segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Ações tentam minimizar a fome no município de Campos

Problema cresceu nos últimos anos; movimentações sociais envolvem pesquisadores, governo e igreja

POR OCINEI TRINDADE
Distribuição de comida no Mosteiro Santa Face (Foto:Arquivo)

Dados do governo federal e fontes como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Brasil enfrenta nos últimos anos o aumento da pobreza e da extrema pobreza. Um quarto da população do país vive nessas condições de precariedade. A pandemia ajudou a elevar a gravidade da situação, que culmina com a fome ou insegurança alimentar em todo o país. Em Campos, integrantes do governo municipal e da Universidade Estadual do Norte Fluminense iniciaram um levantamento do mapa da fome na cidade para desenvolver políticas públicas de combate ao problema. A Igreja Católica escolheu o tema ““Fraternidade e Fome” para a Campanha da Fraternidade deste ano.

A Prefeitura de Campos e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro elaboram um levantamento para identificar o percentual da população campista que está em insegurança alimentar e nutricional. Os dados irão fundamentar o desenvolvimento de ações integradas e políticas públicas. Trata-se do Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (PMSAN) de Campos, iniciativa do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional.

Integrantes do Laboratório de Gestão e Políticas Públicas e de Administração Pública da Uenf e de diversas secretarias municipais analisam o projeto de extensão da universidade “Diagnóstico de Segurança Alimentar e Nutricional de Campos dos Goytacazes”. Para o subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde, Rodrigo Carneiro, o objetivo é identificar situações críticas dentro do município, a fim de criar políticas públicas para atendimento a essa demanda:
Ações de combate á fome tem a ajuda de vários setores da sociedade. Realidade I Pandemia ajudou a elevar a gravidade da situação no Brasil

“Já há dados do Programa de Assistência aos Assentamentos e Quilombolas (PAAQ), Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), Programa Saúde na Escola, em parceria com a Educação, Estratégia Saúde da Família (ESF), Departamento de Nutrição, entre outros. Faremos uma busca ativa dessa população”, explica.

O professor do Laboratório de Gestão e Políticas Públicas e de Administração Pública da Uenf, Mauro Macedo, disse que o Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional deve ser apresentado à sociedade até junho durante um seminário. “O esforço em construir o PMSAN reúne um conjunto de iniciativas de pesquisa e extensão apoiadas por universidades, sociedade civil e o poder público local”, comenta.

Fraternidade e Fome

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu pela terceira vez a fome para ser tema da Campanha da Fraternidade, criada em 1964. Este ano, o tema é “Fraternidade e Fome”, e o lema bíblico “Dai-lhe vós mesmo de comer”. A ação acontece até o fim da Páscoa, mas será refletida o ano inteiro. A Igreja Católica se baseou em pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, de junho de 2022, que apontou 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente no país. O número é quase o dobro do contingente estimado em 2020.
Bispo Roberto Ferreria Paz: ações de combate à fome tem a ajuda de vários setores da sociedade. Ele ressalta tema da Campanha da Fraternidade

O bispo da Diocese de Campos, Dom Roberto Ferreria Paz, conversou com a reportagem do J3News sobre o combate à fome na região e em todo o país. Citou a declaração do Papa Francisco que disse que ““a fome não é só uma tragédia, mas uma vergonha para a humanidade”. O bispo comentou, ainda, sobre ações da comunidade católica para minimizar os efeitos da insegurança alimentar:

“Devemos redescobrir através dessa campanha que o alimento é um dom de Deus e um direito de todos. Precisamos sensibilizar a sociedade e mobilizá-la para vencer esse flagelo. Não podemos ficar indiferentes ou cruzar os braços. Não é só Estado, mas nós devemos a nível pessoal ou comunitário abrir nossas mãos, dar as nossas mãos”.

Em Campos e em cidades integradas à Diocese há diversas pastorais sociais que atendem pessoas com necessidades alimentares, além da população em situação de rua. “É preciso conhecer narrativas dos pobres, da população de rua ou que viveem moradia precária. Multiplicar e partilhar o pão para todas as mesas é uma prática de Jesus. Saciar a fome de Deus, mas também a fome de pão”, conclui.
Fonte:J3News

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