quarta-feira, 4 de maio de 2022

Macaense é vitima de racismo dentro de Metrô no Rio: 'Estou emocionalmente esgotada'

Reprodução

O Metrô informou que "os seguranças atuaram na proteção dos envolvidos".

Uma mulher negra registrou boletim de ocorrência alegando ter sofrido racismo no Metrô de São Paulo na tarde desta segunda-feira (2) por uma mulher branca que fez um comentário associando o cabelo dela a doenças. O caso gerou revolta entre os passageiros que estavam no vagão, que reagiram com gritos de "racista". A suposta agressora acabou escoltada pela polícia. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

Welica Ribeiro, negra, é moradora de Macaé, no Rio, e estava no vagão com o irmão e o pai. Segundo ela, a mulher que foi identificada como Agnes Vajda, húngara, de cabelos loiros, estava sentada ao seu lado e pediu para que ela tomasse cuidado com o cabelo, crespo, que, segundo Agnes teria tido, "poderia passar alguma doença".

"Toma cuidado com o seu cabelo porque ele está muito próximo ao meu rosto e pode me causar doença", relatou Welica à polícia sobre a fala da mulher, conforme o boletim de ocorrência.

À polícia, Agnes Vajda, que disse morar no Brasil há cinco anos, negou ter feito comentário racista. Segundo o BO, ela afirmou que se "ajeitou no banco para se afastar dos cabelos" e disse para Welica: "Se cuida porque se tiver alguém que tem doença com o cabelo, talvez você pode pegar".

Segundo Agnes, ela "quis dar uma dica" e não teve a intenção de ofender. Nas redes sociais, ela se identifica como assistente consular do Consulado da Hungria em São Paulo. O Consulado confirmou que ela trabalha no local, mas informou que só comentará o caso não comentou sobre o caso.

O Consulado da Hungria informou que está esperando o inquérito sair para se posicionar sobre o caso. Confirmou, no entanto, que Agnes é funcionária do órgão e não foi ao trabalho nesta terça.
Irmão filmou discussão

O irmão de Welica, Jonatan Ribeiro, viu a cena e começou a filmar a discussão.

"Sabe o que que eu sugeri [para Agnes]? Eu sugeri [para] ela raspar a minha cabeça pra não incomodá-la", diz Welica no vídeo. No vídeo é possível ouvir Agnes responder apenas "eu falei que tem que cuidar para [...]", mas o resto da fala dela é incompreensível.

O corretor de imóveis Samuel Lopes, que estava no vagão momento da discussão, presenciou o que a mulher loira disse.

"Uma mulher, na hora, virou assim: 'moça, você pode tirar seu cabelo, que você pode passar alguma dajoroença para mim?'. Naquela cara de cinismo mesmo".

Revoltados, os outros passageiros gritaram "racista" para a mulher e impediram sua saída até a chegada da Polícia Militar.

A jornalista Flávia Oliveira analisou o ocorrido e, para ela, esse não é um caso isolado. “Ser antirracista é agir contra o racismo e esses passageiros deram um belo exemplo hoje”, afirmou.

Números do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram um aumento significativo dos processos de racismo abertos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo entre 2018 e 2020. Em 2018, a Justiça paulista abriu 20 processos por racismo no estado. No ano seguinte, o número saltou para 254 e, em 2020, chegou a 269.
Depoimentos na delegacia

Welica, seu irmão Jonatan e a testemunha foram até uma delegacia registrar a ocorrência. A mulher que fez as ofensas também foi ouvida.

No termo de depoimento que o irmão da vítima prestou, foi registrado o nome de Agnes Vajda como sendo a mulher que proferiu as ofensas.

O Metrô informou que "os seguranças atuaram na proteção dos envolvidos".

Na saída da delegacia, Welica conversou com a reportagem.

"Eu espero que as pessoas entendam de uma vez por todas que somos iguais, somos seres humanos. A gente nasce igual todo mundo, a gente vai terminar como todo mundo, que não existe melhor do que ninguém. As pessoas precisam entender que precisamos ser respeitados, não porque somos negros, mas porque somos seres humanos e a gente merece respeito", disse a vítima.

Fonte: G1

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