terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Variante do coronavírus preocupa, mas vacinação não deve ser interrompida no Brasil, dizem pesquisadores

Vacinação contra a Covid-19 é feita com doses do imunizante da AstraZeneca e da CoronaVac Foto: Márcia Foletto/27.01.2021

Rafael Garcia

O Brasil precisa entender melhor qual impacto a circulação de uma variante do novo coronavírus tem sobre a eficácia das vacinas em uso no país, mas o risco de esse subtipo do Sars-Cov-2 atrapalhar a imunidade coletiva não justifica qualquer interrupção na campanha de imunização contra a Covid-19 iniciada em 17 de janeiro, afirmam pesquisadores.

O debate sobre a P.1, a linhagem do novo coronavírus que emergiu em Manaus (AM) e já chegou a outros estados do país, ganhou força depois que uma outra variante, a B1.351, mostrou-se capaz de reinfectar alguns pacientes imunizados com a vacina da Univesidade de Oxford/AstraZeneca na África do Sul. No domingo, o país africano decidiu interromper a aplicação do imunizante, um dos dois em uso no Brasil — o outro é a CoronaVac. Como essas duas linhagens têm características genéticas semelhantes, a preocupação foi imediata.

— Se estamos vendo essa redução de eficácia da vacina da África do Sul, provavelmente poderemos ver algo semelhante com a nossa variante no Brasil — afirma Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, nos EUA, que, no entanto, não acredita que a suspensão do uso da vacina de Oxford seria uma estratégia adequada no Brasil por não haver muitas outras opções disponíveis aqui. — Eles não suspenderam a vacinação com a ideia de que é melhor nem vacinar. Eles suspenderam para avaliar a estrategia que vão ter a partir de agora, porque eles acabaram de comprar 20 milhões de doses da vacina da Pfizer.

A África do Sul está avaliando usar a vacina da AstraZeneca em áreas rurais, onde a B1.351 não está muito disseminada, e usar outra nos grandes centros, onde há presença grande da variante. Ainda não há uma pesquisa conclusiva sobre o quanto a vacina inglesa gera de imunidade contra o coronavírus P.1, mas a empresa farmacêutica diz que já está fazendo testes. Cientistas ouvidos pelo EXTRA afirmam que um dado relevante sobre a resposta do imunizante à variante sul-africana é que ele continua protegendo relativamente bem os pacientes contra casos graves, internações e óbitos, ajudando assim a reduzir a mortalidade da doença.

Representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) declararam ontem crer que há “um excesso de pessimismo em relação ao imunizante da AstraZeneca”, uma das principais apostas da entidade desde o início do seu desenvolvimento.

— Esta vacina é parte importante da resposta global à atual pandemia —disse Richard Hatchett, coordenador do consórcio Covax Facility, ligado à OMS. — É absolutamente crucial usar as ferramentas de que dispomos da forma mais eficaz possível.

Paralelamente à investigação sobre eficácia das vacinas, em Porto Alegre (RS), cientistas estudam o soro de pessoas que tiveram Covid-19 para saber se elas são propensas a contrair as novas cepas se forem expostas às variantes.

— A gente está testando a imunidade dos pacientes que tiveram coronavírus entre julho e setembro (com a cepa original), depois vamos testá-los contra a P.1 do Amazonas e contra uma variante que emergiu aqui no Rio Grande do Sul — disse ao EXTRA a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre UFCSPA).

O trabalho da pesquisadora do Rio Grande do Sul não deve sanar a dúvida sobre se a vacina protege contra a nova cepa. Caso a reinfeção seja possível, porém, ela compromete o status de imunidade das dezenas de milhões de pessoas com histórico de infecção no Brasil e que hoje são contabilizadas dentro do quinhão de imunidade de rebanho, apesar de ainda não se saber ao certo quanto tempo dura a imunidade obtida de forma natural.

Para o infectologista Júlio Croda, ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, a pasta não está sabendo articular a resposta à emergência da cepa P.1. Ele afirma que as pesquisas para avaliar a eficácia da vacina contra essa variante já deveriam estar prontas, e o Brasil deveria fazer o mesmo em relação à CoronaVac:

— Existe uma perda de capacidade técnica do ministério de responder a essas perguntas. E a gente está perdendo muito tempo. Para as outras variantes de impacto, da África do Sul e do Reino Unido, esses estudos já foram feitos pelo menos in vitro.

Segundo pesquisadores, enquanto não há resposta sobre o impacto das novas variantes, é importante que as medidas de distanciamento social e higiene sejam ampliadas.

— A gente precisa agora vacinar mais rápido o maior número de pessoas, reduzir a transmissão — diz Denise Garrett, do Instituto Sabin.
Fonte Extra

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