segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Fake news à moda antiga: grupo alvo da PF pagava até R$ 5 mil para difamar rivais em filas de banco e padarias; entenda

A Polícia Federal deflagrou na quinta-feira no Rio a Operação Teatro Invisível para desarticular uma organização criminosa que propagava informações e notícias falsas sobre candidatos em campanhas eleitorais para prefeitos. Quatro suspeitos de participarem do esquema foram presos preventivamente. Segundo as investigações, eles atuam desde 2016 e já influenciaram em pelo menos três eleições em 13 municípios fluminenses.

O grupo, segundo as investigações, montou um esquema de contratação de pessoas que recebiam instruções de coordenadores para propagar fake news sobre um determinado candidato. Os contratados, que recebiam cerca de R$ 2 mil mensais cada, se infiltravam em locais com aglomerações de pessoas como pontos de ônibus, padarias, filas de bancos, bares e mercados, para difundir aos eleitores falsas afirmações sobre os adversários políticos de seus contratantes. Os coordenadores do esquema tinham um salário de R$ 5 mil.

A PF ainda investiga se durante o período eleitoral, esses coordenadores deixavam seus cargos públicos e nomeavam laranjas e funcionários fantasmas para substitui-los.

Os propagadores de fake news tinham que prestar contas diariamente aos chefes, elaborando relatórios das atividades, como a quantidade de eleitores abordados por dia, número de votantes em cada candidato e o total de eleitores convertidos para o candidato beneficiário do esquema criminoso.

— A profusão de notícias falsas pela internet deixa marcas. Já uma difusão de informações falsas no campo, além de dar mais credibilidade, ela não deixa suas marcas — diz o delegado Cláudio Monteiro. — Isso atenta contra a democracia, contra o Estado Democrático e contra as eleições, porque o eleitor vai às urnas acreditando naquelas informações falsas faz aquilo que não seria a vontade dele.

Atuação no estado do Rio

Foram presos Bernard Rodrigues Soares, Roberto Pinto dos Santos, André Luiz Chaves da Silva e Ricardo Henriques Patrício Barbosa. Eles teriam atuado nas cidades de Araruama, Belford Roxo, Cabo Frio, Carapebus, Guapimirim, Itaguaí, Itatiaia, Mangaratiba, Miguel Pereira, Paracambi, Paraty, São João de Meriti e Saquarema.

Os agentes cumpriram os quatro mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Juízo da 8ª Zona Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro. A PF também conseguiu o bloqueio de R$ 1 milhão de cada investigado. Eles são investigados por organização criminosa, desvio de funcionários públicos para a atuação no grupo criminoso, uso de “laranjas” para burlar incompatibilidades com o exercício da função pública, lavagem de dinheiro, assédio eleitoral e crimes eleitorais relacionados a desinformação.

Uma das prisões foi feita no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. O preso dirigia um carro de luxo blindado. Ao todo, a PF apreendeu R$ 188 mil em dinheiro vivo, outros dois veículos de luxo blindados, documentos e dispositivos de armazenamento eletrônico.

As investigações revelam que os integrantes da quadrilha moram, em sua maioria, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, mas isso não impediu de atuarem em outras cidades do Rio. Os chefes da quadrilha já chegaram a ocupar funções públicas em diversas cidades Rio.

Bernard Rodrigues Soares, hoje presidente municipal do União Brasil em São João de Meriti, já foi secretário de Comunicação e Eventos da cidade e superintendente de Comunicação da prefeitura de Miguel Pereira. Em 2021, recebeu uma moção de aplausos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) proposta pelo deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), que nesta eleição concorre a prefeito em São João.

Fonte: O Globo

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