Intervenção de PMs armados nas confusões na Câmara Municipal e no Liceu de Humanidades de Campos (Fotos: Folha da Manhã)
Desde a eleição do vereador de oposição Marquinho Bacellar (SD) a presidente da Câmara Municipal de Campos em 15 de fevereiro, e sua posterior anulação pela atual Mesa Diretora derrotada no voto, a mesma cena se repetiu em vários dias de sessão no Legislativo Goitacá. Eram militantes dos vereadores tentando forçar a entrada para a tribuna, alguns aparentando estar armados com volume visível na cintura, sendo contidos por PMs armados de fuzil. O péssimo exemplo dos edis de Campos foi refletido na última segunda-feira (13). Do outro lado da praça do Liceu, na tradicional escola estadual que a batiza, um PM armado de fuzil que passava de serviço teve que intervir para separar uma briga generalizada de estudantes.
No último episódio da disputa política entre Garotinhos e Bacellar traduzida em violência física, na última quinta (16), quatro enfrentamentos entre militantes dos dois grupos tiveram que ser novamente separados por policias militares armados. Sem nenhum constrangimento, foi diante do palanque onde estava o governador Cláudio Castro (PL). Em evento para marcar a retomada de obras no Parque Saraiva, enquanto discursava o deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL), as quatro confusões espocaram em meio à plateia, demandando a intervenção dos PMs do bom programa estadual “Segurança Presente”.
Após os deputados presentes discursarem, o prefeito Wladimir Garotinho (sem partido) fez uso da palavra. Em meio aos aplausos da sua claque e vaias da claque dos Bacellar, pregou concórdia, mas não deixou de cutucar seu antecessor, o ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania):
— A gente entende perfeitamente que as militâncias fazem parte da política, mas hoje é dia de gratidão. É dia que nossa cidade precisa agradecer pela parceria, pela dedicação de todos os atores políticos. (…) Independente das plateias que aplaudem A ou B, o importante, neste momento, é que a cidade de Campos está ganhando. Eu costumo dizer que a obra é do município. Todo gestor que assume, deve terminar a obra que o outro começou. Infelizmente, isso não foi o que aconteceu com o prefeito que me antecedeu e parou a obra (…) As brigas e diferenças a gente deixa para o lado de fora. Aqui, hoje, é dia de celebrar e agradecer.
Depois de Wladimir, o microfone passou a Rodrigo, com a disputa entre vaias e aplausos se invertendo entre as claques. E, ao melhor estilo Bacellar, tocou fogo no parquinho:
— Quem conhece a família Bacellar sabe que não temos papas na língua. Não tenho medo de vaia, de cara feia, de porrada, de nada (…) É muito fácil chegar no palco, como tem acontecido há muito tempo nesta cidade, e pregar a paz, dizer que é dia de festa. Mas ontem à noite o prefeito saiu de casa com aquele frio que estava e veio aqui na rua às 23h para falar mal do ex-prefeito (Rafael). Não tenho procuração para falar do ex-prefeito, mas falar dele é sacanagem porque quem veio aqui tirar o paralelepípedo do Parque Saraiva foi a mãe do prefeito (Rosinha Garotinho, hoje no União). Falar de Parque Saraiva é mole… Gravar vídeo falando que a obra é em parceria com o Estado. Que parceria é essa? É o governador que paga 100% da obra (…) Tem que parar com essa palhaçada de vídeo, de blábláblá, de atacar os outros. Tem que parar de ser ingrato com o governador que faz tudo por Campos. Que o pai do prefeito chama de ladrão todo dia. Que parceria é essa?
É verdade que a obra no Parque Saraiva foi iniciada e paralisada em 2016, no último ano do governo Rosinha. Como várias outras ainda inconclusas, foi feita a toque de caixa para tentar eleger Dr. Chicão (PP) prefeito de Campos, derrotado ainda no primeiro turno por Rafael Diniz. Como é verdade que este passou os quatro anos do seu governo sem retomar a obra, durante um período de “vacas magras” dos royalties do petróleo. São verdadeiros, portanto, tanto o argumento de Wladimir, de que a obra não foi retomada por Rafael, quanto o de Bacellar, de que a obra foi abandonada por Rosinha. E faz parte do jogo político realçar os fatos positivos e tentar esconder os negativos. O que não é normal, ou não deveria, é levar a ferro e fogo as amnésias seletivas dos adversários. Sobretudo quando estes estão no mesmo palanque.
Protagonista do palanque, Cláudio Castro falou depois de Rodrigo. Realçou a parceria com Wladimir, mas não deixou de alfinetar os pais deste:
— O Parque Saraiva precisa de dignidade, de gente que respeita o povo. Não viemos aqui para criar briga. Campos é assim, o sangue ferve mesmo. A gente entende que isso faz parte. (…) O mais importante não é quem fez a obra, é que a obra chegue na população. Ninguém nunca me viu em palanque bradar que eu fiz isso ou aquilo. (…) Não tenho como deixar de ser verdadeiro e, sem querer colocar lenha, mas tem gente que colocou muita lama (Garotinho e Rosinha) e quer voltar. Não tenho como agradecer a parceria com muita gente boa. Quero agradecer a parceria com Rodrigo Bacellar, mas quero, sim, agradecer a parceria com o prefeito Wladimir Garotinho. Meu amigo. Ninguém faz nada sozinho.
Após ouvir os elogios do governador ao prefeito de Campos, Rodrigo desceu do palanque esbravejando. Depois do evento, apareceu de cabeça fria no almoço que organizou para Castro na Estância Jacyntho. Ao reunir em torno de Castro quase todos os ex-prefeitos de Campos desde os anos 1990, à exceção emblemática de Garotinho, Rosinha e do atual, Wladimir, a mensagem do deputado estadual foi clara: sem os Garotinhos, Campos está em paz. O problema dessa mensagem é que, em meio a um bom mandato de deputado federal, Wladimir foi eleito prefeito em 2020. E se não sofrer impeachment por uma Câmara presidida por Marquinho, irmão de Rodrigo, só sairá se perder sua reeleição — como aconteceu com Rafael.
Entre o Parque Saraiva e a Estância Jacyntho, o jornalista da Folha Aldir Sales ouviu de um Castro descendo do palanque no bairro esquecido por Rosinha e Rafael: “Garotinho é uma piada”. O governador mostrou o quanto a pré-candidatura de Garotinho ao seu cargo incomoda, assim como os ataques deste ao atual ocupante do Palácio Guanabara. Por sua vez, outro jornalista da Folha, mais atento à população do que aos políticos e suas brigas de interesse, Ícaro Barbosa registrou a opinião de quem interessa:
— Essa obra vai ser uma melhoria indispensável para o bairro, asfalto, calçada, esgoto. Hoje vivemos uma realidade que, quando chove, é de lama, quando faz calor, é de poeira. Mesmo essa praça onde está acontecendo o evento, está vendo (ao apontar ao local onde estava o palanque)? Isso era um lixão, estava tudo bagunçado. Limparam por causa dessa visita. Tinha rato, cobra, barata e isso tudo jogava a gente para dentro da bagunça. Vamos ver se melhora daqui para frente. Essa é nossa esperança. Já vai fazer quase 10 anos nessa situação e não aguentamos mais — testemunhou o vigilante Giovani Viana Fernandes, de 55 anos. Falou à Folha da porta da sua casa e alheio às brigas entre militantes dos Garotinhos e dos Bacellar.
Desde a retomada do ano letivo após a pandemia da Covid, os jovens estudantes do Liceu só precisaram olhar do outro lado da praça homônima para testemunhar as confusões constantes na Câmara Municipal, apartadas por PMs armados de fuzil. E, como exemplo costuma vir de cima, parecem ter reproduzido o péssimo que vem sendo dado há meses pelos homens públicos da cidade. Encontrariam referência mais digna se buscassem, entre a lama ou a poeira do Parque Saraiva, o exemplo de cidadãos como o Giovani.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
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sábado, 18 de junho de 2022
Péssimo exemplo aos estudantes do Liceu, Garotinhos x Bacellar já encheu
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