segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Prefeitura não honra pagamentos e hospitais podem entrar em colapso

Caos na saúde de Campos e diretores responsabilizam o Poder Público

Ururau

Caos na saúde de Campos e diretores responsabilizam o Poder Público

Com repasses municipais atrasados, os hospitais da rede contratualizada de Campos vem enfrentando sérias dificuldades. Médicos e funcionários com salários atrasados, setores fechados, cirurgias canceladas. Esses são alguns dos problemas que os representantes dos hospitais relatam.

Sem recursos para garantir insumos para os próximos 15 dias e com funcionários quase completando três meses de salários atrasados, o Hospital dos Plantadores de Cana, em Campos, que abriga a maior maternidade pública do interior do estado pede socorro. O hospital realiza 450 partos por mês, mantém uma UTI Pediátrica com 50 leitos e é a única maternidade com uma UTI Obstétrica no interior.

Para manter esses serviços, o hospital necessita dos repasses financeiros em dia, o que segundo a direção, não ocorre há 14 meses, por parte da Prefeitura de Campos que deve em torno de R$ 23 milhões ao Hospital.

“No momento o hospital vive uma realidade caótica, não há repasse municipal, recebemos o último em julho de 2019, referente a junho, existe então, um hiato de 14 meses sem receber, com exceção do mês de março, que nós recebemos no dia 11 de maio de 2020. Não há repasse de forma espontânea há 14 meses”, explica Aldesir Barreto, diretor do Hospital dos Plantadores de Cana, que ressaltou que os repasses federais estão em dia.

“Estamos vivendo um caos, estamos muito próximos do colapso, nós não temos recursos para novas requisições de insumos, nós estamos devendo 13º salário de 2019, dois salários atrasados, já nos aproximando do terceiro, não temos como honrar as nossas dívidas, por isso, só conseguimos comprar com pagamentos antecipados. Então a situação é muito grave, é muito difícil, os funcionários sem receber salários esse período todo, estão desestabilizados emocionalmente. Para eles trabalharem com técnica e com autocontrole, com total atenção e dedicação, precisam estar equilibrados. Isso é grave, suas famílias estão passando necessidade, eles não têm recursos para sua sustentabilidade básica. Nós estamos fazendo um esforço enorme, mas não há quase mais nada por fazer”. lamenta Aldesir.

O diretor alerta para um problema que pode ser crítico no hospital que abriga a maior maternidade pública no interior do Estado: “Os nossos insumos vão acabar! Nós estamos precisando adquirir a quantidade para a próxima quinzena e não temos recursos financeiros, o único recurso que nós recebemos com regularidade é o federal, mas ele representa 40% da nossa despesa, e nós estamos há 14 meses sobrevivendo assim.”, relata o diretor.

Médicos sem receber há seis meses na Santa Casa
A Santa Casa de Misericórdia de Campos, um dos hospitais mais importantes da cidade, que fornece um grande suporte, principalmente na área de cirurgias cardíacas, há seis meses não paga aos médicos da unidade. Segundo o diretor técnico, Dr. Cléber Glória, os atrasos são devido à falta de repasse da verba contratualizada com a Prefeitura de Campos. O 13º salário de 2019 também não foi pago aos funcionários. “A dívida municipal está em torno de R$ 8, 8 milhões”, explica Cléber.

Cirurgias bariátricas canceladas e departamentos fechados no HEAA
No Hospital Escola Álvaro Alvim, os problemas também são muitos. O hospital não recebeu verba municipal durante todo o ano de 2020. “Nós recebemos a última vez, na Justiça, de julho a dezembro de 2019, esse ano nós não recebemos nada de complementação”, conta o administrador Flávio Hoelzle.

A dívida da Prefeitura com o hospital é de cerca de R$ 7,5 milhões. “O pagamento dos profissionais fica atrasado, fica comprometido, e a assistência também fica comprometida. Nós reduzimos em quase 100% as cirurgias de médica complexidade, tivemos que reduzir nosso ambulatório, as cirurgias bariátricas foram suspensas, elas eram custeadas 100% com recursos do município. Na época do então secretário de Saúde Dr. Abdu ele fez questão de além de não ajudar, ainda atrapalhar o andamento da habilitação de bariátrica e endovascular, então o comprometimento é grande”, relata Flávio.

Sindicato denunciou caso ao MPT
De acordo com o presidente do Sindicato dos Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Campos, Carlos Roque, o sindicato já denunciou o caso ao Ministério Público do Trabalho (MPT), e entrou na Justiça solicitando o bloqueio das contas da Prefeitura para o repasse imediatos dos valores, proporcionando assim, a possibilidade de os trabalhadores receberem seus salários. “A justiça chegou a nos dar ganho de causa, mas a Prefeitura entrou com recurso e a Justiça desbloqueou as contas, possibilitando que a Prefeitura utilizasse os recursos para outras finalidades”, disse Carlos, ressaltando que outros hospitais também estão com algumas folhas atrasadas, como a Beneficência Portuguesa e a Santa Casa de Misericórdia de Campos, que vem pagando os salários, mas não pagaram o 13º referente a 2019.

“Imagine numa pandemia, o profissional que já ganha pouco, voltar para casa com o risco de levar a Covid-19 para seus familiares e ainda não ter nem a possibilidade de pagar suas contas. O psicológico dos profissionais já está abalado por estrarem na linha de frente, ainda mais com esse componente de trabalhar, sem saber quando vai receber”, disse Carlos Roque.

O Ururau entrou em contato com a Prefeitura de Campos por e-mail e aguarda a resposta. 
Fonte: Ururau

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