segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Aumento de homicídios dolosos no Norte do Estado deixa autoridades policiais em alerta

Para especialista em segurança pública, números são “alarmantes”

 

O aumento do número de homicídios dolosos, quando há intenção de matar, deixa em alerta autoridades policiais de municípios do Norte Fluminense. Levantamento feito a partir de dados divulgados do Instituto de Segurança Pública (ISP), mostram aumento desse tipo de crime de 2020 para 2021. São Francisco de Itabapoana, se destaca, com alta de 70% nos registros. Campos e São João da Barra também tiveram crescimento no total de ocorrências, 37,5% e 5,5%, respectivamente.
Em 2022, foram consolidados apenas números relativos ao primeiro semestre. São Francisco de Itabapoana volta a chamar atenção, já tendo registrado neste período mais da metade dos homicídios ocorridos no ano anterior.
Autoridades policiais creditam o aumento ao conflito entre facções do crime organizado e à atipicidade dos números relativos a 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19.

Violência assusta São Francisco de Itabapoana
Em 2020, ocorreram 20 homicídios dolosos em São Francisco de Itabapoana, segundo o ISP — uma estatística que inclui não apenas mortes, mas também tentativas. Já em 2021, foram registrados 34 crimes desta natureza, o que representa um aumento de 70%. Em 2022, no primeiro semestre, já foram registradas 18 ocorrências. Há nove anos como delegada titular da 147ª Delegacia Policial (DP), em São Francisco de Itabapoana, Ivana Morgado credita o aumento dos números aos confrontos entre facções criminosas e a brechas na lei.


“O aumento na letalidade violenta no Município de São Francisco do Itabapoana é decorrente principalmente da guerra entre as facções do narcotráfico na região e da fragilidade da legislação. Acredito que o nosso maior obstáculo é a legislação que acaba, em muitos casos, favorecendo a impunidade e a reincidência criminal”, diz a delegada.
Em 2022, crimes bárbaros vêm chocando a população sanfraciscana. No dia 31 de março, Jacildo Cruz de Oliveira, sogro do vereador Maxsuel Cerqueira Azevedo, presidente da Câmara Municipal de São Francisco de Itabapona, foi morto a tiros enquanto caminhava na RJ-224, estrada que liga o município a Campos.



Em 21 de junho, a jovem Soraya Miranda dos Santos, de 21 anos, foi brutalmente assassinada por homens que passavam em uma moto. Ela se dirigia para o trabalho em uma bicicleta quando foi alvejada.
No último dia 19, Denise Custódio, de 64 anos, foi baleada e morta enquanto transitava de moto próximo à localidade de Bom Jardim, na zona rural do Município. Segundo a Polícia Militar, há cerca de dois meses, o filho e a nora da vítima também foram assassinados.


Segundo Ivana Morgado, a polícia já tem uma linha investigativa para desvendar esses crimes, mas como as apurações ainda estão em andamento, não pode ser divulgada. A delegada conclui afirmando que, para controlar esses homicídios dolosos, as forças policiais e a Justiça estão organizando medidas em conjunto. “A Polícia Civil tem realizado um trabalho de inteligência e parceria com a Polícia Militar, além de algumas medidas cautelares requeridas ao Judiciário”, concluiu.

Em Campos, delegado afirma que existe controle policial
Campos é o único Município do Norte do Estado com duas DPs: a 134ª, localizada no Centro e responsável pela margem direita do Rio Paraíba do Sul, e a 146ª, que fica no subdistrito de Guarus e responde pela margem esquerda. Somando os dados dos dois distritos policiais, foram 126 homicídios dolosos registrados em 2020 e 133 em 2021, havendo um aumento de 5.5%. Em 2022 já foram contabilizados 53 crimes semelhantes.
Deste total, a 134ª foi responsável pelo registro de 64 casos em 2020. Em 2021, foram 44 crimes; uma queda de 31,25%. É a única DP pesquisada que apontou diminuição no número de homicídios dolosos. Nos seis primeiros meses de 2022, foram 22 ocorrências.


Já a 146ª DP teve aumento de 43,5% nas estatísticas de crimes do tipo entre 2020 e 2021,sendo registrados 62 e 89 registros. Até junho de 2022, foram outros 31. O delegado Pedro Emílio Braga ressalta que, em 2020, o subdistrito, que tem histórico de altos índices de violência, alcançou resultados “históricos”. “A 146ª DP figurou em segundo lugar dentre todas as delegacias do estado em termos de produtividade”, ressalta.
Ele afirma que o aumento dos números em 2021 é motivado pelo conflito entre facções criminosas. “Em função de diferentes conflitos entre facções narcotraficantes rivais, estabelecidas na circunscrição de Guarus, observamos algum aumento em relação àquele resultado histórico, mas na média geral histórica, foi igualmente um dos melhores anos também”, defende.
Para 2022, Pedro Emílio projeta diminuição dos números. “Estamos chegando ao decurso de 60% dos dias do ano e estamos ainda na metade do índice atingido em nosso melhor período histórico. Isso indica que possivelmente teremos um novo recorde na repressão a homicídios em Guarus este ano”, afirma.
A reportagem do Jornal Terceira Via entrou em contato com os delegados responsáveis pela 134ª DP, mas não havia obtido resposta até o fechamento desta edição.

  

Delegado Rodolfo Maravilha 


 

Especialista em segurança, Roberto Uchôa


 

Delegada Ivana Morgado


Delegado Pedro Emílio Braga

São João da Barra mostra crescente tímida
Em São João da Barra, no ano de 2020, foram registrados oito homicídios dolosos. Em 2021 foram 11, o que representa um aumento de 37,5%. O delegado titular da 145ª Delegacia Policial (DP), Rodolfo Maravilha Franco da Silva, afirma que 2020 foi um ano atípico em relação aos números devido às medidas sanitárias que a cidade adotou para conter a pandemia de Covid-19
“Ocorreram oito homicídios, número este que está estritamente relacionado com a pandemia de Covid-19, em que houve uma drástica diminuição do fluxo de pessoas nas ruas, barreira sanitária no município e proibição de realização de eventos e aglomeração de pessoas”, afirma.

Segundo o delegado, usando a métrica de anos anteriores à pandemia, 2021 teve uma diminuição de casos de homicídios dolosos. “No ano de 2017 foram 12 homicídios, já no ano de 2018, foram 11, e em 2019, 16 crimes desta natureza. Portanto, no ano de 2021, o acontecimento de 11 homicídios representou um aumento comparado ao ano de 2020, mas uma diminuição comparada aos anos que antecederam a pandemia”, explica.
Até junho de 2022, foram registrados quatro crimes desta natureza em São João da Barra. Rodolfo conta que a polícia monitora os números e implementou medidas para conter esses crimes, que segundo ele, em sua grande maioria estão relacionados ao narcotráfico.
“Há combate diário a esta prática, prendendo os traficantes, retirando de circulação armas de fogo, e retirando também de circulação motocicletas irregulares usadas pelos criminosos, resulta em forte diminuição de crimes desta natureza”, explica.

Para especialista, números são alarmantes
O especialista em Segurança Pública Roberto Uchôa analisou os números dos três municípios. Ele afirma que as estatísticas são “alarmantes” e “vão na contramão da tendência nacional e estadual”, que apresentam quedas. Segundo ele, as constantes disputas de território das facções contribuem para o aumento desses crimes. Ele cita o caso do assassinato de Nelson Francisco Matos Neto, conhecido como ‘Dunha’, de 40 anos, na frente da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).


“Quando há disputa entre grupos pelo controle de territórios e mercados a tendência é que os homicídios aumentem e isso pode ser uma das causas desse recente aumento. Lembremos o homicídio ocorrido próximo à UENF, onde uma pessoa foi morta à luz do dia com disparo de dezenas de munições incluindo a utilização de pelo menos um fuzil, e logo a seguir outras mortes se seguiram com possíveis características de retaliação. São movimentos que com certeza estão sendo acompanhados pelas autoridades responsáveis”, ressaltou.Uchôa afirma, no entanto, que embora as taxas de homicídios sejam um “sinalizador sobre a violência”, existem outros fatores que também devem ser observados quando se trata de homicídio doloso
“A variação das taxas de homicídios não deve ser considerada sozinha como balizadora de piora ou melhor do quadro de segurança pública. É um tipo de crime que envolve múltiplas causas e a dinâmica relacionada à grupos criminosos e controle dos mercados ilegais tem um forte papel nessa variação”, finaliza. 

Terceira Via/Show Francisco

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