segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Conhecido como local mais quente do Rio, Bangu vê a fama migrar para Irajá

Roberto Santiago e Douglas Costa trabalham em um lava-jato, em Bangu Foto: Maria Isabel Oliveira/Leonardo Sodré

Em Irajá, quando a sensação térmica chegou a 44,3 graus na tarde de ontem, os primos Daniel Felipe Costa, de 6 anos, e Enzo Braga, de 5, não esquentaram a cabeça: pegaram baldes de água e um chuveirinho improvisado, e tomaram banho na calçada de casa mesmo. O bairro tem recebido o caloroso título de lugar mais quente da cidade nos últimos dias, mas nada que dê um refresco para quem já se acostumou ao tradicional forno de Bangu.

— Quem mora em Bangu que sabe o que é calor de verdade, nós somos íntimos. O pessoal de Irajá agora que está conhecendo — brinca a banguense Kelly Cristine Gomes de Silva, que curtiu o domingo na piscina de plástico com o filho e os sobrinhos: — Mas não vejo problema de dividir o posto de mais quente com Irajá, não — se diverte.

Kelly Cristine se refrescou com o filho e os sobrinhos Foto: Maria Isabel Oliveira

Na última semana, o vídeo de um comerciante mostrando ovos cozinhando fora do fogão, dentro de uma caixa, viralizou na internet. “Isso aqui é morar em Bangu! Vem morar em Bangu, vem....”, ele dizia. Ontem, em pleno calorão, os amigos Douglas Costa e Roberto Santiago, que trabalham em um lava-jato próximo à Praça Guilherme da Silveira, no bairro, aproveitam para se refrescar entre um carro e outro.

— Ainda bem que a gente trabalha com água e dá para passar o dia molhado. Se não, seria impossível enfrentar o calor — diz Douglas.

A poucos metros do lava-jato, o comerciante Carlos Alberto da Silva passou o domingo de folga com o filho Carlos, de 6, de molho na piscininha montada na calçada.

— Hoje tem até brisa — disse, em tom de ironia.

Mas em Irajá, já tem gente achando que Bangu perdeu o posto de point do calor:

— Aqui é muito mais quente que lá — dispara o comerciante Carlos Alberto, de 67, enquanto toma uma gelada debaixo da mangueira.


Carlos e a mulher Jorgina, com mangueira na calçada em Irajá Foto: Maria Isabel Oliveira

A briga está londe de esfriar. Na semana em que o Rio bateu recordes de temperaturas por três dias seguidos, o Alerta Rio, a partir do Centro de Operações da prefeitura, registrou ontem máxima de 39,7 graus e sensação térmica de 44,3 (veja abaixo). E o calor não dará trégua: a temperatura segue alta até sexta.

— A temperatura deve permanecer cerca de cinco graus acima da média, que são 34 graus, não só na Região Metropolitana, como no Noroeste do estado e nas baixadas litorâneas — diz a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Marlene Leal.

Marlene adianta que no próximo fim de semana a temperatura deve cair um pouco, chegando a 30 graus. O sistema alerta Rio prevê temperaturas entre 38 graus e 40 graus para os próximos quatro dias.

Longe da praia, cada um dá seu jeito

Mesmo com gosto e cheiro de terra e às vezes até coloração amarronzada, a água tem sido a principal solução para se refrescar nesse momento. Os moradores da Zona Norte do Rio acabam tendo que ignorar a geosmina da água distribuída pela Cedae e fugir da praia, em tempos de pandemia, inventando soluções caseiras para se livrar do calorão. A manicure Ághata Reis mora em um apartamento em Irajá e não abre mão das chuveradas.

— Cada um se refresca como pode, eu, como não tenho quintal nem calçada, quando começo a suar, já vou para o chuveiro. Para enfrentar esse calor, são quase oito banhos por dia — conta.

Comerciante em Irajá, Cláudio Valente diz que o calor o fez parar de usar a geladeira e optar só pelo freezer

— A geladeira não dá mais vazão. Água, refrigerante, cerveja, estou colocando tudo no freezer. E o calor é tanto que não está congelado como costuma acontecer. Nesse verão, o freezer virou geladeira — brinca.

E nada de chuva à vista. Até a próxima quarta-feira, a previsão é que um sistema de alta pressão permanecerá influenciando as condições de tempo, e o Rio terá dias com céu claro a parcialmente nublado, sem precipitação.
Fonte Extra

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