Denúncias de pacientes por supostos erros em procedimentos feitos por médica em Campos são investigadas
Por Ocinei Trindade
Vera Cardoso de Melo coordena a Vigilância Sanitária, em Campos
Desde o dia 26 de maio, o Terceira Via acompanha as investigações da Polícia Civil contra a médica Soraia Amaral Mameri e a fisioterapeuta e empresária Amanda Barreto. Elas foram denunciadas por quatro pacientes de Campos submetidas a procedimentos estéticos que, supostamente, deram errado (Veja aqui). Segundo a delegada Natália Patrão, os casos são baseados em laudo pericial por “lesão gravíssima por deformidade permanente”. A defesa das profissionais nega as acusações. Um cirurgião plástico, uma dermatologista, um anestesista e o Conselho Regional de Medicina foram procurados para que avaliassem o episódio e os riscos de tratamentos e cirurgias com profissionais inadequados.
De acordo com as primeiras informações, a médica não teria residência ou especialização para atuar na área estética. Em 2021, duas pacientes, que preferem não se identificar, fizeram aplicações de botox e ácido hialurônico, além de uma hidrolipoaspiração. Segundo elas, os procedimentos não deram certo e causaram deformidades. Uma mulher que se submeteu a uma hidrolipo no abdômen disse que teve lesões graves. “Tive medo de ter infecção. Os equipamentos e o ambiente estavam inadequados para o procedimento. Não havia anestesista”, resumiu. Outras duas mulheres que fizeram procedimentos na clínica de estética apresentaram denúncias nas 134ª DP por problemas semelhantes.
Para o médico e cirurgião plástico Rogério Venâncio, são preocupantes os casos recentes investigados de pacientes que buscam por tratamentos estéticos em Campos com profissionais sem condições adequadas para realizá-los.
“Podemos dizer que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) tem uma preocupação muito grande com esses procedimentos, porque está acontecendo um grande aumento em nossos consultórios de pacientes que nos procuram, mostrando insatisfação devido a procedimentos não cirúrgicos realizados em clínicas com profissionais inadequados. Muitas nos procuram para correção. O mais importante para realizar qualquer tipo de procedimento é ter profissionais que sejam ligados à sua área e seja especialista titular. Temos vários profissionais de qualidade no mercado que têm a especialidade não só acadêmica, mas também a pós-graduação da área de cirurgia plástica e dermatológica. São praticamente seis anos para formação. Alguém que não tem a formação dentro dessa estrutura dificilmente terá capacidade de realizar a intervenção de maneira bem feita”, diz Venâncio, titular da SBCP e da Sociedade Ibero-Latino Americana de Cirurgia Plástica.
Rogério Venâncio
Olívia Assed
O médico anestesista João Machado diz que qualquer tipo de procedimento estético sem o profissional habilitado pode levar a resultados insatisfatórios que colocam em risco a vida do paciente. “Sempre que há a necessidade de sedação, para o bem estar do paciente, é mandatória a presença de um anestesista acompanhando todo o procedimento cirúrgico e estético no centro cirúrgico. Essa situação investigada ocorre, principalmente, pela falta de fiscalização dos órgãos competentes, associado à falta de informação e busca do ‘bom e barato’, que na verdade sai caro”, considera.
Para a médica dermatologista Olivia Assed, todos os profissionais estão sujeitos a erros. “Mas, infelizmente, temos observado uma certa frequência de procedimentos mal-sucedidos realizados por pessoas que não têm especialização ou que não são da área”. A profissional orienta:
“As pessoas devem procurar por profissionais que tenham referência, buscar saber a qualificação de cada profissional. Não ir apenas por indicações de amigos ou revistas, jornais ou influenciadores. É necessário acompanhar o que esse profissional tem realizado, analisar os resultados que entrega, e, acima de tudo, saber se ele tem a qualificação específica e experiência para realizar tais procedimentos. E o que não pode faltar, principalmente, é o senso estético. Pois além da questão técnica e teórica, tem também o lado artístico. E como qualquer trabalho ligado à arte, vai depender muito do que chamamos de senso estético do injetor, se ele consegue ‘imprimir’ isto através das técnicas corretas para atingir o fim idealizado”, define Olivia.
Cremerj e Vigilância Sanitária
De acordo com a Vigilância Sanitária de Campos, a clínica de estética que pertence à fisioterapeuta Amanda Barreto não tem documentação necessária para funcionar e vinha atuando clandestinamente. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro informou, por meio de nota, que está acompanhando a investigação.
“O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro apura as informações a respeito da médica sob investigação. Também esclarece que, caso algum paciente discorde do tipo de assistência recebida, pode fazer uma denúncia no Conselho. O Cremerj irá apurar com todo o rigor necessário, seguindo o Código de Processo Ético-Profissional”, conclui.
Fonte:Terceira Via
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