segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Prefeito eleito, Wladimir confirma projeções e gera outras

Wladimir Garotinho, que comemorou ontem sua vitória entre a mãe Rosinha e o vice Frederico Paes, Caio Vianna, Rodrigo Bacellar e Rafael Diniz (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

No Brasil, todos se convertem em “espeçialistas” em época de Copa do Mundo e eleição, de quatro em quatro anos. Assim, em um jogo decisivo de Copa, é comum a opinião em voz alta e pastosa de bebida, que pede para seu time tirar um zagueiro e colocar outro atacante, se está atrás no placar. Típica de quem ignora que, se levada a cabo, por abrir irresponsavelmente a defesa, seria mais provável seu time levar mais dois ou três gols do que conseguir marcar um. Na política brasileira, com pleito a cada ano par, entre municipal e estadual/federal, a coisa é ainda pior: os “espeçialistas” brotam da terra a cada biênio. A grande maioria não entende absolutamente nada do que fala. E, na minoria que sabe algo, é ínfima a parcela que expressa opinião apenas com base na análise racional dos fatos, não na paixão de torcedor.

Em artigo de análise publicado (confira aqui) neste mesmo espaço, foi projetado ontem que Wladimir Garotinho (PSD) seria eleito prefeito de Campos, no segundo turno contra Caio Vianna (PDT). pela margem mínima de 7,1 pontos dos votos válidos. Ou 17.613 eleitores, dentro do universo que compareceu às urnas do primeiro turno. E Wladimir venceu Caio no segundo por 4,8 pontos percentuais dos votos válidos, diferença de 11.180 eleitores. O erro entre o que foi projetado, e o que as urnas de 29 de novembro revelaram, foi de 6.433 eleitores, ou 2,3 pontos percentuais dos votos válidos. Foi uma margem de erro menor do que os 3,5 pontos percentuais da Paraná, do que os 4 pontos do Ibope, ou do que os 3,7 pontos do Gerp, institutos de pesquisa que também projetaram o resultado da eleição a prefeito de Campos.

Frutos da ciência estatística, pesquisas não são infalíveis, mas revelam tendências. E foi a partir dos números e tendências revelados por esses três institutos, na corrida pela Prefeitura de Campos, que cálculos mais precisos puderam ser feitos por quem analisou e projetou a eleição sem paixão. “A excelência não é uma virtude, mas um hábito”, lecionava antes de Cristo o filósofo grego Aristóteles. No hábito de quem acompanha profissionalmente as eleições municipais de Campos desde 1989, primeira em que Garotinho chegou ao poder na cidade, ora retomado com a vitória eleitoral do seu filho, outras projeções foram feitas ontem. E também seriam também confirmadas pelas urnas.

Nas quatro Zonas Eleitorais (ZEs) de Campos, foi projetado ontem que a grande diferença imposta por Wladimir sobre Caio no primeiro turno, seria muito difícil de ser revertida em três delas no segundo. Embora encurtadas, de fato não foram ultrapassadas. Na 129ª ZE, o candidato dos Garotinho teve em 15 de novembro 53,98% a 25,37% dos votos válidos contra o candidato dos Vianna, vantagem de 28,61 pontos. Ontem essa diferença caiu para 23,8 pontos, dos 61,9% de Wladimir aos 28,1% de Caio. Na 76ª ZE, a diferença de 24,38 pontos entre os 50,37% de votos válidos de Wladimir, contra os 35,39% de Caio no primeiro turno, caiu no segundo para 18,7 pontos, entre os 59,3% dos votos válidos do vencedor contra os 40,7% do pedetista.

A maior diminuição de diferença da vantagem de Wladimir para Caio ocorreu na 75ª ZE, maior de Campos. No primeiro turno, o prefeitável do PSD teve 41,24% dos votos válidos, contra 30,62% do pedetista, vantagem de 10,62 pontos. Ontem, esta diferença se tornou quase inexistente: apenas 1 ponto exato, entre os 50,5% dos votos válidos de Wladimir, contra os 49,5% de Caio.


Prefeito de Niterói, foi Rodrigo Neves quem coordenou o trabalho de recuperação de Caio do primeiro para segundo turno, e em apenas 15 dias quase mudou a história do plieto (Foto: Fábio Guimarães – Agência O Globo)

A tática usada para a redução da Caio nessas três ZEs, coordenada por seu correligionário e prefeti de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), também foi antecipada ontem: 1) na 129ª, investir nos bairros de Ururaí e Ponta da Lama, e no distrito de Dores de Macabu; 2) na 76ª, investir na classe média de Guarus, na franja direita do rio Paraíba do Sul; e 3) delegar a função de tentar virar na 75ª a um dos cabos eleitorais mais respeitados na mítica “Baixada da Égua”, terra de coronéis e lobisomens, imortalizada pela prosa de José Cândido de Carvalho.

No entanto, como também foi projetado ontem, a única ZE em que Caio conseguiu virar de fato foi na 98ª, a chamada “pedra”. No tradicional bastião de resistência ao garotismo, desde 1989, o filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT) virou bem: da vantagem desprezível de 0,03 ponto de Wladimir (28,35% dos votos válidos no primeiro turno) sobre Caio (28,32%), este abriu ontem impressionantes 20,6 pontos de vantagem, conquistando 60,3% dos votos válidos, contra 39,7% do adversário. Foi muito, mas não foi o bastante.

Ainda assim, Caio sai da eleição como uma das principais forças eleitorais de Campos. E deve o impressionante trabalho de recuperação da sua candidatura, em apenas 15 dias, à equipe do prefeito de Niterói comandada pelo prefeito Rodrigo Neves. Que investiu tão pesado quanto a campanha que o deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD) fez ao seu prefeitável Bruno Calil (SD) no primeiro turno, responsável pela existência do segundo. Mas, em apenas duas semanas, a conexão Niterói/Campos produziu efeitos eleitorais muito mais rápidos e consistentes que o clã Bacellar. Muito embora este também tenha saído da eleição, com seus seis vereadores, como outra força de peso no cenário político goitacá.

Acusado de ser “Rafael Diniz (Cidadania) de novo”, o que gerou uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) por disseminação de fake news contra Wladimir, Caio só não pode cometer o mesmo erro do atual prefeito: achar-se dono dos votos que são do antigarotismo, não do nome que meras circunstâncias impuseram para encarná-lo. E seria aconselhável que deixasse de tentar fazê-lo apenas de dois em dois anos, só em períodos eleitorais.

Por fim, o protagonista das eleições municipais. Além da Aije pelas fake news contra Caio pelas quais teve a inelegibilidade pedida pelo Ministério Público Eleitoral, Wladimir também tem o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao recuso do seu vice, Frederico Paes (MDB), ao indeferimento da sua candidatura pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A ação foi movida pelo grupo político dos Bacellar e pode contaminar toda a chapa garotista. Se essa pendência não for resolvida até a diplomação do prefeito eleito, com data limite em 18 de dezembro, o próximo presidente da Câmara Municipal poderia assumir o lugar. O que abriria nova e acirrada disputa.


No TSE, o ministro Luís Salomão é o relator do recurso contra o indeferimento de Frederico Paes como candidato a vce-prefeito da chapa de Wladimir (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Ultrapassados os obstáculos jurídicos, o maior desafio de Wladimir será governar como prometeu na campanha: com austeridade, buscar o tal “dinheiro novo”, estimular o comércio e a produção do campo, sem descuidar do social. Caso seu governo se converta em um Rosinha 3, sem o dinheiro farto dos royalties do petróleo com que seus pais contaram até dezembro de 2014, não é preciso grande esforço para projetar um destino idêntico, ou pior, do que o de Rafael em 2020. Ou do que a antecessora deste em 2016, quando deu ao principal opositor na Câmara uma votação muito mais consagradora como prefeito do que a conquistada ontem.

Sem perder de vista as grandes dificuldades do município, Wladimir merece ao menos o um ano de paciência que Rafael pediu ao assumir. Mas, ao contrário deste, ou do populismo financeiramente insustentável dos seus pais, tem que usar os primeiros meses de 2021 para dizer logo a que veio.

Publicado hoje na Folha da Manhã

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