Especialistas destacam problemas no presente e o futuro das crianças que estão fora da escola, com impactos negativos em toda sociedade
POR GIRLANE RODRIGUESEm pleno 2021 ainda há crianças fora da escola e a pandemia do novo coronavírus agravou o problema. Em Campos, cidade mais populosa do interior do Estado do Rio de Janeiro, dos mais de 50 mil estudantes matriculados na Rede Municipal, 8,45% estavam fora das salas de aula no ano de 2020. O número representa 4.424 estudantes e é maior que a taxa de evasão escolar registrada no ano anterior, que foi 3,87%, equivalente a 2.005 estudantes. Os dados de 2021 ainda não foram fechados pela Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia de Campos (Seduct). A média de 2020, em Campos, é a mesma nacional.
Apesar do aumento da evasão escolar, o número de matriculados também tem crescido e isso inclui o ano de 2021. A Secretaria contabilizou 53.930 estudantes da rede municipal este ano; 52.373 em 2020 e 51.832 em 2019. Especialistas no assunto demonstram preocupação com o presente e o futuro das crianças que estão fora da escola, com impactos negativos na sociedade de um modo geral. Vale ressaltar que a escola é obrigatória por lei para crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos.
Bianca Acampora é especialista em Psicopedagogia, Arteterapia e Neuroeducação –/Foto: Carlos Grevi
De acordo com a Doutora em Ciências da Educação, pesquisadora e professora Bianca Acampora, atualmente, a preocupação das famílias é com a circulação do novo coronavírus, variantes e o risco de transmissão da Covid-19. “O que tenho observado é que o ensino híbrido não tem atendido às demandas dos estudantes e das famílias. Muitos pais precisam trabalhar e não têm com quem deixar seus filhos. O motivo principal, atualmente, é a possibilidade de pegar o coronavírus e transmiti-lo para os membros da família, mas também é necessário que as escolas reflitam sobre a parte pedagógica, atualizando as estratégias didáticas para envolver os estudantes nas atividades diárias”, disse.
Embora não faça parte das estatísticas de evasão escolar, o pequeno Gabriel Bolckau Barbirato, de 11 anos, e sua família enfrentam, de perto, as dificuldades no ensino e aprendizado desde a chegada da pandemia, em 2020. “Ele não teve aula nos primeiros seis meses do ano passado e isso já comprometeu a leitura. As aulas remotas começaram em julho e, agora, um ano depois, ainda é possível identificar os problemas dele com o aprendizado. Como eu e meu marido trabalhamos, não temos como participar mais ativamente das atividades escolares dele. Estamos investindo em orientação particular para ajudá-lo, mas não é a mesma coisa que estar dentro de uma escola, aprendendo ao vivo com professores e convivendo com os colegas de turma”, desabafa a mãe Amelyn Gabrielle da Silva Bouckau.
Amelyn Gabrielle com o filho Gabriel – Foto: Wylles Bouckau
Apesar do retorno das aulas presenciais no sistema híbrido, Gabriel não poderá voltar à sala de aula. Ele, os pais e os avós têm comorbidade e temem o contágio da Covid-19 em sua forma mais grave. “Gabriel está no 5º ano e é nítido para nós da família que ele não está preparado para o segundo segmento do ensino fundamental. Este ano, as aulas voltaram com tudo. É atividade para casa e aulas de reforço todos os dias, além de simulados para compensar o ano letivo de 2020 que ficou comprometido”, conta a mãe.
Gabriel é matriculado na escola Municipal Valter Siqueira, no bairro Julião Nogueira, mas está estudando em casa, pelo celular e com apostilas. “Não tirei ele da escola e nem pretendo, mas, com tantas dificuldades, consigo compreender este número tão alto de evasão escolar”, disse Amelyn.
Apesar do retorno das aulas presenciais no sistema híbrido, Gabriel não poderá voltar à sala de aula. Ele, os pais e os avós têm comorbidade e temem o contágio da Covid-19 em sua forma mais grave. “Gabriel está no 5º ano e é nítido para nós da família que ele não está preparado para o segundo segmento do ensino fundamental. Este ano, as aulas voltaram com tudo. É atividade para casa e aulas de reforço todos os dias, além de simulados para compensar o ano letivo de 2020 que ficou comprometido”, conta a mãe.
Gabriel é matriculado na escola Municipal Valter Siqueira, no bairro Julião Nogueira, mas está estudando em casa, pelo celular e com apostilas. “Não tirei ele da escola e nem pretendo, mas, com tantas dificuldades, consigo compreender este número tão alto de evasão escolar”, disse Amelyn.
Graciete Santana, é diretora do SEPE – Foto: Carlos Grevi
Sindicato se posiciona
O Sindicato dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Sepe) contesta os critérios que os governos aplicaram para determinar o termo “evasão escolar”. Para a diretora do sindicato, Graciete Santana, a pandemia do novo coronavírus foi um período atípico que evidenciou a desigualdade social também na Educação.
“O que está sendo atribuído à evasão escolar é, na verdade, uma consequência da pandemia em que muitas crianças não estão estudando porque não têm acesso à Internet ou a equipamentos como celular, tablet, notebook ou computador. Estas crianças estão na periferia da cidade ou na zona rural”, disse Graciete.
Outro fator complicador citado por Graciete é o estudo domiciliar para este mesmo público. “A opção que o Município de Campos deu a estes alunos foi ir até a escola buscar apostila para estudar em casa, sem os meios eletrônicos. Porém, os pais que trabalham ou são iletrados não conseguem assumir a responsabilidade de estudo das crianças. Em Campos, por exemplo, não houve distribuição de equipamentos eletrônicos para quem não tinha condições de comprar, o que poderia facilitar o acesso ao estudo”, exemplificou Graciete.
Consequências
A escola no Brasil é obrigatória para crianças e adolescentes de quatro a 17 anos, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96). Para Bianca Acampora, a evasão escolar gera, em um futuro próximo, jovens com baixa escolaridade, despreparados para o mercado de trabalho e contribuindo para a desigualdade social.
“Esses fatores fazem aumentar o trabalho informal e os subempregos em nosso país, o que aumenta desigualdade social e desemprego. Além disso, a curto prazo, ao evadir, o estudante fica sem uma rotina adequada de estudos, o que pode prejudicar não só o aprendizado, mas a vida escolar dele, que terá que repetir o ano de estudo. É necessário ter um olhar carinhoso e atento para estas questões”, pondera a especialista.
Combate
Bianca Acampora defende a integração da escola com a família e um trabalho de busca ativa e orientação para que os pais conheçam de perto a importância da frequência escolar do aluno. “Não há uma receita de bolo para solucionar o problema, mas, sim, o envolvimento da família, do estudante, da escola e da sociedade para esta questão. A Pedagogia por projetos inclui ações que podem auxiliar muito neste âmbito”, sugere.
Marcelo Feres, secretário de Educação, Ciência e Tecnologia de Campos
Ações da Secretaria de Educação
De acordo com Marcelo Feres, secretário de Educação de Campos, a evasão escolar em Campos tem sido combatida com acompanhamento do Programa Bolsa Família e acontece por meio da Ficha de Comunicação de Aluno Infrequente (Ficai), que tem o objetivo de estabelecer o controle da infrequência e do abandono escolar de crianças e adolescentes.
“Os gestores das unidades escolares informam a infrequência dos seus alunos para que um professor-articulador faça as intervenções e os contatos com as famílias. Quando não há sucesso nas intervenções, as unidades encaminham os casos ao Departamento de Serviço Social da Secretaria de Educação, que convoca os pais ou responsáveis, promove visitas domiciliares, encaminha para os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), entre outras medidas, visando ouvir, apoiar, orientar os pais e identificar possíveis necessidades ou demandas, como questões de saúde, violência e alimentação, por exemplo, que possam estar inviabilizando o comparecimento à escola”, explicou Marcelo Feres.
O retorno da distribuição dos kits de alimentação, este ano, também vai contribuir para manter os alunos matriculados, já que este é um dos critérios para o recebimento dos alimentos. Cerca de 54 mil kits serão distribuídos mensalmente.
O secretário disse que há, ainda, ações pedagógicas para potencializar a aprendizagem e, por consequência, diminuir o desinteresse dos alunos e a evasão.”Para os jovens dos anos finais do ensino fundamental, que se encontram em distorção de idade e série, existe a Educação de Jovens e Adultos (EJA) diurna. O Projeto de Recuperação da Aprendizagem, lançado este ano, também busca motivar os alunos. A própria forma de apresentar o conteúdo das séries no Portal do Programa de Aprendizagem Eficiente (PAE), com apostilas bem elaboradas de acordo com a idade, já ajuda o aluno a não se sentir abandonado e, consequentemente, desistir do estudo”, assegurou diretora pedagógica da secretaria, Tânia Alberto.
Projeto para o futuro
Outro fator que aumenta a evasão, de acordo com a Secretaria, é a exclusão digital. Para resolver esta questão, o órgão planeja implantar o projeto “Estação Educação” para motivar e estreitar a relação escola-família-aluno. O projeto envolverá a gravação de videoaulas dos diversos componentes curriculares da Educação Infantil, Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais e EJA. Embora a Prefeitura de Campos não tenha divulgado o índice de evasão escolar em 2021, a secretaria atualizou o levantamento este ano e concluiu que há 53.930 alunos matriculados nas 153 escolas e 81 creches da Rede Municipal de Campos, sendo 15.595 da Educação Infantil; 3.046 da Educação de Jovens e Adultos (EJA); 26.530 do primeiro segmento do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) e 8.759 do segundo segmento (6º ao 9º ano).
Fonte Terceira Via
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