segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Casos positivos de HIV continuam crescendo Em 2022, levantamento do Centro de Doenças

Infecto-Parasitárias contabilizou 259 novos registros. 

Nos últimos dois anos, o levantamento do Centro de Doenças Infecto-Parasitárias (CDIP) registrou um aumento no número de casos positivos de HIV em Campos dos Goytacazes. Entre os meses de janeiro e dezembro de 2022, foram diagnosticados 259 novos casos. Já em 2021, foram 248 casos. Diante dos números, a Frente LGBTQIA+ do Norte Fluminense lançou a “Carta da sociedade civil”, pela ampliação do acesso à política de prevenção, tratamento e não discriminação alusiva ao HIV/Aids. Segundo o psicólogo e membro da Frente LGBTQIA+ do município, Salvador Corrêa, o índice de mortalidade por complicações da Aids, em Campos, é preocupante.

”Precisamos ampliar a prevenção, aumentando a testagem, o acesso aos insumos de prevenção, o serviço da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) e, principalmente, enfrentar com firmeza o estigma e a discriminação que geram abandono do tratamento e mortes sociais e físicas”, alerta Salvador.

De acordo com o psicólogo, as campanhas intensas de conscientização e prevenção são tão necessárias, porque, mesmo conhecendo sobre a realidade e existência do vírus, muitos se descuidam. Este foi o caso dele, conforme compartilhou:

“No início dos anos 2000, época em que as escolas não tinham medo de falar sobre prevenção, visitei a Associação Irmãos da Solidariedade para entrevistar Fátima Castro (presidente da associação). Minha admiração foi imediata, pela coragem de trazer o tema desde a década de 1980, quando o preconceito matava ainda mais do que hoje. Apesar de todo cuidado com a prevenção, tive um descuido e, por não ter usado preservativo em uma situação, me descobri com HIV em 2011”, relata Salvador.

Conscientização e prevenção
Salvador Corrêa atua na Frente LGBTQIA+ do Norte Fluminense, que é formada por ONGs, coletivos, serviços públicos, universidades, ativistas e gestores que têm somado forças para pleitear políticas públicas para a população LGBTQIA+. Em dezembro do ano passado, a Frente lançou a “Carta da sociedade civil”, pela ampliação do acesso à política de prevenção, tratamento e não discriminação alusiva ao HIV/Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (Ist’s) em Campos e região.

“Na carta, reconhecemos os avanços coletivos nessa questão, como ações implementadas nesse último ano pela Prefeitura de Campos, como o agendamento da testagem pela internet e ampliação da equipe para busca ativa de abandono ao tratamento. No entanto, alguns passos importantes ainda precisam ser dados, para alcançar as metas globais relacionadas ao HIV, como a redução da mortalidade, ampliação da prevenção nas escolas e campanhas amplas sobre prevenção e não discriminação”, pontua o psicólogo.

Segundo a Prefeitura de Campos, o serviço de testagem para HIV e outras Ist’s está à disposição da população por meio do o Programa Municipal DST/Aids e Hepatites Virais, das 7h às 19h, de segunda à sexta-feira, na Rua Conselheiro Otaviano, nº 241, Centro. Também é possível fazer o teste nas Unidades Básicas de Saúde (UBS’s).

“Ao longo de 2022, o CDIP prestou serviços aos munícipes com distribuição de preservativos e palestras educativas, quando solicitado. O programa também oferece o serviço de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) e Profilaxia Pós-Exposição (PEP), onde trabalhamos para a descentralização do atendimento ao PEP (vítima de violência sexual, acidente biológico e exposição sexual consentida) nas UPHs. Ambos os métodos reduzem o risco de adquirir o HIV, a partir do uso de medicamentos antirretrovirais que impedem que o vírus se estabeleça e se espalhe pelo corpo. Em 2022, foram 111 usuários PrEP e 409 PEP”, disse a prefeitura por meio de nota.

Acolhimento
Além das ações do Município, Campos conta com a Associação Irmãos da Solidariedade, a primeira casa de apoio às pessoas HIV positivas. Este ano, a instituição completa 35 anos. De acordo com Fátima Castro, presidente da Associação, os residentes contam com apoio de infectologista, psiquiatra, psicanalista, psicologo, fisioterapeuta, dentista e nutricionista. Atualmente, a Casa está realizando o projeto “Mães solidárias”.
“Devido ao aumento de gestantes com Ist’s na região, iniciamos esse projeto, em que fazemos palestras para gestantes em vulnerabilidade social, uma vez ao mês. Também realizamos um trabalho geral de conscientização nas ruas com as trabalhadoras do sexo e entregamos preservativos. Realizamos palestras em escolas e empresas. No entanto, sinto falta de propagandas e publicidade mais efetivas na nossa cidade, abordando o assunto, que é preciso ser falado”, enfatiza Fátima.

Para o psicólogo Salvador Corrêa, acima de tudo, falta mais acolhimento e aceitação da sociedade. “Hoje temos tratamentos que nos dão uma qualidade de vida muito maravilhosa. Infelizmente, o medicamento para o preconceito e o estigma não avançou da mesma forma. Precisamos eliminar todas as formas de preconceito das nossas mentes e de nossos corações”, finaliza.Terceira Via/Show Francisco

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