Macaé, Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana poderão abrigar 17 usinas de energia movidas a gás
Por Ocinei Trindade
Termelétrica Marlim Azul | Obras da Unidade em Macaé
As cidades de Campos dos Goytacazes, São João da Barra e Macaé contam com usinas termelétricas ligadas ao Sistema Elétrico Nacional. São Francisco de Itabapoana já possui licença prévia para construção de uma unidade. Investimentos no setor colaboram com o abastecimento de energia do país, além de criar oportunidades de empregos e movimentar a economia da região. Macaé, por exemplo, terá sua terceira usina termelétrica a partir de 2023. Outras 10 unidades têm licenças prévias para serem erguidas nos próximos anos. Isto fará da região um dos maiores parques energéticos do país, com capacidade semelhante ao da hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu. Milhares de empregos deverão ser criados. Apesar da expectativa de desenvolvimento, há setores preocupados com impacto ambiental e o alto custo para manter as termelétricas que acabam refletindo no bolso do consumidor, na hora de pagar a conta de luz.
O desenvolvimento econômico está diretamente ligado ao consumo de energia elétrica, responsável pelo funcionamento da indústria, comércio, agricultura, universidades e de residências, entre outros segmentos. No Brasil, as usinas hidrelétricas representam 62% da capacidade instalada de geração de energia elétrica do país. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as usinas termelétricas, solares, eólicas e nucleares respondem por 38%. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) o Estado do Rio de Janeiro possui sete termelétricas licenciadas pelo órgão, situadas em Macaé (três termelétricas); São João da Barra (duas); São Francisco do Itabapoana (uma); e Campos dos Goytacazes, unidade ligada a empresa Furnas. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também licencia usinas termelétricas.
GNA II | A companhia Gás Natural Açu está construindo a UTE GNA II, com 1.672 MW, sufi ciente para fornecer energia para 14 milhões de residências
Para o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Vianna, as duas termelétricas de Macaé (Termomacaé e UTE Norte Fluminense), a nova unidade Marlim Azul prevista para começar suas operações em janeiro de 2023, além de 10 usinas licenciadas previamente para os próximos anos, representam a geração de uma vasta cadeia de negócios. “A produção total de todas as usinas implantadas chegará a 14.5 gigawatts de potência. Em geração de energia, isto corresponde à produção da hidrelétrica Itaipu Binacional”, comenta. Os investimentos em Macaé empolgam o gestor:
Secretário de Desenvolvimento Rodrigo Vianna
“Isto é devido à produção de energia em si e à atração de outras indústrias a partir dos seus subprodutos, como indústria química, fertilizantes, tintas. Há o desenvolvimento da rede de serviços e produtos para atenderem as demandas destes segmentos. A geração de empregos é significante demais, começando pela construção civil até as atividades mais específicas no mercado de energia. Macaé já possui uma robusta infraestrutura instalada na cadeia de serviços, resultado de sua consolidação no mercado do petróleo. A Capital Nacional do Petróleo se prepara de forma planejada neste governo, para se consolidar como a Capital da Energia”, resume o secretário.
Engenheiro de produção e consultor de petróleo e energia, Isaias Machado
Para o engenheiro de produção e consultor na área de petróleo e energia, Isaias Machado, o investimento em termelétricas em Macaé promove desenvolvimento regional. “Considero excelente. Macaé possui acesso a ramais importantes de fornecimento de gás, que é a matéria prima para produção de energia elétrica; possui acesso ao sistema elétrico interligado através das linhas de transmissão em 138 e 345 KW (alta tensão). Isso permite contribuir com a segurança energética nacional. Macaé tem recursos hídricos para suportar o consumo necessário para geradoras de grandes portes; disponibilidade de mão de obra técnica, centro de formação de técnicos e engenheiros; grande facilidade no fornecimento de bens, serviços e logística”, afirma.
Uma das unidades termelétricas em operação em Macaé
Economia e meio ambiente
Em 2021, de acordo com o Ministério de Minas e Energia, o aumento do uso das usinas termelétricas durante a crise hídrica no país custou aos consumidores R$ 13,1 bilhões. O cálculo é feito pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O aumento no custo da geração de energia é repassado aos consumidores por meio da bandeira tarifária, taxa extra aplicada à conta de luz. Setores da sociedade se preocupam com o custo elevado para manter essas usinas quando acionadas, além de temerem impactos ambientais.
Luiz Fernando Mendes é doutor em Ciências Naturais pela Uenf
Doutor em Ciências Naturais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense, Luiz Fernando Mendes, encara com cautela a implantação das unidades de geração de energia termelétrica:
“Precisa ser avaliada a partir dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, e debatida em conjunto com a sociedade civil organizada dessas cidades para buscar um equilíbrio dos três aspectos apresentados. A vantagem da utilização desse tipo de usina está relacionada com a segurança energética, pois ela pode atender demandas emergenciais a curto e médio prazo, em momentos de crises hídricas como nos anos de 2013 a 2015, e no ano passado. A desvantagem é que a maioria das usinas termelétricas utiliza combustíveis de origem fóssil, como o gás natural. Com isso, “sujamos” a nossa matriz elétrica, isso porque nela predomina as fontes renováveis de energia”, comenta.
Engenheiro e físico Roberto da Silva é professor do IFF
De acordo com o engenheiro elétrico e físico Roberto da Silva, professor do Instituto Federal Fluminense, a região para ser favorecida pelo desenvolvimento e por novos empreendimentos, necessita ter produção de energia elétrica disponível. “É importante a criação de empregos, fortalecimento do comércio e rede hoteleira. O uso de termelétricas tem como desvantagem dois aspectos: o custo da energia é mais caro; e o impacto ambiental, em virtude de liberação de gases aquecidos para a atmosfera, contribui com o efeito estufa e o aquecimento global”, avalia.
O ambientalista Aristides Soffiati desaprova a criação de usinas termelétricas. “Parece uma irracionalidade do ponto de vista puramente econômico. O tempo das termelétricas a carvão, óleo e gás já passou. Os cientistas demonstraram que todo combustível fóssil emite CO2 e contribui para mudanças climáticas que ameaçam a própria economia que contribui para elas”. Já o economista Ranulfo Vidigal considera positivo o investimento:
“Com novo ciclo de mudanças climáticas, volume de chuvas no Brasil de modo instável, o papel das termelétricas na geração de energia como alternativa ganha força. De um modo geral, vai gerar empregos na construção civil, e muito pouco emprego depois, pois o nível de mecanização para o funcionamento dessas unidades é enorme. Entretanto, é muito positivo porque gera valor adicionado fiscal para todos os municípios, com incidência positiva na arrecadação de ICMS no futuro”, diz Ranulfo.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Macaé, Rodrigo Vianna, diz que avalia com lucidez e ponderação sobre impactos ambientais em relação aos investimentos. “Cada projeto tem sido tratado com toda a segurança jurídica devida, em parceria com seus respectivos órgãos reguladores. As térmicas licenciadas aguardam os próximos leilões da Aneel para que seus cronogramas sejam dimensionados. As licenças ambientais, no que compete ao município estão sendo emitidas à medida que as fases de implantação de cada empreendimento tenham avanços. O licenciamento destes empreendimentos têm, em sua maioria, as licenças emitidas junto ao Estado e à União”, explica.
São Francisco de Itabapoana e São João da Barra
O Parque Termoelétrico Porto Norte Fluminense tem licença prévia do Inea e está previsto para ser implantado em São Francisco do Itabapoana. Deve gerar mais de 4.000 vagas de trabalho, sendo 840 empregos diretos e 3.200 indiretos, nas fases de construção e operação. Um de seus idealizadores é o empresário Paulo César Henrique. Ele não informou sobre o início da construção da unidade em SFI. Inicialmente, as operações estão previstas para começarem em 2025.
UTE GNA1 | Unidade funciona nas instalações do Porto do Açu em São João da Barra, desde setembro de 2021
Já em São João da Barra, em setembro de 2021, foi iniciada a operação comercial da GNA I, usina termelétrica movida a gás natural localizada no Porto do Açu. Ela possui 1.338 MW de capacidade instalada, o suficiente para fornecer energia a seis milhões de residências. O empreendimento orçado em mais de um bilhão de dólares contribuirá para a segurança energética do Sistema Interligado Nacional (SIN).
A companhia Gás Natural Açu vai construir ainda a UTE GNA II, com 1.672 MW de capacidade instalada, suficiente para fornecer energia para 14 milhões de residências. O investimento total planejado para o complexo de gás e energia da GNA é de cerca de 5 bilhões de dólares nos próximos anos.
Fonte: Terceira Via