sábado, 28 de junho de 2025

Amor ou Síndrome de Estocolmo Emocional? Quando o Apego se Confunde com Afeto

Nem todo relacionamento disfuncional é fácil de reconhecer — principalmente quando quem está dentro dele se sente preso, mas acredita estar amando. Em muitos casos, o que é confundido com amor pode, na verdade, ser um vínculo criado a partir de dor, manipulação e necessidade emocional. É aí que entra o conceito da chamada “Síndrome de Estocolmo emocional”.

Tradicionalmente associada a vítimas de sequestros que desenvolvem empatia ou afeto por seus sequestradores, a Síndrome de Estocolmo pode, metaforicamente, ser aplicada a relacionamentos afetivos onde uma das partes se apega ao agressor emocional — alguém que manipula, humilha, controla ou agride psicologicamente — e, mesmo assim, é visto como indispensável. A vítima, mesmo sofrendo, sente-se incapaz de sair da relação e, por vezes, passa a justificar ou minimizar os abusos.

Quando o amor vira prisão
Em relacionamentos assim, há uma inversão de percepção: o parceiro que deveria ser fonte de afeto, segurança e companheirismo se torna motivo de ansiedade constante, medo e confusão mental. No entanto, a pessoa envolvida emocionalmente encontra explicações para permanecer: “ele não é sempre assim”, “ela tem um passado difícil”, “é só uma fase ruim”. Essas justificativas funcionam como mecanismos de defesa que preservam o vínculo, mesmo que ele cause sofrimento.

A confusão se aprofunda porque nem tudo é dor o tempo todo. O abusador emocional alterna entre fases de afeto e fases de frieza, agressividade ou distanciamento. E é justamente essa intermitência que fortalece o vínculo — porque a vítima se agarra aos raros momentos bons e acredita que pode “voltar a ser como antes”. Isso cria uma dependência emocional poderosa, onde a ausência do outro causa mais dor do que a presença tóxica.

Os sinais de um vínculo emocional distorcido
Nem sempre é fácil perceber que se está vivendo uma síndrome de Estocolmo emocional. O primeiro passo é reconhecer os sinais:

Justificar comportamentos inaceitáveis: agressões verbais, controle excessivo, ciúmes doentios ou isolamento são relativizados.

Medo de perder a pessoa, mesmo sofrendo com ela: a dor de estar com o outro é grande, mas a ideia de separação parece insuportável.

Culpar-se pela violência emocional: a vítima acredita que “provoca” ou “merece” o tratamento que recebe.

Sentir que só o outro pode “salvá-la”: mesmo sendo a origem do sofrimento, o parceiro é visto como alguém essencial para a cura.

Perda de identidade e autoestima: com o tempo, a pessoa se sente apagada, confusa, menos capaz e totalmente dependente da validação do outro.

Por que isso acontece?
A origem desse tipo de vínculo costuma estar ligada a carências emocionais profundas, traumas de infância, baixa autoestima e a repetição de padrões afetivos destrutivos. Pessoas que cresceram em ambientes instáveis, com amor condicionado ou negligência afetiva, têm mais chances de normalizar relações desequilibradas. Em vez de buscarem vínculos saudáveis, elas se sentem mais confortáveis em relações que reproduzem a dor que já conhecem.

Além disso, o medo da solidão é um fator determinante. Há quem prefira permanecer em um relacionamento doloroso do que encarar o vazio emocional de um rompimento. É nesse medo que muitos agressores emocionais se sustentam: sabem que, ao alternar afeto e crueldade, criam um ciclo viciante que prende o outro emocionalmente.

Amor verdadeiro ou apego tóxico?
A principal diferença entre amor e a Síndrome de Estocolmo emocional está na liberdade. O amor liberta, constrói, faz crescer. Já o vínculo doentio aprisiona, confunde e destrói a autoestima. É possível amar alguém que já nos feriu? Sim. Mas é possível permanecer saudável nesse tipo de relação? Dificilmente.

Não se trata de julgar ou rotular quem vive esse tipo de apego, mas sim de oferecer um olhar compassivo e consciente. Muitas vezes, quem está nessa posição precisa de ajuda externa — de amigos, familiares, terapeutas — para começar a enxergar a realidade sem o filtro da idealização. bellacia

O caminho para a libertação
Romper esse tipo de laço não é simples. Envolve dor, luto e um trabalho profundo de reconstrução interna. É preciso resgatar o amor-próprio, reconstruir a autoestima e entender que merecer amor não significa aceitar qualquer tipo de relação. Buscar ajuda terapêutica é um passo fundamental para compreender os padrões afetivos, desenvolver limites saudáveis e aprender a reconhecer o que é — de fato — amor.

Em tempos em que se romantiza tudo nas redes sociais, inclusive relações desequilibradas, é importante lembrar que amor não é sofrimento. Que ficar por medo não é prova de afeto. E que, às vezes, a maior prova de amor é por si mesmo — ao escolher partir.

Fonte: Izabelly Mendes.

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