domingo, 5 de março de 2023

Wladimir recupera maioria na Câmara

Prefeito de Campos atrai mais dois vereadores para a base do governo

Anúncio | Da esquerda para a direita: os vereadores Nildo Cardoso e Abdu Neme, o prefeito Wladimir Garotinho e o vice Frederico Paes. (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Por MARCOS CURVELLO

As bancadas da Câmara Municipal de Campos passaram por uma reconfiguração nesta semana que alterou a correlação de forças na Casa de Leis. A migração dos vereadores Nildo Cardoso (União) e Abdu Neme (Avante), que integravam o bloco formado por oposicionistas e independentes, para a situação dá ao prefeito Wladimir Garotinho (sem partido) maioria simples no Legislativo, com 13 de um total de 25 votos, o que assegura maior governabilidade. A recomposição do apoio acontece após derrotas em plenário importantes para aliados do Executivo ao longo do último ano, incluindo a perda da presidência no biênio 2023-2024. O acordo de pacificação costurado recentemente entre os grupos políticos do prefeito e do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), deputado Rodrigo Bacellar (PL), sob as bênçãos do governador Cláudio Castro (PL), pode, inclusive, eventualmente permitir ao prefeito a obtenção de uma maioria qualificada, com dois terços (17) dos votos. Isso possibilitaria à situação destituir membros da Mesa Diretora, decidir extinção ou perda de mandato e reprovar pareceres do Tribunal de Contas do Estado (TCE), por exemplo. Mas, até lá, será necessário conter insatisfações tanto de governistas quanto da oposição com a negociação conduzida com Nildo e Abdu.
Prefeito | Wladimir Garotinho

A chegada de Nildo e Abdu à situação foi anunciada por Wladimir, por meio das redes sociais. O prefeito publicou, na última quarta-feira (1º) uma foto em que aparece junto do vice e dos vereadores. Na legenda, afirmou estar “alinhando as demandas com os novos integrantes da base do governo na Câmara”.

Líder da situação na Casa de Leis, o vereador Álvaro Oliveira (PSD) afirmou ver “com muito bons olhos”, a adição de Nildo e Abdu à bancada e afirma que a experiência dos dois veteranos estará a serviço da melhoria do atendimento à população campista.

“As chegadas de Nildo e Abdu só têm a contribuir com o esforço do prefeito Wladimir Garotinho em construir uma nova história para a nossa cidade. São vereadores experientes, de vários mandatos, conhecem a cidade, e vejo com muito bons olhos. É sinal de que o governo está acertando e fazendo o melhor para a população”, diz Álvaro.
Vice | Fred Paes, um dos articuladores

A bancada chegou a contar com 24 vereadores no início da Legislatura, mas se fragmentou ao ponto da redução à minoria após uma série de atritos entre Executivo e Legislativo iniciados com o envio à Casa de uma proposta de revisão do Código Tributário do Município que resultaria em aumento de impostos. A tentativa do ex-presidente da Casa, vereador Fábio Ribeiro (PSD), hoje secretário municipal de Obras e Infraestrutura, de cassar os 13 vereadores do bloco formado por oposição e independentes após ser derrotado em sua campanha para ser reconduzido ao comando da Mesa Diretora no segundo biênio sedimentou a resistência ao governo na Casa de Leis, que agora o prefeito Wladimir Garotinho tenta contornar.

A ampliação da base de apoio ao governo na Câmara promete ampliar a governabilidade e evitar derrotas em matérias ordinárias que dependam de maioria simples. O prefeito foi procurado para comentar o movimento, mas não havia retornado os pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.
Líder do Governo | Álvaro Oliveira

Negociações foram mediadas pelo vice-prefeito

O vice-prefeito Frederico Paes (MDB) foi o responsável por estabelecer as pontes entre os vereadores e Wladimir. De acordo com fontes familiarizadas com a negociação, Nildo vinha sendo sondado pelo governo desde antes da nova eleição para a presidência da Câmara no biênio 2023-2024, que ocorreu 30 de novembro de 2022, após a primeira votação, em 15 de fevereiro do mesmo ano, ter sido anulada pela Justiça, e resultou na segunda vitória do então líder da oposição, Marquinho Bacellar (SD). A migração, no entanto, só ficou decidida após a adesão de Abdu, o que voltaria a garantir à situação maioria simples.

Os primeiros sinais de que Wladimir, Nildo e Abdu chegaram a um entendimento surgiram no Diário Oficial (D.O.) do Município do dia 3 de fevereiro, quase um mês antes da foto divulgada pelo prefeito. A edição trouxe as nomeações de Hans Muylaert para a presidência da Empresa Municipal de Habitação (EMHAB) e de Gustavo Matheus para a superintendência de Relações Institucionais da secretaria municipal de Comunicação. As indicações seriam de Nildo, mas também endossadas por Abdu.
Vereador | Nildo Cardoso

Desde que Wladimir tornou pública a chegada dos vereadores à base do governo na Câmara, outras nomeações contemplaram aliados da dupla. Na última quarta-feira (1ª), o D.O. trouxe mudanças na EHMAB. Hans cedeu espaço na presidência a Marcelo Morgade, que foi assessor de Abdu na Câmara, e assumiu a vice-presidência no lugar de Alfredo Dieguez. Indicado de Nildo, Dieguez, por sua vez, foi para a secretaria municipal de Agricultura como superintendente para a Ceasa, projeto caro ao vereador.

Vereadores ressaltam compromisso com a população

À reportagem do J3News, Nildo afirmou que a pacificação entre os grupos políticos de Wladimir Garotinho e Rodrigo Bacellar, a não inclusão na discussão sobre o espaço que seria ocupado no governo por vereadores do bloco formado por oposicionistas e independentes e o desejo de contribuir para a qualificação da atuação do Executivo basearam sua decisão.
Vereador | Abdu Neme

“Foi selada uma paz em prol do município. Ficou acordado que não se mexeria na Câmara, pois todo o desgaste decorrente da tentativa de cassação dos 13 deixou cicatrizes. Então, houve uma segunda votação e Marquinho foi novamente eleito presidente. Vencida essa etapa, partimos para a discussão da governabilidade. As secretarias municipais de Trabalho e Renda e Meio Ambiente e a Fundação Municipal de Esportes foram oferecidas à oposição, mas Abdu e eu não fomos chamados para discutir quem ocuparia os cargos na pasta. Penso que, quando se discute uma coisa em um universo de 14 vereadores, que foi o número de votos que Marquinho teve, nós, que temos tempo na Casa, deveríamos ter sido incluídos”, diz Nildo, completando: “Com a experiência que temos, não podemos ir a reboque de gente com dois anos de Câmara. Temos muito mais a agregar. Inclusive agora com o governo. Vamos fazer o possível para a cidade avançar, como vem avançando”.

No entanto, o vereador garante que estar na situação “não é fazer tudo o que te mandam”.
Plenário da Câmara| Mudança na correlação de forças entre situação e oposição

“Apoiamento não significa fechar os olhos. É usar essa experiência que acumulamos para alertar o prefeito, quando necessário, para que o pior não aconteça. Pois a cidade hoje tem recurso, mas esse dinheiro tem que retornar na forma de bem-estar e serviços para a população. Governabilidade é isso, ajudar o governo atendendo a sociedade. Não é carguinho, não é varejar. Não temos interesse nisso. Queremos fazer o melhor da cidade”, crava o vereador, que aponta seu projeto para retomada do Ceasa e o lançamento do projeto “SOS Coração”, lançado na terça-feira (28) e apoiado por Abdu, que é cardiologista, como exemplos de devolutiva aos munícipes.

Procurado pela reportagem, o vereador Abdu Neme informou, por meio de sua assessoria, que sua decisão de compor a base do governo se alinha com sua postura na Câmara.

“Quem me conhece sabe que sou do diálogo, mas sempre fui independente. Votei e defendi várias matérias do governo que julgava importantes para a população. Quando o ambiente é propício ao diálogo, quem ganha é o município e a sociedade”, disse.

Insatisfação na oposição e na base

Embora seja celebrada pelo prefeito e pelo líder da bancada do governista na Câmara, a chegada de Nildo e de Abdu causou insatisfação tanto entre membros da oposição quanto da base. Segundo fontes que falaram à reportagem sob condição de anonimato, há, de um lado, a avaliação de que o acordo costurado individualmente pelos dois vereadores “fura a fila” de um entendimento mais amplo que estaria em andamento entre o governo e o bloco formado por independentes e oposicionistas desde a bandeira branca levantada por Wladimir e Rodrigo. Do outro, existe a percepção de que os recém-chegados estariam recebendo mais espaço no governo do que o destinado a aliados de primeira hora, a despeito da lealdade demonstrada desde o início da atual Legislatura.

Entre a oposição, a decisão de Nildo e Abdu de passarem a integrar a bancada do governo “não pegou nada bem”, diz uma das pessoas ouvidas. Outra afirma que os vereadores da base se movimentam para exigir condições de igualdade, já que não havia espaço no Executivo para eles, mas “surgiram dezenas de RPAs e diversos DAS” para a dupla. Uma reunião de insatisfeitos, inclusive, já teria ocorrido na tarde da última segunda-feira (27), no gabinete do vereador Leon Gomes.
Fonte:J3News

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