domingo, 20 de dezembro de 2020

Morre Nicette Bruno, aos 87 anos, por complicações da Covid-19

Atriz estava internada em hospital da Zona Sul do Rio de Janeiro
O Globo

A atriz Nicette Bruno Foto: Paula Kossatz / Divulgação

Nicette Bruno, de 87 anos, perdeu a batalha contra a Covid-19 neste domingo. A atriz estava internada no CTI da Clínica São José, na Zona Sul do Rio. No Instagram, Beth Goulart, filha da atriz, explicou que a mãe chegou com quadro estável na unidade saúde, mas piorou com o passar dos dias e precisou ser intubada. Ela deixa três filhos.

No início da pandemia, Nicette estava para estrear a peça “Quarta-feira, sem falta, lá em casa” no Rio, ao lado de Suely Franco. O espetáculo acabou adiado por conta das restrições para combater a Covid-19. Foi no teatro, aliás, que Nicette fez sua estreia profissional (em montagem de "Romeu e Julieta" em 1945). Ao longo das últimas sete décadas, subiu ao palco diversas vezes, e levou o Prêmio Molière de melhor atriz por "O efeito dos raios gama sobre as margaridas do campo" (em 1974) e o Prêmio Shell na mesma categoria por "Somos irmãs" (1988).

Peça com Nicette Bruno e Suely Franco teve estreia no Rio adiada Foto: Reprodução

Em maio, quando participou de uma live com Eva Wilma e Léa Garcia, Nicette contou ao GLOBO como estava impactada pela morte de colegas artistas como os atores Flávio Migliaccio e Dayse Lucidi e o compositor Aldir Blanc.

— A falta de contato humano, neste momento, é terrível. E ainda temos tido essas perdas tristes e desagradáveis... A morte do Flávio (Migliaccio) foi uma dor sem tamanho. Depois, o mesmo com a Dayse... A cada momento, parece haver um novo choque. Por isso, tenho que orar. Oro muito mesmo — contou ela, que era devota do espiritismo.

A última aparição de Nicette na TV foi em ''Éramos seis'', como a freira Joana. A participação da atriz na novela das seis foi uma homenagem, já que ela viveu a protagonista Lola (interpretada por Gloria Pires no último remake) na versão de 1977.

A TV Tupi exibiu 'Éramos seis' em 1977. Nicette Bruno e Gianfrancesco Guarnieri foram Lola e Júlio (sentado). Enquanto os filhos foram interpretados por Carlos Augusto Strazzer (Carlos), Carlos Alberto Riccelli (Alfredo), Maria Isabel de Lizandra (Isabel) e Ewerton de Castro (Julinho). Foto: Reprodução

Nicette também ficou muito conhecida por interpretar Dona Benta de 2001 a 2004, no ''Sítio do Pica Pau Amarelo''. A trajetória de Nicette na Globo, porém, começou bem antes de ela integrar o seriado infantil: a artista trabalhou em novelas como "Selva de pedra" (1986), "Bebê a Bordo" (1988), "Rainha da Sucata" (1990), "Mulheres de Areia" (1993), "Alma gêmea" (2005), "Ti-ti-ti" (2010), ''Salve Jorge'' (2011) e ''Órfãos da terra'' (2019).

Nicette iniciou sua carreira artística aos 4 anos, cantando em um programa infantil na Rádio Guanabara, onde declamava e cantava. Dos 6 aos 11 anos, a artista estudou música e participou de grupos de teatro até fazer sua estreia nos palcos no início da adolescência. Aos 14 anos, já era profissional de teatro, contratada pela Companhia Dulcina-Odilon. Nicette também foi uma pioneira da televisão, estreando na TV Tupi em 1950, fazendo participações em recitais e teleteatros. Passou pela TV Continental e TV Excelsior até ser convidada pelo ator e diretor Fabio Sabag para trabalhar no seriado "Obrigado, Doutor", na TV Globo, em 1981. A primeira novela da atriz na emissora foi gravada no ano seguinte, em ''Sétimo sentido''.


Paulo Goulart e Nicette Bruno se conheceram nos bastidores do teatro, em 1952. No ano seguinte, os dois contracenaram na peça 'Ingênua até certo ponto' Foto: Arquivo

O casal em 1954 Foto: Arquivo

Nicette e Paulo posam no dia de seu casamento, em 1954 Foto: Agência O Globo

Paulo Goular e Nicette Bruno, em 1967 Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo

A parceria no palco acompanhou o casal ao longo de toda a vida. Na foto, os dois aparecem nos bastidores da peça 'O prisioneiro da segunda avenida', de 1974 Foto: Arquivo


Paulo e Nicette, na casa em que moravam em 1975. Ao longo de décadas, o casal se manteve como um dos mais queridos da televisão brasileira Foto: Arquivo

Paulo e Nicette, em uma cena da peça 'Flávia, cabeça, troncos e membros', de 1990 Foto: Arquivo

Em 2000, casal participou do Festival de Teatro de Curitiba com a peça 'Crimes delicados' Foto: Jorge eder / Divulgação

Casal desfilou pela Portela, no carnaval de 1993 Foto: Divulgação

Em 2003, Nicette e Paulo foram destaque no desfile da escola de samba Viradouro Foto: Gustavo Azeredo / Divulgação


Ao entregar o prêmio Contigo de melhor par romântico para Taís Araújo e Reynaldo Giannechini - pela novela 'Da cor do pecado', em 2005 - os dois protagonizaram um beijão no palco Foto: Cleomir Tavares

O casal em cena, com a peça 'O homem inesperado', em 2006 Foto: Beti Niemeyer / DivulgaçãoQuando completaram 50 anos de casamento, os atores estavam em cartaz com o espetáculo 'Sábado, domingo e segunda'. Na foto, eles repetem a clássica cena do desenho 'A dama e o vagabundo' Foto: Vera Donato / Divulgação

Nos bastidores de 'Sábado, domingo e segunda' Foto: Divulgação

Em 2012, Nicette e Paulo abriram sua casa, no Recreio, para a equipe do Morar Bem, do Jornal O Globo Foto: Ana Branco / Agência O Globo


Paulo foi casado há mais de 60 anos com a atriz Nicette Bruno Foto: Marcos Pinto / Agência O Globo

Nicette foi casada com o ator Paulo Goulart, que morreu em março de 2014 em decorrência de um câncer. O casal ficou junto por 60 anos e teve três filhos: Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho. Eles se conheceram no teatro em 1952.

''Eu e Paulo tínhamos uma afinidade cênica muito grande. Tanto que nos conhecemos em cena, né? Trabalhar juntos era muito bom, porque tínhamos a mesma seriedade, sabíamos separar a nossa relação. Quando estávamos em cena, éramos personagens, não a nossa individualidade'', descreveu Nicette ao Memória Globo.

A morte de Goulart incentivou Nicette a fazer o primeiro monólogo de sua carreira, “Perdas e ganhos”, em 2014, a partir de texto da escritora gaúcha Lya Luft. A direção e adaptação da peça que rodou capitais era da filha, Beth.

— Estou feliz porque é para o Paulo. É uma homenagem a ele. Sabe, o teatro é o maior momento da minha existência. Foi nele que estreei aos 14 anos, foi nele que me casei, foi nele que experimentei o surgir dos meus filhos na profissão e foi nele que tive o momento mais doloroso da minha vida, a despedida do Paulo. A despedida foi no Teatro Municipal de São Paulo (onde o corpo do ator foi velado). Agora é também no palco que estou compartilhando um momento tão singular da minha vida. De verdade — contou ao GLOBO à época da estreia.
Fonte O Globo/Show Francisco

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