quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Polícia Civil faz operação no zoológico do Rio para apurar supostos maus-tratos aos animais

Policiais civis fazem inspeção no zoológico Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Rafael Nascimento de Souza e Leticia Lopes

Investigadores da Polícia Civil estão na tarde desta quarta-feira no zoológico do Rio para apurar supostos maus-tratos aos animais no local, que passa por obras. O objetivo dos agentes da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) é verificar as condições em que estão os bichos. A operação acontece após a visita dos vereadores da CPI do Zoo na terça-feira.

Como o EXTRA mostrou na terça-feira, além de barulho de maquinário de obras e poeira, durante vistoria realizada no último dia 1º, o vereador Dr. Marcos Paulo encontrou animais como leão, tigre e ursos em recintos cercados por tapumes.

Na terça-feira, em nova visita ao zoológico, o presidente o presidente da Comissão de Saúde Animal da Câmara Municipal constatou que a maior parte das estruturas havia sido retirada. Apenas foram mantidas na área onde fica um casal de ursos-pardos. Segundo a direção do BioParque — novo nome do zoológico —, as estruturas estavam sendo usadas para minimizar o estresse dos animais com as obras, mas as intervenções no local já foram concluídas.

— Com base nas denúncias a DPMA instaurou essa investigação com o intuito de apurar as denúncias que foram veiculadas pela imprensa. Vou chamar o veterinário e os responsáveis pelo zoo. Quero saber como é feito o monitoramento desses animais — diz o delegado Mário Jorge Ribeiro Andrade, titular da DDPA.

Segundo Andrade, “há maus-tratos caracterizados” aos animais na obra no zoológico.

— Quero saber o motivo das remoções, onde eles se encontram. Quero saber quem são os responsáveis pelo tratamento dos animais. A direção disse que os medicamentos estão vencidos. Por que estão vencidos e ainda estão lá no local? — questionou o delegado.

De acordo com a Polícia Civil, a especializada vai oficializar a Câmara dos Vereadores para que os documentos da CPI sejam utilizados na investigação.
'Casa arrumada'

Presente na visita de ontem dos vereadores da CPI do Zoo, o vereador Dr. Marcos Paulo (PSOL), membro da CPI e presidente da Comissão de Saúde Animal, a “casa foi arrumada” para a visita dos parlamentares.

— É claro que o layout que estamos vendo hoje não é o mesmo, a tendência é que a obra seja acelerada e vários pontos sejam entregues, mas esse ambiente de hoje (terça-feira) não traduz o que encontramos em novembro do ano passado e em 1º de outubro deste ano, quando viemos de surpresa. Hoje (ontem) está muito silencioso, com poucos funcionários e equipamentos — afirmou o parlamentar: — As visitas surpresas pegam a “casa” como ela é, e não o ambiente maquiado tentando se disfarçar para atenuar os danos que causam aos animais. Esta visita foi anunciada pela Câmara com no mínimo duas uma semana de antecedência.

Empresa diz que placas de alumínio minimizam o estresse dos animais Foto: Fotos de Comissão da Câmara dos Vereadores/Divulgação

Segundo a direção do BioParque — novo nome do zoológico —, os tapumes estruturas estavam sendo usados para minimizar o estresse dos animais com as obras, mas as intervenções no local já foram concluídas.

— Os tapumes foram retirados porque naquele pedaço a obra encerrou. Eram obras de contenção, de retoque de pedras, passavam caminhões, gente, então os animais precisavam ser preservados — justificou o diretor-geral do parque, Manoel de Paula.

De acordo com técnicos do BioParque, o maquinário utilizado nas obras funciona em períodos do dia que não coincidem com os momentos de alimentação dos animais, e os ruídos emitidos não ultrapassam 50 decibéis. Por conta das denúncias de irregularidades, a empresa entregou à comissão cerca de duas mil páginas de documentos relativos à obra e ao manejo dos bichos.

— Vamos analisar os documentos, emitir um parecer e convocar representantes da Fundação RioZoo e da concessionária para prestar esclarecimentos sobre o atraso nas obras e as condições dos animais — afirmou o vereador Luiz Carlos Ramos Filho (PMN), membro da CPI e presidente da Comissão de Direitos dos Animais.
Fim das obras até 15 de dezembro

No início deste ano, o Grupo Cataratas, que administra o zoo, informou que a inauguração do BioParque era prevista para julho, mas as obras, iniciadas em 2018, ficaram suspensas entre março e setembro por conta da pandemia. Agora, devem ser concluídas até 15 de dezembro. A partir daí, começará um período de adaptação para os animais, que serão introduzidos nos novos recintos.

— A previsão é 15 de dezembro para terminar todas as instalações. Então, vamos transferir os animais daquelas pequenas gaiolas, espaços em que estavam adaptados, para recintos maiores. A área técnica vai dizer quando poderemos reabrir ao público — diz Manoel de Paula, diretor-geral do parque.

Cerca de 80% da obra já estão concluídos. Há cerca de um mês, o viveiro de aves já tem espécies como araras azuis, vermelhas e canindés, assim como tucanos-de-papo-branco. O de répteis também está pronto.

As áreas dos felinos e dos ursos estão sendo finalizadas. O “Aventura Selvagem”, que vai receber representantes da fauna africana, ainda está em obras.
Extra

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