujando e poluindo o canal”, lamenta o Superintendente de Águas do Paraíba, engenheiro Juscélio Azevedo.

Para o ecohistoriador e ambientalista Aristides Soffiati, as inundações são consequências de erros históricos, de 200 anos, na ocupação de áreas. “Campos tem um modelo de cidade desenvolveu-se com um marcante traço: a grande desigualdade social. Essa característica leva as cidades a se desenvolverem de forma desordenada, com a ocupação de áreas ambientalmente frágeis. Daí os frequentes desastres causados por chuvas, alagamentos e deslizamentos de encostas”, afirmou. (C.S.)

Jogo de empurra sobre manutenção de dique

Possibilidade de enchente levou o Instituto Estadual de Ambiente (Inea) e o Comitê do Baixo Paraíba a decidirem pelo fechamento das comportas que ligam o rio Paraíba aos canais / Genilson Pessanha

Na última terça, o dique da Boianga, na localidade de Três Vendas, em Campos, não suportou a força da água com a cheia do rio Muriaé e se rompeu, apesar do trabalho da Defesa Civil municipal para reforçar a barragem. A estrutura foi estabelecida, após os rompimentos da BR 356 (Campos-Itaperuna) nas cheias de 2007 e 2012, como forma de impedir que a água chegasse à rodovia, que funciona como um segundo dique para evitar alagamentos na localidade. No local onde o asfalto cedeu nos anos anteriores, foi instalada uma manilha para preservar a estrutura da estrada, que caso ficasse aberta, direcionaria o volume do rio para o bairro. Por isso, a Defesa Civil realizou o bloqueio com a colocação de barros e pedras na abertura.

A Folha buscou o Inea e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) sobre quando havia sido a última manutenção do dique que rompeu. O Inea afirmou que “os diques existentes ao longo dos rios Muriaé e Paraíba do Sul foram implantados pelo Governo Federal, a quem compete o monitoramento, manutenção e a recuperação dessa estrutura”. Já o Dnit, “devido às fortes chuvas que atingem o estado do Rio de Janeiro, houve rompi-mento de um dique existente na altura do KM 118, que é administrado pelo Instituto Estadual do Ambiente – INEA.

Ações em andamento e planejadas em 2020

Sobre a manutenção dos canais, o Inea afirmou que está ocorrendo intervenção nos canais Coqueiros e Cacumanga e há previsão de intervenção também no canal São Bento. “Os de-mais não estão contemplados nesta primeira etapa do projeto, que tem duração prevista de um ano. A etapa posterior está em fase de elaboração para preparo da licitação”, completou. O município informou que entre canais primários secundários e terciários, o município conta com cerca de 1400 km de extensão- de canais urbanos e rurais e que tem buscado viabilizar a manutenção de canais seja através de parcerias com o Governo do Estado ou mesmo pelos órgãos municipais, quando em área urbana. “Somente nos últimos meses, foi feita a limpeza de trechos dos canais Cacomanga, Coqueiro e São Bento em parceria com a Secretaria Esta-dual do Ambiente e Sustentabilidade, pelo projeto “Limpa Rio”. “A Prefeitura, por sua vez, já vem limpando outros canais e valas urbanas como a vala de drenagem de Custodópolis, Jardim Aeroporto, canal Rio Branco, canal do Saco, canal Campos-Macaé, entre outros. Técnicos da secretaria de Agricultura também fazem constantemente levantamentos para manutenção da limpeza e busca de parcerias através dos órgãos estaduais”.
Fonte:Fmanhã

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