Recorde de candidaturas ainda não iguala representação masculina
Representatividade | Presença de mulheres reforça democracia, diz socióloga
Campos tem 271 mulheres concorrendo a uma das 25 cadeiras da Câmara nas eleições deste ano. Elas representam 33,3% do total de 813 candidatos a vereador no Município — média 0,1 ponto percentual menor que a nacional, segundo dados atualizados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Embora seja considerada histórica, a marca ainda é somente 3,3% maior do que o mínimo determinado pela Lei 9.504 de 1997, alterada em 2009, e contrasta com distribuição da população por sexo no Brasil.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51,03% dos habitantes do país são mulheres. Uma discrepância que, segundo especialistas, anuncia a urgência de um debate sobre a presença feminina na política e sobre a própria noção de democracia.
“Estamos falando de uma estrutura política de séculos, nas quais mulheres não votavam e não eram votadas. Isso não vai ser alterado na eleição de 2020 e não se resolve por Lei, embora ela seja importante para colocar a questão, como foram importantes as ações afirmativas nas universidades uma década atrás. Isso abre um diálogo sobre a maturidade da democracia no Brasil, a considerar que democracia pressupõe participação popular”, diz a socióloga Luciane Silva, professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).
Segundo ela, o crescimento do número de candidaturas femininas pauta uma discussão de interesse amplo. “Termos candidaturas femininas não significa que as pautas discutidas serão as das mulheres. E quando falo das mulheres, falo da população em geral, pois saúde básica, acesso a creches e combate aos números de feminicídio são questões que devem importar à sociedade como um todo. Esse é o ponto mais importante dessa mudança. Assim como a pauta racial não é dos negros, mas de brancos, negros e indígenas, a pauta das mulheres não é exclusivista”, avalia.
A socióloga alerta que a promoção da presença feminina na política e nas estruturas de poder não deve ser compreendida como um “embate entre gêneros”. “Essa é uma construção que tem que ser feita entre homens e mulheres. Não pode ser uma espécie de competição. Isso seria absolutamente equivocado. É importante uma compreensão, uma sensibilidade ao fato de que a promoção da igualdade de gêneros dentro da política é o mesmo que promover a democracia no país”, encerra.
Terceira Via
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