Presidente nega irregularidades e diz que foi beneficiado por deduções fiscais legais. Foto: Mandel Ngan / AFP
O jornal The New York Times publicou, no domingo, dados das declarações de Imposto de Renda do presidente americano Donald Trump e de suas empresas, cobrindo mais de duas décadas. Ele reduziu seu IR com medidas questionáveis. É importante lembrar que as declarações não equivalem a um olhar cru e imparcial sobre as atividades financeiras do presidente e de suas empresas. São, na realidade, sua visão sobre suas próprias companhias, compiladas para a Receita. Ainda assim, permitem traçar o panorama mais detalhado até o momento.Nesta segunda-feira, Trump rebateu a reportagem, insistindo ter pago “muitos milhões de dólares” e que, “como todo mundo, tinha direito a deduções fiscais”. “A imprensa fake news, assim como na época das eleições de 2016, está trazendo à tona meus impostos e todos os tipos de outras bobagens, com informações obtidas ilegalmente e apenas más intenções”, escreveu o presidente no Twitter.
Em um vídeo publicado nesta segunda-feira, a campanha do democrata Joe Biden mostrou que professores primários pagam anualmente em IR US$ 7.239 (R$ 40.805), enquanto bombeiros pagam US$ 5.283 (R$ 29.779), e enfermeiros, US$ 10.216 (R$ 57.586). Nesta terça-feira será realizado o primeiro debate da campanha presidencial, e o tema deverá ser explorado pela oposição.
A seguir, entenda em maiores detalhes os pontos-chave do que foi descoberto na reportagem.
Fuga de receita
Em 11 dos 18 anos analisados, ele não pagou sequer um centavo em IR. Em 2016 e 2017, pagou apenas US$ 750 (R$ 4.171). Nas últimas duas décadas, Trump desembolsou cerca de US$ 400 milhões a menos em seus impostos de renda combinados do que uma pessoa muito rica que pagou anualmente o valor médio para o grupo. A maioria das pessoas abastadas paga bastante Imposto de Renda. Em 2017, o IR médio entre os contribuintes mais ricos — 0,001% da população — foi de 24,1%, segundo a Receita Federal.
Trump pode ser o presidente mais rico dos EUA. Ainda assim, com frequência paga menos impostos que outros presidentes recentes. Barack Obama e George W. Bush regularmente pagavam, cada um, mais de US$100 mil por ano — às vezes, muito mais — em impostos de renda enquanto estavam na Casa Branca.
Gastos empresariais e benefícios pessoais
Trump classifica boa parte das despesas com seu estilo de vida como gastos empresariais: suas residências, os campos de golfe e o custo de sua aeronave. Também são classificados nessa categoria cortes de cabelo dele — incluindo mais de US$ 70 mil para estilizá-lo durante as gravações de “O Aprendiz” — e de sua filha Ivanka, que pagou quase US$ 100 mil a um de seus cabeleireiros e maquiadores favoritos. Tais despesas ajudam a reduzir o Imposto de Renda.
Também como gasto empresarial está listada a propriedade de Seven Springs, um terreno de 80 hectares no estado de Nova York comprado em 1996 e que o site da Organização Trump classifica como “um retiro para a família Trump”. Ainda assim, o presidente classificou o local como propriedade de investimento, diferente de uma residência pessoal. Como resultado, ele se livrou de uma cobrança de US$ 2,2 milhões em IPTU desde 2014.
‘Taxas de consultoria’
Entre quase todos os seus projetos, as empresas de Trump destinaram quase 20% de seu lucro para “taxas de consultoria” sem explicações. Taxas deste tipo reduzem impostos, porque as companhias podem classificá-las como gastos empresariais. Trump recebeu US$ 5 milhões em um acordo hoteleiro no Azerbaijão, por exemplo, declarando US$ 1,1 milhão em taxas de consultoria. Desde 2010, o presidente declarou cerca de US$ 26 milhões nessa categoria. Sua filha Ivanka parece ter recebido algumas destas taxas de consultoria, apesar de ser uma das principais executivas da Organização Trump.
Empresas que perdem dinheiro
Muitas das companhias mais proeminentes do presidente perdem muito dinheiro. Desde 2000, Trump declarou ter perdido mais de US$ 315 milhões nos seus campos de golfe. Seu hotel em Washington, aberto em 2016, já perdeu mais de US$ 55 milhões. A exceção é a Trump Tower, em Nova York, que habitualmente lhe traz lucros anuais superiores a US$ 20 milhões.
A parte mais bem-sucedida das empresas de Trump é a sua marca pessoal. O NYT calcula que, entre 2004 e 2018, Trump arrecadou US$ 427,4 milhões com a venda de sua imagem. A Organização Trump — composta por mais de 500 companhias, quase todas propriedades do presidente — tem usado as perdas para compensar os grandes lucros do licenciamento da marca Trump (outros pagam para usá-la) e de outras partes lucrativas de seus negócios. As perdas declaradas de seus negócios foram tão altas que apagaram completamente o lucro do licenciamento, dando a entender que a Organização Trump não recebe dinheiro nenhum e, consequentemente, não precisaria pagar Imposto de Renda.
Grandes dívidas à vista
Com o lucro de “O Aprendiz” — que estreou no canal NBC em 2004 e foi um sucesso enorme — Trump comprou mais de 10 campos de golfe e diversas outras propriedades. As perdas por elas registradas ajudaram a reduzir seu Imposto de Renda. A estratégia começou a apresentar problemas conforme os lucros do programa começaram a cair.
Desde que se tornou um dos principais candidatos à Presidência, ele recebeu grandes quantias de dinheiro de lobistas, políticos e autoridades estrangeiras que pagam para se hospedar em suas propriedades ou se juntar aos seus clubes. Mas muitos dos seus negócios continuam a perder dinheiro. Em breve, ele irá se deparar com grandes dívidas que poderão aumentar ainda mais a pressão sobre suas finanças.
Há a principal hipoteca da Trump Tower, de US$ 100 milhões, que será cobrada em 2022. Se vier a perder a disputa com a Receita sobre uma restituição de 2010, ele poderá dever ao governo mais de US$ 100 milhões (incluindo juros). Além disso, segundo suas declarações, Trump parece ser o fiador de empréstimos de US$ 421 milhões, a maioria dos quais vencerá em quatro anos.
Extra/Show Francisco
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