Cidade de Campos (Foto: Léon Jr.)
Ao longo do processo eleitoral que antecedeu o primeiro turno das eleições municipais de 2020, o Jornal Terceira ouviu os anseios da população campista em relação às principais áreas da administração pública, os retratou em uma série de reportagens, e foi em busca das soluções prometidas pelos 11 candidatos que disputam a prefeitura da maior cidade do interior do Estado.Saúde, educação, orçamento, transporte público, desenvolvimento humano e social, cultura… foram algumas pautas discutidas com os prefeitáveis, já que, a partir de janeiro de 2021, estará nas mãos de um deles o poder de administrar o município.As reportagens tiveram o intuito de dar publicidade aos planos de governo dos candidatos, além de debater os principais problemas da cidade e, desta forma, elucidar eventuais dúvidas dos eleitores.Economia e orçamentoNão bastasse a crise financeira enfrentada pela cidade nos últimos anos, em grande parte, impulsionada pela queda no valor do petróleo que, consequentemente, derrubou o orçamento da cidade, a pandemia do novo coronavírus ajudou a piorar o que já estava complicado. Um dos desafios do prefeito eleito, segundo especialistas, será redirecionar a economia da cidade, que ainda é dependente das indenizações provenientes da exploração dos royalties do petróleo. “A região vai ter que se acostumar a repensar sua atividade a partir de seu potencial. E Campos tem potencial na agricultura, na agricultura familiar, como setor de serviços e como área educacional e de serviços de saúde dealta resolutividade. Campos tem saída e ela está em repensar o seu potencial esquecido nesse tempo de fartura da indenização de petróleo, e que gerou uma certa displicência de seus recursos genuínos”, pontuou o economista Ranulfo Vidigal em uma das entrevistas da série que discutiu os problemas da cidade e os desafios dos prefeitáveis.Na mesma reportagem, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Felipe Quintanilha, informou que em 2015 os royalties e participações especiais representaram 54,9% do orçamento. Em 2017, primeiro ano da gestão do prefeito Rafael Diniz, este percentual já havia caído para 29,8%. Em 2020, as receitas do petróleo terão respondido por apenas 17% do orçamento.Terminal AB | Iluminação precária e banheiros sujos (Foto: Carlos Grevi)
Transporte públicoO novo sistema integrado de transporte entrou em vigor no dia 13 de junho de 2019, um sábado. O último dia de circulação das vans do transporte alternativo foi no dia anterior (12), já que no dia 13 os ônibus assumiram provisoriamente todas as linhas urbanas e distritais. A medida durou até que os permissionários habilitados por processo licitatório integrarem o sistema alimentador. No dia 19 de agosto de 2019, os permissionários começaram a atuar. No entanto, o serviço, do jeito que vem sendo oferecido, tem desagradado parte dos usuários.O estudante Luan Lucas, de 21 anos, usa o Terminal AB três vezes por semana e disse estar insatisfeito. Ele vem de Campo Novo de van, para no local e apanha um ônibus em direção ao Centro. E, no fim do dia, faz o caminho inverso.Para ele, a estrutura improvisada não oferece o mínimo de conforto. “Não tem lugar para sentar, a iluminação é precária e a situação piora muito em dias de chuva. A estrutura não comporta todo mundo e muita gente acaba se molhando”, reclamou o estudante, que falou ainda da sujeira dos banheiros. A queixa de Luan também foi mostrada em reportagem especial pelo Jornal Terceira Via.Desenvolvimento humano e socialVulnerabilidade | Moradores de rua (Foto: Carlos Grevi)
Basta dar uma circulada pelos pontos centrais da cidade para perceber o aumento da população de rua. Mas a questão não fica restrita à observação. Os números apontam neste sentido. De acordo com dados da Secretaria do Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania, há mais de 45 mil famílias no município em situação de extrema pobreza, com renda de zero a R$ 89 por mês.Os números mostram, segundo especialistas, que 20% da população campista está em condições precárias de alimentação e sobrevivência. Para a assistente social e professora da Universidade Federal Fluminense, Érica Almeida, os números da fome e pobreza em Campos preocupam.A acadêmica compara os números da pobreza no município com épocas anteriores. “Em 1991, depois da chamada década perdida (1980), a extrema pobreza em Campos representava15,66%. Em 2000 ela caiu para 6,47%, e, em 2010, atingiu 3,6%. Portanto, contar com 21% da população do município nessa situação vai exigir solidariedade social e muitas políticas públicas entre setores para enfrentar esse problema, e não ajuste fiscal e privatização dos serviços e bens públicos essenciais”, defende.Servidor públicoSegundo a Prefeitura de Campos, o município possui cerca de 20 mil servidores, sendo 4.600 aposentados e pensionistas. Conforme mostrou o jornal, também em reportagem especial para as eleições, a categoria consome cerca de R$ 1 bilhão por ano dos cofres públicos, mas ainda assim, está sem reposição salarial há quatro anos e sem reajuste há oito. Os servidores sentem no bolso a crise de caixa do Executivo. “Todos os servidores públicos municipais estão com as letras de promoção e progressão em atraso há seis anos. Isso tem trazido um déficit salarial muito grande para os servidores, chegando à perda de 30% do salário em média. Neste ano de pandemia, foram obrigados a amargar parcelamento dos proventos com datas incertas”, afirma Elaine Leão, presidente do Sindicato dos Profissionais Servidores Públicos Municipais de Campos (Siprosep).Hospital Geral de Guarus é alvo de reclamação de usuários (Foto: Silvana Rust)
SaúdeMelhorar a estrutura física de algumas unidades que compõem a rede pública de saúde de Campos, como o Hospital Geral de Guarus (HGG); regularizar os repasses de recursos aos hospitais contratualizados, que atendem à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS); equipar Unidades Básicas de Saúde (UBSs); estruturação da Estratégia Saúde da Família (ESF), antigo Programa Saúde da Família (PSF); e ampliar atendimento da rede básica foram algumas das soluções apontadas pelos postulantes à prefeitura para melhorar a saúde na cidade.EducaçãoQuanto maior a rede, maiores os desafios. A rede pública municipal de Campos, segundo a Secretaria de Educação, possui cerca de 54 mil alunos e aproximadamente cinco mil professores, distribuídos em 236 unidades escolares (155 escolas e 81 creches). Caberá à próxima gestão retomar o processo educacional interrompido de forma abrupta por causa da pandemia do novo coronavírus. Não fosse este contratempo suficiente, o prefeito eleito e sua equipe terão que lidar com problemas estruturais da própria rede, como elevar o desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O desempenho da rede em 2019 já não foi dos melhores, mas, em 2020, por uma falha humana, a nota de Campos no Ideb não foi computada. Foi a primeira vez que isso aconteceu em 15 anos.Alagamento na área central de Campos (Foto: Redes sociais)
Infraestrutura Campos, que teve o sétimo maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2013 e é até hoje o segundo maior do Rio de Janeiro, possui 100% de atendimento urbano de água e 90% de atendimento urbano de esgoto. Mas, vem perdendo posições no Ranking do Saneamento Básico do Instituto Trata Brasil, devido aos inúmeros distritos em área rural. Passou da 34ª posição, em 2018, para a 47ª em 2020. No Estado, fica atrás de Niterói (18ª) e Petrópolis (20ª).Mas, é na temporada de chuvas que os transtornos se tornam mais visíveis, com alagamentos na região central e cheias dos rios Paraíba, Muriaé e Ururaí, que eventualmente rompem diques e causam cheias e enchentes, deixando desabrigados e desalojados em comunidades ribeirinhas, como as localidades de Três Vendas e Ururaí, por exemplo.Outra reclamação comum em relação à infraestrutura da cidade diz respeito à malha viária do município. As operações tapa buracos promovidas pela Prefeitura não conseguem acompanhar a velocidade da deterioração das vias, castigadas pela circulação, em perímetro urbano, de caminhões de todos os portes, de passagem pelas BRs 101, que traz para dentro da cidade o tráfego com destino tantoà capital quanto ao Espírito Santo; e 356, que dá acesso à Região Noroeste Fluminense e ao Porto do Açu.Fonte Terceira Via