Em maio, quando Campos decretou lockdown, número de casos era de 311, em dezembro já são mais de 12 mil confirmados
Fila | População voltou a fazer fila em busca de atendimento no Centro de Controle e Combate do Coronavírus, na Beneficência. (Foto; Carlos Grevi)
Índices cada vez mais altos, profissionais de saúde sobrecarregados, falta de material de trabalho e o avanço aparentemente descontrolado do coronavírus em Campos. Até aqui, talvez não haja alguma informação que seja nova. Mas o que a população de Campos ainda não tem conhecimento é da suposta dimensão do problema. O Jornal Terceira Via cruzou dados e fez um levantamento para comparar a situação da cidade nos 10 dias que antecederam a publicação do decreto que determinava o lockdown (de 6 a 15 de maio) e também nos 10 dias que antecederam o fechamento desta reportagem (de 1º a 10 de dezembro). Os dados impressionam.
Nos gráficos que acompanham esta reportagem, é possível verificar as informações. No dia 15 de maio, quando a Prefeitura de Campos anunciou que decretaria o lockdown, o município havia registrado 19 novos casos. Em relação aos dados mais recentes, no dia 10 de dezembro – um dia antes do fechamento desta reportagem – 173 novos casos haviam sido registrados. O número mais recente é quase dez vezes maior do que o de maio. Enquanto o município decretou lockdown com 19 casos confirmados em um único dia, agora com 173, a fase definida no plano de retomada econômica é a amarela, que flexibiliza as medidas de restrição.
Além do aumento dos números de novos casos por dia, outro fator preocupa: a ocupação dos leitos. Segundo a informação mais recente da Prefeitura de Campos, relativa ao dia 08/12, os leitos de UTI estavam com ocupação em 85% e os leitos de clínica médica em 74%.
A Prefeitura de Campos e a secretaria de Saúde foram questionadas, entre outras perguntas, sobre o por quê de a cidade permanecer nesta fase amarela mesmo com o aumento dos casos e qual é a diferença da situação de agora para quando Campos decretou o lockdown.
Em nota, a prefeitura informou apenas que “A decisão de mudança ou permanência de fase é tomada a partir de avaliação técnica criteriosa da prefeitura somada à análise do Departamento de Vigilância em Saúde sobre o cenário epidemiológico. O modelo matemático e estatístico para avaliação da pandemia no município considera os números da última semana no que tange a propagação da Covid-19 e a capacidade do sistema de saúde, além de outros dados, incluindo a ocupação de leitos”.
Profissionais relatam situação dramática nos hospitais públicos
O Terceira Via ouviu e leu relatos de profissionais de quatro instituições de saúde que recebem pacientes com Covid. Foram elas: o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (na Beneficência) e a Unidade Pré-Hospitalar São José (ambos da rede pública), o Hospital Dr. Beda e outro hospital da rede particular.
Por medo de represálias, o autor do relato do São José pediu para não ser identificado. Segundo ele, a demanda aumentou consideravelmente e os profissionais estão esgotados.
“No auge da pandemia, tínhamos os 12 leitos de Unidades de Pacientes Graves (UPGs) ocupados, mas como o fluxo de pacientes diminuiu há cerca de dois meses, não estávamos internando pacientes com Covid mais. Agora, a situação por aqui está um inferno, uma loucura e todos os profissionais estão esgotados e muito cansados. Não aguentamos mais”, relatou.
A pneumologista Patrícia Meirelles, que trabalha no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus fez um desabafo em suas redes sociais sobre os dias difíceis de trabalho. Veja alguns trechos.
O Terceira Via ouviu e leu relatos de profissionais de quatro instituições de saúde que recebem pacientes com Covid. Foram elas: o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (na Beneficência) e a Unidade Pré-Hospitalar São José (ambos da rede pública), o Hospital Dr. Beda e outro hospital da rede particular.
Por medo de represálias, o autor do relato do São José pediu para não ser identificado. Segundo ele, a demanda aumentou consideravelmente e os profissionais estão esgotados.
“No auge da pandemia, tínhamos os 12 leitos de Unidades de Pacientes Graves (UPGs) ocupados, mas como o fluxo de pacientes diminuiu há cerca de dois meses, não estávamos internando pacientes com Covid mais. Agora, a situação por aqui está um inferno, uma loucura e todos os profissionais estão esgotados e muito cansados. Não aguentamos mais”, relatou.
A pneumologista Patrícia Meirelles, que trabalha no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus fez um desabafo em suas redes sociais sobre os dias difíceis de trabalho. Veja alguns trechos.
“Dia muito difícil hoje. Dia de pacientes graves, elevador quebrado, dia do falta tudo, dia de 162 atendimentos e 5 médicos atendendo no salão ao mesmo tempo. Dia de falar novamente aonde e como manejaremos os corpos, como desocuparemos os leitos mais rápido para que os que estão vivos possam ocupá-los. Dia de lágrimas nos olhos.
Precisamos ser ouvidos. Não somos invisíveis. Somos profissionais trabalhando exaustivamente. Uma emergência de Covid com especialistas trabalhando há 10 meses sem parar não se sustenta. Precisamos de apoio. Precisamos liberar quem está cansado, exausto, sem esperança. Precisamos que alguém faça algo por nós e pela cidade, que a imprensa alerte o que estamos passando e que o governo faça mudanças eficazes para a nossa proteção e a da população (volto a dizer e vou continuar dizendo: a bandeira amarela não é condizente com a situação da saúde da cidade).
Perdemos o controle da doença e em breve perderemos a nossa paciência, saúde, força física e mental. Que Deus nos proteja, pois estamos entregues somente a Ele”, desabafou.
Profissionais que trabalham em hospitais da rede particular também relatam sobrecarga
Segundo o coordenador da emergência do Beda, o médico Pedro Conte, nas últimas três semanas os casos subiram muito. “Atualmente, a situação está bem pior do que durante o pico na pandemia. A emergência está muito cheia e a gente, como profissional de saúde, está muito cansado, as pessoas estão saturadas. Lá atrás, nós tivemos o lockdown por causa do pico e agora estamos tendo o pico, porém com as pessoas circulando livremente, então essa questão complicou bastante”, explicou. Na página ao lado, na reportagem de Letícia Nunes, o médico relata em mais detalhes a situação na emergência do Hospital Dr. Beda.
Em outro hospital particular de Campos, a situação da superlotação não é diferente. É o que conta a médica Thaís Fernandes.
“Estamos em um momento de superlotação hospitalar tanto no sistema privado, quanto no público. Os casos não aumentaram apenas, a curva de crescimento foi que acelerou diante da falta de cuidado da população”, frisou.
A médica destacou ainda que, há dois meses, os índices de atendimento estavam mais controlados e menos gente testava positivo. “Agora, superlotamos com mais casos positivos e gente doente. Pessoas ainda estão morrendo de Covid. Temos internações recorrentes e casos surgindo a todo tempo com teste positivo. O vírus ainda está circulando e permanecerá em mutação, assim como todo e qualquer vírus, se adaptando aos diversos climas e situações a que forem expostos e se tornando mais resistente a cada dia devido a irresponsabilidade humana”, desabafou.
Prefeito Rafael Diniz fala sobre lockdown
Em entrevista no programa Radar Regional, da Terceira Via Tv, o prefeito Rafael Diniz, foi questionado pela apresentadora Roberta Barcelos sobre a possibilidade de decretar o lockdown. Segundo ele, a secretaria de Saúde trabalha para garantir os leitos.
“Mesmo com toda dificuldade, a gente vem cumprindo nosso papel e enfrentando esse grande desafio. Houve a fake news de que nós faríamos um lockdown logo na segunda-feira após o primeiro turno, não fizemos. Se houver necessidade de quaisquer medidas, vamos tomar, mas sempre com base nos critérios técnicos. Mantivemos a fase amarela com alguns ajustes, então vamos continuar trabalhando assim. Nossa secretaria de Saúde vem trabalhando para continuar garantindo os leitos”, afirmou.
Dois casos de reinfecção investigados
A Prefeitura de Campos informou ao Jornal Terceira Via, na última quinta-feira (10), que investiga dois possíveis casos de reinfecção pelo novo coronavírus no município. A orientação é que a população continue com os cuidados preventivos: higienização das mãos e uso do álcool em gel; uso de máscara facial, distanciamento e não frequentar locais onde há aglomeração.
Também na quinta, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus no Brasil. Na última segunda-feira (7), a prefeitura de Italva, no Noroeste fluminense, informou que havia no município um caso de reinfecção pelo novo coronavírus. Na terça (8), a Secretaria Estadual de Saúde ainda não havia sido notificada pela Secretaria de Saúde de Italva sobre o caso citado. Porém, o que se sabe é que no momento há também no Estado do Rio de Janeiro um caso considerado suspeito, em Volta Redonda, caso este ainda em análise pelo Ministério da Saúde.
Precisamos ser ouvidos. Não somos invisíveis. Somos profissionais trabalhando exaustivamente. Uma emergência de Covid com especialistas trabalhando há 10 meses sem parar não se sustenta. Precisamos de apoio. Precisamos liberar quem está cansado, exausto, sem esperança. Precisamos que alguém faça algo por nós e pela cidade, que a imprensa alerte o que estamos passando e que o governo faça mudanças eficazes para a nossa proteção e a da população (volto a dizer e vou continuar dizendo: a bandeira amarela não é condizente com a situação da saúde da cidade).
Perdemos o controle da doença e em breve perderemos a nossa paciência, saúde, força física e mental. Que Deus nos proteja, pois estamos entregues somente a Ele”, desabafou.
Profissionais que trabalham em hospitais da rede particular também relatam sobrecarga
Segundo o coordenador da emergência do Beda, o médico Pedro Conte, nas últimas três semanas os casos subiram muito. “Atualmente, a situação está bem pior do que durante o pico na pandemia. A emergência está muito cheia e a gente, como profissional de saúde, está muito cansado, as pessoas estão saturadas. Lá atrás, nós tivemos o lockdown por causa do pico e agora estamos tendo o pico, porém com as pessoas circulando livremente, então essa questão complicou bastante”, explicou. Na página ao lado, na reportagem de Letícia Nunes, o médico relata em mais detalhes a situação na emergência do Hospital Dr. Beda.
Em outro hospital particular de Campos, a situação da superlotação não é diferente. É o que conta a médica Thaís Fernandes.
“Estamos em um momento de superlotação hospitalar tanto no sistema privado, quanto no público. Os casos não aumentaram apenas, a curva de crescimento foi que acelerou diante da falta de cuidado da população”, frisou.
A médica destacou ainda que, há dois meses, os índices de atendimento estavam mais controlados e menos gente testava positivo. “Agora, superlotamos com mais casos positivos e gente doente. Pessoas ainda estão morrendo de Covid. Temos internações recorrentes e casos surgindo a todo tempo com teste positivo. O vírus ainda está circulando e permanecerá em mutação, assim como todo e qualquer vírus, se adaptando aos diversos climas e situações a que forem expostos e se tornando mais resistente a cada dia devido a irresponsabilidade humana”, desabafou.
Prefeito Rafael Diniz fala sobre lockdown
Em entrevista no programa Radar Regional, da Terceira Via Tv, o prefeito Rafael Diniz, foi questionado pela apresentadora Roberta Barcelos sobre a possibilidade de decretar o lockdown. Segundo ele, a secretaria de Saúde trabalha para garantir os leitos.
“Mesmo com toda dificuldade, a gente vem cumprindo nosso papel e enfrentando esse grande desafio. Houve a fake news de que nós faríamos um lockdown logo na segunda-feira após o primeiro turno, não fizemos. Se houver necessidade de quaisquer medidas, vamos tomar, mas sempre com base nos critérios técnicos. Mantivemos a fase amarela com alguns ajustes, então vamos continuar trabalhando assim. Nossa secretaria de Saúde vem trabalhando para continuar garantindo os leitos”, afirmou.
Dois casos de reinfecção investigados
A Prefeitura de Campos informou ao Jornal Terceira Via, na última quinta-feira (10), que investiga dois possíveis casos de reinfecção pelo novo coronavírus no município. A orientação é que a população continue com os cuidados preventivos: higienização das mãos e uso do álcool em gel; uso de máscara facial, distanciamento e não frequentar locais onde há aglomeração.
Também na quinta, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus no Brasil. Na última segunda-feira (7), a prefeitura de Italva, no Noroeste fluminense, informou que havia no município um caso de reinfecção pelo novo coronavírus. Na terça (8), a Secretaria Estadual de Saúde ainda não havia sido notificada pela Secretaria de Saúde de Italva sobre o caso citado. Porém, o que se sabe é que no momento há também no Estado do Rio de Janeiro um caso considerado suspeito, em Volta Redonda, caso este ainda em análise pelo Ministério da Saúde.
Fonte Terceira Via
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