Em Campos, a musicista e doutora em Políticas Sociais, Karina Gomes, estuda e divulga o gênero
POR OCINEI TRINDADEBandas Civis | Campos tem diversas formações musicais com mais de 100 anos; tradição é mantida por músicos de todas as idades
A pianista e pesquisadora Karina Barra Gomes vive para a música. Educadora artística por formação, ela se tornou mestra e doutora em Políticas Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Em 2019, defendeu a tese “Eu sou da Lira, não posso negar: Trajetórias de vida, memórias e políticas culturais nas Bandas Civis Centenárias de Campos dos Goytacazes (RJ)”. A obra acadêmica ganhou o formato de livro com lançamento previsto para o início de 2023. Karina desenvolve projetos de extensão na rede pública de ensino. Para ela, crianças, adolescentes e adultos precisam (re)descobrir a importância das liras musicais para a promoção da arte e da cultura locais.
Desde sua formação em Piano e Educação Artística pela UniRio, Karina Gomes começou a pesquisar sobre as matrizes musicais e as matrizes culturais da Música Popular Brasileira. Na Biblioteca Nacional, Biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e no Arquivo Público Municipal de Campos encontrou jornais e recortes que abordam as bandas civis do Brasil, especialmente, no acervo do musicólogo Mozart de Araújo.
A pianista e pesquisadora Karina Barra Gomes vive para a música. Educadora artística por formação, ela se tornou mestra e doutora em Políticas Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Em 2019, defendeu a tese “Eu sou da Lira, não posso negar: Trajetórias de vida, memórias e políticas culturais nas Bandas Civis Centenárias de Campos dos Goytacazes (RJ)”. A obra acadêmica ganhou o formato de livro com lançamento previsto para o início de 2023. Karina desenvolve projetos de extensão na rede pública de ensino. Para ela, crianças, adolescentes e adultos precisam (re)descobrir a importância das liras musicais para a promoção da arte e da cultura locais.
Desde sua formação em Piano e Educação Artística pela UniRio, Karina Gomes começou a pesquisar sobre as matrizes musicais e as matrizes culturais da Música Popular Brasileira. Na Biblioteca Nacional, Biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e no Arquivo Público Municipal de Campos encontrou jornais e recortes que abordam as bandas civis do Brasil, especialmente, no acervo do musicólogo Mozart de Araújo.
Karina Gomes
“Ao me deparar com um rico material jornalístico, me interessei pelo tema ao identificar que a música brasileira possui, por meio desses grupos centenários, uma das suas mais pujantes matrizes culturais. Ao voltar o meu olhar sobre a cidade de Campos, averiguei a vivacidade da Sociedade Musical Operários Campistas, uma banda centenária cuja sede fica no centro urbano. Em 2002 e 2003 ela se encontrava em plena atividade, ainda como uma imponente escola de música, colaborando para a formação musical de diversas crianças, jovens e adultos. A partir desta banda, fluiu, posteriormente, o mestrado em Políticas Sociais, quando foi possível estudar sobre patrimônio cultural e políticas culturais, realizando um estudo comparativo entre esta banda e a Sociedade Musical Euterpe Sebastianense, outra lira centenária, na Baixada Campista”, explica Karina.
Nos últimos anos, Karina Gomes vem se dedicando a recolher fatos históricos de bandas de Campos dos Goytacazes. Destacam-se a Sociedade Musical Lira de Apolo (1870); Associação Musical Lira Guarany (1893); Sociedade Musical Lira Conspiradora (1882); Sociedade Musical Euterpe Sebastianense (1903), Lira Santo Amaro e Lira São José (ambas do início do século XX). “Não tenho notícias recentes da Banda Nossa Senhora da Penha, em Tócos, nem da Sociedade Musical Nossa Senhora das Dores, no distrito de Dores de Macabu e da Sociedade Musical Operários Campistas (1892), no centro da cidade”, cita.
Para a pesquisadora da Uenf, cada banda musical possui uma história, e cada história que envolve seus músicos é uma riqueza para a memória cultural da cidade.
“Por serem centenárias, duas delas (Lira de Apolo e Lira Conspiradora) participaram da campanha abolicionista e anti-escravagista, em fins do século XIX, ao tocarem nos teatros e participarem do movimento. Músicos de grande envergadura passaram por elas, por serem estas um espaço de formação musical, por excelência. Tiveram escravos e ex-escravos em suas formações, sempre trabalhadores da classe popular; estes foram os primeiros músicos do Brasil. Com suas particularidades, elas são e sempre foram, em sua essência, escolas de música gratuitas de portas abertas à comunidade. Portanto, nossos verdadeiros conservatórios de música do interior que, entre a tradição e a modernidade, representam uma das mais importantes resistências culturais no país. Agregam valores permanentes, fundidos na identidade e na memória social e coletiva de seus integrantes e de cada um, em particular”, comenta.
Livros e ensino musical
Karina Gomes é autora de diversos artigos científicos sobre suas pesquisas musicais. Ela destaca sua participação na Jornada Interdisciplinar de Expressões Culturais, de 2021, numa parceria entre o Grupo de Estudos e Práticas Musicais da Uenf e o Instituto Federal Fluminense (IFF). Escreveu sobre o trompetista Marcelo Reis e sua tradicional família de talentosos músicos campistas, incluindo Heraldo Reis, Waldir Reis e Luís Reis. “Recebi um convite para publicar minha tese de 2019 em forma de livro já em 2023. Ainda neste ano sairão dois capítulos no e-book da Jornada de Expressões Culturais sobre a família Reis”.
Como professora da rede municipal, Karina Gomes desenvolve projetos em parceria com a Uenf e Escola Municipal Pequeno Jornaleiro, para promover a prática musical.
“Preciso incentivar meus alunos, levando para sala de aula músicas que eles não conhecem, exatamente para ampliar seu repertório, além de enfatizar como as bandas civis contribuíram, ao longo dos anos, para levar muitos músicos a uma carreira profissional de sucesso. A prática do canto coral também contribui para a inclusão social e afetiva. As práticas culturais das nossas liras reiteram e reforçam a longevidade de uma cultura de identidade comunitária que acolhe a geração, o lugar, a cooperação, a solidariedade e a educação musical como esteios na construção da memória social e coletiva”, conclui.
“Ao me deparar com um rico material jornalístico, me interessei pelo tema ao identificar que a música brasileira possui, por meio desses grupos centenários, uma das suas mais pujantes matrizes culturais. Ao voltar o meu olhar sobre a cidade de Campos, averiguei a vivacidade da Sociedade Musical Operários Campistas, uma banda centenária cuja sede fica no centro urbano. Em 2002 e 2003 ela se encontrava em plena atividade, ainda como uma imponente escola de música, colaborando para a formação musical de diversas crianças, jovens e adultos. A partir desta banda, fluiu, posteriormente, o mestrado em Políticas Sociais, quando foi possível estudar sobre patrimônio cultural e políticas culturais, realizando um estudo comparativo entre esta banda e a Sociedade Musical Euterpe Sebastianense, outra lira centenária, na Baixada Campista”, explica Karina.
Nos últimos anos, Karina Gomes vem se dedicando a recolher fatos históricos de bandas de Campos dos Goytacazes. Destacam-se a Sociedade Musical Lira de Apolo (1870); Associação Musical Lira Guarany (1893); Sociedade Musical Lira Conspiradora (1882); Sociedade Musical Euterpe Sebastianense (1903), Lira Santo Amaro e Lira São José (ambas do início do século XX). “Não tenho notícias recentes da Banda Nossa Senhora da Penha, em Tócos, nem da Sociedade Musical Nossa Senhora das Dores, no distrito de Dores de Macabu e da Sociedade Musical Operários Campistas (1892), no centro da cidade”, cita.
Para a pesquisadora da Uenf, cada banda musical possui uma história, e cada história que envolve seus músicos é uma riqueza para a memória cultural da cidade.
“Por serem centenárias, duas delas (Lira de Apolo e Lira Conspiradora) participaram da campanha abolicionista e anti-escravagista, em fins do século XIX, ao tocarem nos teatros e participarem do movimento. Músicos de grande envergadura passaram por elas, por serem estas um espaço de formação musical, por excelência. Tiveram escravos e ex-escravos em suas formações, sempre trabalhadores da classe popular; estes foram os primeiros músicos do Brasil. Com suas particularidades, elas são e sempre foram, em sua essência, escolas de música gratuitas de portas abertas à comunidade. Portanto, nossos verdadeiros conservatórios de música do interior que, entre a tradição e a modernidade, representam uma das mais importantes resistências culturais no país. Agregam valores permanentes, fundidos na identidade e na memória social e coletiva de seus integrantes e de cada um, em particular”, comenta.
Livros e ensino musical
Karina Gomes é autora de diversos artigos científicos sobre suas pesquisas musicais. Ela destaca sua participação na Jornada Interdisciplinar de Expressões Culturais, de 2021, numa parceria entre o Grupo de Estudos e Práticas Musicais da Uenf e o Instituto Federal Fluminense (IFF). Escreveu sobre o trompetista Marcelo Reis e sua tradicional família de talentosos músicos campistas, incluindo Heraldo Reis, Waldir Reis e Luís Reis. “Recebi um convite para publicar minha tese de 2019 em forma de livro já em 2023. Ainda neste ano sairão dois capítulos no e-book da Jornada de Expressões Culturais sobre a família Reis”.
Como professora da rede municipal, Karina Gomes desenvolve projetos em parceria com a Uenf e Escola Municipal Pequeno Jornaleiro, para promover a prática musical.
“Preciso incentivar meus alunos, levando para sala de aula músicas que eles não conhecem, exatamente para ampliar seu repertório, além de enfatizar como as bandas civis contribuíram, ao longo dos anos, para levar muitos músicos a uma carreira profissional de sucesso. A prática do canto coral também contribui para a inclusão social e afetiva. As práticas culturais das nossas liras reiteram e reforçam a longevidade de uma cultura de identidade comunitária que acolhe a geração, o lugar, a cooperação, a solidariedade e a educação musical como esteios na construção da memória social e coletiva”, conclui.
Fonte:Terceira Via
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